quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

"Silogismos da amargura", de Emil Cioran

Publicado originalmente em 1952, Silogismos da amargura é hoje um dos títulos mais traduzidos de Emil Cioran, ao contrário do que se poderia esperar diante da reação fria que suscitou inicialmente. 

Trata-se de obra que se debruça sobre diversos temas: a linguagem., o tempo, o Ocidente, a religião e a história, entre outros. Apesar do título, não se pode dizer que Cioran tenha escrito silogismos "puros" ou categóricos, visto que falta a boa parte das frases enfeixadas no volume aquela precisão de raciocínio que se espera deste tipo de argumento lógico. Algumas dessas frases, por exemplo, chegam a flertar com a poesia: "Entediar-se é mascar tempo" ou "Todas as águas são cor de afogamento".

Para finalizar, vale destacar o que diz o próprio autor sobre a obra em carta enviada ao tradutor brasileiro [1]: "Estes Silogismos, publicados em 1952, passaram durante muito tempo despercebidos. Desde que apareceram em edição de bolso, seduziram os jovens. Só uma geração desiludida poderia se entusiasmar por uma visão tão negativa da história. Só da história? Da existência em geral. É preciso ter a coragem de reconhecer que a vida não resiste a uma interrogação séria e que é difícil, e mesmo impossível, atribuir um sentido ao que visivelmente não comporta um".

[1] CIORAN, E. Carta ao tradutor, In: CIORAN, E. Silogismos da amargura. Tradução de José Thomaz Brum. Rio de Janeiro: Rocco, 2011

Emil Cioran (1911-1995)


A seguir apresentamos um resumo biográfico sobre o  pensador romeno Emil Cioran, autor da obra do mês. O texto foi retirado do site oficial do filósofo - http://www.cioran.eu/ (site multilíngue)

"O romeno Emil Cioran nasceu no pequeno vilarejo de Rasinari, situado na região da Transilvânia, em 8 de abril de 1911. Segundo filho de um casal de religiosos (seu pai era um cura Ortodoxo e sua mãe, líder da comunidade de religiosas locais), teve uma infância feliz e pacata pelos bosques e campos da região, ao qual, na sua maturidade iria se referir como sendo o "paraíso", e o qual foi forçado a abandonar, logo cedo, para iniciar os estudos em um Liceu na cidade próxima de Sibiu-Hermannstadt. Anos depois, transfere-se para Bucareste, onde ingressa na Faculdade para estudar Filosofia e Letras.

Sua juventude foi marcada basicamente por dois fatos, que repercutiram profundamente em sua vida e obra posteriores. Por um lado, a intensa crise de insônia que o consumiu durante anos a fio, quase chegando a levá-lo ao suicídio - e da qual resultou sua primeira obra, escrita ainda em romeno, Pe Culmile Disperarii ("Nos Cumes do Desespero"). Por outro, seu envolvimento com a Guarda de Ferro, movimento político de extrema direita que defendia a libertação da Romênia e possuía caráter fortemente anti-semita, pelo qual Cioran veio posteriormente a se arrepender de ter-se deixado seduzir.

Em 1937, decide mudar-se para Paris com a intenção inicial de desenvolver uma tese sobre Bergson (que nunca terminou), e acaba por instalar-se lá definitivamente. Após seis livros escritos em romeno e publicados em seu país de origem, Cioran adota então o francês como língua oficial: o Précis de Decomposition ("Breviário de Decomposição"), publicado em 1949 pela Gallimard e marco inaugural de sua conversão lingüística, rende-lhe, dois anos depois, o prêmio Rivarol (tendo no júri nomes ilustres como André Gide e André Maurois), o primeiro e último que aceitou.

Considerado por alguns o maior prosador da língua francesa desde Paul Valéry, e chamado pela crítica, entre outras coisas, de 'pensador crepuscular', 'arauto do pessimismo', 'cínico fervente', 'cavaleiro do mau-humor', Cioran se dedicou a falar sobre os temas que o preocuparam e atormentaram ao longo da vida: a solidão, o tédio, a morte, o sofrimento, o ceticismo e a fé, Deus e o problema do mal. Caminhando nas fronteiras entre a filosofia, a religião, a literatura e a história, deixou uma contundente obra que está em fina sintonia com o itinerário de sua vida, marcada pelo trágico e o irônico, o incompleto e o fragmentário, o paradoxal e o absurdo. Alguns de seus títulos são: Syllogismes de L´amertume ("Silogismos da Amargura"), L´inconvénient D´Être Né ("O Inconveniente de Ter Nascido"), La Chute Dans Le Temps ("A Queda no Tempo"), La Tentation D´Exister ("A Tentação de Existir"), Histoire et Utopie ("História e Utopia") e Ecartèlement ("Despedaçamento"). Cioran faleceu em Paris, no dia 20 de junho de 1995, acometido de Alzheimer."

Além do pequeno resumo acima, recomendamos ainda uma série de cinco pequenos vídeos que estão no Youtube e que formam parte de um documentário dedicado a Cioran, cujos links apresentamos a seguir: