Nascido Herasmus Gerritszoon em 1469-1536, Rotterdam, Holanda, filho de pai padre, Geraldo, fato comum à época que o Concílio de Trento (1545-1562) mudará e, mãe filha de um médico,
Erasmo de Rotterdam mais tarde assumiria (por razão que ainda se ignora) o nome de Desidério (Desiderius = desejo), Erasmo passará como cognome do qual é mais conhecido.
Grande humanista, terá sua vida marcada pela luta contra pobreza e a intolerância, sobretudo religiosa, com ânsia pela liberdade intelectual à qual o fez se tornar um religioso da ordem dos agostinianos singular, em particular por execrar os costumes e tradições viciosas da classe religiosa medieval de então, pela pobreza sórdida da qual teve repugnância, caso de sua passagem pelo Collège de Montaigu (1495-1498) em Paris. Uma das muitas cidades e instituições que conheceria em sua vida errática, sempre em busca do conhecimento amparado por mecenas e amigos. Por influência de um outro mecenas, Lord Montjoy, seguirá para a Inglaterra que o marcará profundamente pelos laços afetivos que resultam em sua amizade com Thomas More e John Colet, este, lhe estimulará à leitura de Pico della Mirandola, orientando-o para a edição crítica do Novo Testamento.
Em 1500, na primavera está em Paris, publicando - "Adagia" - coletância de Provérbios que ganhará edições sucessivas até chegar a explicar 4 mil provérbios clássicos. Em julho de 1501, passará breve temporada no castelo de Tournehen (países Baixos) com Batt, seu amigo. Iniciará o estudo do grego com dedicação intensa, no outono estará em Saint-Omer, França, onde conhecerá o teólogo Jean Vitrier que em 1519 o inspira a autoria de
Enchiridion Militis Christiani ("Manual do Militante Cristão"), uma resposta a "Imitação de Cristo" de Thomas de Kempis e precursor de "Introdução à Vida Devota" de Francisco de Sales. Foi aluno dos Frades de vida comum, noviço e professor dos agostinianos (mesma Ordem de Lutero) e estava impregnado da
Devotio Moderna, devoção moderna ou nova maneira de encarar a prática cristã, a mesma que influenciará intensamente todos os religiosos, em particular no século XVII com a "Escola Francesa". Vive os anos 1503 e 1504 entre Lovain e Antuérpia, quando seu prior convoca seu retorno para Steyn, o que não o faz por conta da permissão concedida para que continue seus estudos.
Em 1504 está em Paris de onde segue em 1505 para Inglaterra, quando conhecerá novos humanistas e fará outras amizades, em 1506 retorna a Paris a caminho da Itália, passando por Lyon e depois Turim, onde obterá sua
honoris causa, doutorando-se em Teologia. Ao assistir a entrada triunfal do Papa Júlio II (della Rovere) em Bolonha, o criticará violentamente no panfleto
Julius exclusus e coelis ("Júlio excluído do céu"), atribuído a ele e ao qual sempre negou (Huizinga). Será pressionado por vários clérigos cardeais humanistas a permanecer na Cidade Eterna (Roma), dado seu prestígio e sua ímpar e luminosa presença. Em 1507, estará em Veneza com o impressor Aldous Manatius, estada de intensa atividade literária à qual traduzirá e estudará Plauto, Terêncio, Sêneca, Platão, Plutarco e Píndaro, entre outros. Aprenderá o hebraico e aramaico, sem jamais ter a mesma desenvoltura nestes como terá no grego e no latim. Sairá de Roma em julho de 1509 a caminho da Suíça, atravessando os Alpes pelo caminho antigo, o vale de Chiavenna e a garganta de Septimer, rota conhecida pela qual passam os exércitos alemães ou imperiais quando descem para a Itália. É neste caminho que à cavalo, comporá "
Elogio da Loucura" escrito em poucos dias e que, mais tarde, ao chegar a Londres na casa de Thomas More, dedicará a ele sua célebre obra. Obterá uma cátedra em Cambridge onde ensinará grego e teologia, lutando sempre com a pobreza, converterá o reitorado de Aldington, Kent, em uma pensão anual à qual abrandará suas necessidades financeiras. Na Inglaterra trabalhará a edição crítica do Novo Testamento. De sua autoria escreverá ainda "Adágios" (que será editada na Basiléia pelo célebre impressor Froben, do qual terá longa e promissora colaboração), intencionando também uma nova edição crítica do Novo Testamento (1516) e publicar "São Jerônimo", cujo trabalho lhe inspira e tem como referência. Àquela altura segundo as palavras de seu biógrafo e historiador Johan Huizinga "
Erasmo se tornou o centro da prática científica da teologia, visto que já era o centro e a pedra de toque da erudição clássica e do gosto literário". Será conselheiro de duques e dos reis mais poderosos de sua conturbada época como Carlos V, rei da Espanha e da Alemanha, motivado por isso a escrever
Institutio Principis Cristiani ("Educação do Príncipe Cristão") sendo ainda assendiado por outros que tentam atraí-lo aos seus domínios, caso de Francisco I, rei da França. À parte, sua sempre intensa atividade literária como autor, tradutor, praticará uma extensa correspondência com as mais diversas personalidades de sua época por toda a Europa, ocupando lugar de destaque na tensa questão do conflito religioso que resultou na Reforma, à qual Lutero por um lado e Roma por outro, tentarão coaptá-lo. Contudo, Erasmo permanece crítico a ambos e decide permanecer na Igreja, respodendo a Lutero que lhe pedira que não escrevesse contra ele e, se assim o fizesse, que contra ele também o faria. Disto resultou
De Libero Arbitrio à qual critica a Reforma na raiz. Escreverá ainda neste contexto o tratado
Querela Pacis expondo a fundo o clamor à Paz, vilipendiada e rejeitada por todas as nações. É o clamor da humanidade e cristandade dilaceradas pelas guerras, reafirmando sua posição de tolerência acima de todas as diferenças e divergências. Difícil definir ou resumir a vida de uma personalidade como Erasmo e, mais ainda, de seu papel e contribuição tão vasta quão valiosa, talvez das mais significativas na história moderna, cujo influência e presença são absolutamente, ainda hoje, marcantes e vivas.
Em cognomes como "pai da Europa" e "precursor do espírito moderno", justificam Erasmo que se afirmou perenemente como o ícone insuperável do humanismo de então e, de todos os tempos.