sábado, 30 de abril de 2011

Ernesto Sábato (1911-2011)

Neste sábado, faleceu em Buenos Aires o escritor argentino Ernesto Sábato (1911-2011), autor de trajetória peculiar que, das ciências exatas (Física), se tornou pouco a pouco "homem de letras" com obras interessantes e geniais como O túnel (1948) e Sobre heróis e tumbas (1961), que lhe trouxe o definitivo reconhecimento literário, além de outros títulos.
Em seus últimos quase 20 anos de vida andava com a saúde bastante debilitada, cego inclusive, o que naturalmente afetou seu ofício de escritor. Cabe notar que a cegueira também acometeu a seu contemporâneo e conterrâneo Jorge Luis Borges (1899-1986). Aliás, Sábato se reuniu com Borges, através de uma iniciativa do jornalista Orlando Barone na década de 70, para uma série de encontros, a fim de debaterem entre eles, mediados por Barone, uma série de temas, curiosamente atuais até para os dias de hoje, à parte alguns mais nostálgicos até para a própria época. Nada disso, porém, torna a leitura da obra que resultou de tais encontros menos interessante.
No Brasil saiu publicada pela editora Globo (2005, Org. Orlando Barone, 173 págs, R$ 32,00) uma prova inconteste do que pode resultar de encontros (mesmo informais) de dois grandes e brilhantes autores, tão diferentes entre si, e que permanecerão para a posteridade, ou a eterna atualidade da literatura.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

"Poemas de ausência", de Luciana Tonelli

Num dos exemplares do "Suplemento Literário", um periódico editado pela Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais (que sempre recebo atrasado e dessa vez veio grafado "Suplemgnto Literário"...), encontrei os poemas de Luciana Tonelli e gostei. Dela conheço apenas algumas linhas publicadas sob o título de "Poemas de ausência" e o fato de ter nascido em BH, ser jornalista, morar em São Paulo e já ter publicado dois livros, "Flagrantes do poço" (Coleção Poesia Orbital. Belo Horizonte: Associação Cultural Pandora, 1997) e "Flagrantes do tempo - Poema-reportagem na Paulicéia (Ed. Peirópolis), de onde esses versos foram extraídos.
Escolhi alguns pra ilustrar essa postagem:


[1]

se existia hora errada, era aquela
se existia palavra errada, foi dita

se existia lugar errado
nenhum outro mais que aquele

se existia a pessoa errada
era eu


[5]

a falta de lugar
ocupa todos os cantos
o não estar estando viva
é a causa do meu espanto


[6]

reclamei do vazio
ele me abandonou
cada metro do dia
encheu-se de ninharias
mais ou menos ocupantes

até que nas entrelinhas ele voltou
ele, o vazio, fiel companheiro
parceiro das linhas tortas
noites amarrotadas
e dias sonolentos

senhor das horas inteiras
culpado pelos piores momentos
o vazio é hoje o espaço que me sobra

terça-feira, 26 de abril de 2011

Mesa Redonda: "Carpentier y el real maravilloso"

O Programa de Pós-Graduação em Letras da PUC-RS realizará, no dia 5 de maio de 2011, uma Mesa Redonda sobre o escritor Alejo Carpentier, tendo como título: Perspectivas comparatistas na América Latina. Para o evento foram convidados os estudiosos franceses, Daniel-Henri Pageaux - A literatura comparada em suas encruzilhadas (Université de la Sorbonne Nouvelle, Paris) e Louis-Philippe Dalembert - Alejo Carpentier y el real maravilloso. A coordenação da Mesa será da profª Drª. Zilá Bernd (UNILASALLE/UFRGS/ Pesquisador do CNPq).
Daniel-Henri Pageaux é Doutor pela Sorbonne e Professor de Literatura Comparada na mesma universidade; é especialista em literaturas de língua francesa, portuguesa e espanhola e autor de vinte livros e mais de duzentos artigos. Presidiu, por dois mandatos, a Sociedade Francesa de Literatura Comparada e conduziu diversos seminários de iniciação à metodologia comparatista em Seul, Pequim, Nova Delhi, Beirute, Trieste, Santiago de Compostela, Lisboa, Funchal (Madeira), São Paulo, Mendoza, entre outros.
Louis-Philippe Dalembert é jornalista e poliglota, poeta e romancista. Já fez palestras e conferências no Haiti, França, Itália, Tunísia, Israel, Alemanha, África do Sul, Congo, Cuba e Brasil. Em português, publicou O lápis do bom Deus não tem borracha (romance).

Maiores informações: http://www.pucrs.br/

domingo, 17 de abril de 2011

Sobre o primeiro encontro "Crime e Castigo" de Dostoiéviski: Eduardo Armaroli Noguchi

No encontro do último sábado (16 de abril), o primeiro de dois que dedicaremos à obra Crime e Castigo de Fiódor Dostoiéviski (1821-1881), contamos pela primeira vez com a presença de um convidado especialista na área, tema, obra e autor.


Eduardo Armaroli Noguchi, 32 anos, é graduado em Filosofia pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Mestre em Ciência da Religião com a tese "Niilismo ou Religião: Os Caminhos da Liberdade no Romance "Os Demônios" de Dostoiévski" (2008).
Atualmente é doutorando pelo mesmo programa e instituição com a tese: "Revolta, niilismo e religiosidade: a ontologia da liberdade em Dostoiévski" (término previsto para 2012), inspirada na obra "Crime e Castigo" do mesmo autor, e ambas, com ênfase no diálogo entre Filosofia e Literatura.

sábado, 16 de abril de 2011

"Fernando Pessoa e Omar Khayyam"


Aos aficcionados pela obra de Fernando Pessoa, é imperdível a leitura de Fernando Pessoa e Omar Khayyam: o ruba'iyat na poesia portuguesa do século XX, tese de Márcia Feitosa. Trata-se do encontro entre o poeta português com o pensamento do poeta persa Omar Khayyam (1048-1123) e do quanto este se faz presente em Pessoa, bem como mais um reflexo do Oriente na escrita pessoana. Para o leitor interessado, haverá uma grande novidade ao deparar-se com a pluralidade de saberes de Fernando Pessoa e com a infinidade de pensadores com os quais ele dialoga, desde os clássicos da Antiguidade a uma abrangência cultural que conjuga Ocidente e Oriente, antigos e modernos. Perpassando a cultura do Islã e uma forma de estoicismo, a criação poética de Khayyam, por sua vez, revela o mundo interno e externo de um poeta que tem, na metáfora do vinho, a motivação estética que funciona como a possibilidade de fuga do real não compreendido. Em Pessoa, o Poema Ruba'iyat é o letimov para esquecer a realidade e para servir de troca por um tempo que nunca existirá. Então, nada mais oportuno do que o vinho para descurar da memória os amores e aquele tempo categoricamente possível: "[...] Se tive amores? Já não sei se os tive/Quem ontem fui já hoje em mim não vive/Bebe, que tudo é líquido e embriaga/E a vida morre enquanto o ser revive [...]" (Pessoa) e: "[...] Troca por vinho o amor que não terás/O que 'speras, perene, perene o 'sperarás/O que bebes, tu bebes. Olha as rosas/Morto, que rosas é que cheirarás?" (Khayyam) Fica, assim, um convite à ótima sugestão de leitura (Pessoa, Khayyam e a tese de Feitosa), que explora um fio condutor e um percurso estético e existencial que, ao levantar questões genuinamente metafísicas, oferece como única certeza a inquestionável presença do nada...

"The Dostoyevsky Memorial Museum"

"The memorial apartment of one of Russia's most renowned and prolific writers is conveniently located just one block away from Vladimirskaya metro station. Dostoyevsky lived here, his last apartment in St. Petersburg, between 1878 and 1881 and the flat is still filled with memorabilia relating to his life and work. Dostoyevsky based many of his stories and novels in St. Petersburg, especially in the Vladimirsky region of the city where his apartment is located. In celebration of his literary genius, the city erected a monument to the great writer in the spring of 1997, not far from Vladimirskaya metro station and from the Dostoevsky Memorial Museum. The museum also hosts occasional exhibitions of contemporary art.
How to get there?
Take the metro to Vladimirskaya Station, exit the station and turn right, and then walk for one block and you'll find the museum on the corner of the building on your right.

Address: 191002, Kuznechny Pereulok 5/2 Metro: Vladimirskaya / Dostoyevskaya Telephone: +7 (812) 311-4031, +7 (812) 169-6950 Open: Tuesday to Sunday, 11 am to 6 pm Closed: Monday and the last Wednesday of the month"

sexta-feira, 15 de abril de 2011

"International Dostoevsky Society" (IDS)

E como ocorre com todo grande pensador e autor, Dostoiévski ou Dostoevsky, também possui uma organização dedicada à sua obra, é a International Dostoevsky Society.

São encontros, publicações, suplementos, links, informações (todo conteúdo está disponível apenas em inglês e russo), contendo ainda um conselho executivo e honorário, e coordenadores regionais.
Acesse:

quinta-feira, 14 de abril de 2011

CULT - Alma russa: Dostoiéviski, Gógol, Tchekhov, Tolstói

A revista CULT em sua edição de n° 132 - Alma russa: Dostoiéviski, Gógol, Tchekhov, Tolstói. Dedicando-se à literatura russa e seus principais expoentes, dentre os quais, o nosso autor do mês (e do "ano" lembrando que escolhemos os clássicos de maior volume de páginas com 1 ano de antecedência), Dostoiéviski e seu Crime e castigo.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

"Crítica e professia: a filosofia da religião em Dostoiéviski" de Luiz Felipe Pondé

Luiz Felipe Pondé é filósofo e professor da FAAP e da PUC-SP, atuando em áreas como a Filosofia e Teologia, senso um intelectual engajado nas questões culturais e vida brasileira, com intensa participação na mídia, e desenvolve nesta obra suas reflexões acerca de Dostoiéviski em "Crítica e professia: a filosofia da religião em Dostoiévski" (2003, editora 34, 288 págs, esgotado).
Sinopse:
"Para Luiz Felipe Pondé, não se pode apreender a fundo a obra de Dostoiévski sem a compreensão de seu pensamento religioso, já que 'sua escrita está fincada em sua postura religiosa'. Desse modo, este livro não é um estudo de crítica literária da obra dostoievskiana, mas sim um ensaio de crítica religiosa a partir das idéias desenvolvidas pelo romancista em sua obra. Após uma elucidativa introdução ao universo do Cristianismo Ortodoxo, o autor passa a tecer relações entre os aspectos estritamente filosófico-religiosos e sua realização no plano literário, procedendo a uma análise mais detida dos grandes romances do escritor, como 'Memórias do subsolo', 'Crime e castigo', 'Os demônios', 'O idiota' e 'Os irmãos Karamázov'. Lidando com temas como a liberdade, o amor, o bem e o mal, Deus e Diabo a partir da obra de um dos maiores gênios literários de todos os tempos, Pondé propõe uma reflexão original, construída no diálogo entre a literatura, a religião e a filosofia - e que caminha para uma severa crítica ao humanismo moderno."

terça-feira, 12 de abril de 2011

Paulo Bezerra: tradutor de Dostoiéviski em "Crime e Castigo"

Paulo Bezerra * estudou língua e literatura russa na Universidade Lomonóssov, em Moscou, e foi professor de teoria da literatura na UERJ e de língua e literatura russa na USP. Livre-docente em Letras, leciona atualmente na Universidade Federal Fluminense. Já verteu diretamente do russo mais de quarenta obras nos campos da filosofia, psicologia, teoria literária e ficção, destacando-se suas premiadas traduções de Crime e castigo, O idiota, Os demônios e Os irmãos Karamázov, de Dostoiévski.

* Informações retiradas dos site da editora 34 (www.editora34.com.br), certamente a que tem e publica atualmente no Brasil, o maior número e as melhores obras da literatura russa.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

CULT - Biografia e Crítica: Fiódor Dostoiévski - O Profeta da Literatura Russa

A Revista CULT lançou 4 edições especiais entre 2005 e 2006 - CULT Biografia e crítica - coleção dedicada à cultura e as personalidades que a formam. Em seu quarto volume - Dostoiéviski - foi o tema série com o subtítulo: O Profeta da Literatura Russa, trazendo uma análise crítica feita por profundos conhecedores de sua obra.

A publicação enriquece o conhecimento do autor, seu pensamento e obras, nesta edição assinam os artigos: Paulo Bezerra (Livre docente em Literatura Russa pela USP, tradutor de Crime e Castigo entre outras obras de Dostoiéviski entre outros escritores russos e Professor de Teoria da Literatura na Universidade Federal Fluminense, UFF). Além de Rodolfo Gomes Pessanha (in memorian, graduado em Direito pela mesma UFF, estudou história, filosofia e sociologia cultural, sido também ensaísta e crítico de literatura e de música com 8 livros publicados, dentre os quais: Dostoiéviski: Ambiguidade e ficção.) ; Aurora Fornoni Berardini (Professora de pós-graduação em Literatura Russa da USP); Critovan Tezza (Escritor, Professor de Língua Portuguesa na Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Doutor em Literatura pela USP; Karen Stepanyan (vice presidente da Sociedade Russa de estudos de Dostoiéviski, redator-chefe da revista almanaque Dostoiéviski i mirovaia kultura (Dostoiéviski e a cultura mundial), representante da Rússia na International Dostoiéviski Society (ISD), membro da União dos Escritores da Rússia, Professor do Instituto de Literatura Universal e colaborador da revista Znâmia.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

"O lugar das utopias literárias"


O livro, A invenção de Morel, de Adolfo Bioy Casares, inevitavelmente nos remete à ideia de uma ilha como símbolo da utopia e das “loucuras humanas”. Concebidas como lugares paradisíacos, de mistério ou deleite, as ilhas suscitam paisagens privilegiadas onde se concentram não apenas forças latentes da natureza, como aquelas de um mundo onírico e primordial. Nas palavras de Chevalier & Gheerbrant, a ilha evoca refúgio, por isso mesmo ela rica surpresas e situações inusitadas e enigmáticas, daí ser um tema tão caro à literatura. Não é por menos que na obra de Casares o imaginário está repleto de imagens polissêmicas, como as que aludem à liberdade e à prisão do homem, bem como a uma condição que jamais será alcançada. Nesse sentido, torna-se oportuna a leitura de Morus, Moreau, Morel: A ilha como espaço da utopia, de Ana Cláudia M. L. Martins, que parte de uma idéia fabulosa, ao confrontar três construções utópicas associadas a ilhas: a de Thomas Morus, a de H. G. Wells e a de Adolfo Bioy Casares. Em cada um desses autores, com a devida reflexão e consideração com o contexto histórico-cultural de cada um, é a fabulação que permite evadir-se do real e aplicar, a este, uma alternativa que possa aplacar a humana busca do impossível através do “inútil”; numa ilha se pode ser tudo... Se na concepção de Thomas Morus a descrição de uma ilha é feita com base numa comparação com a Inglaterra do seu tempo, podendo-se perfeitamente entender a Utopia como uma anti-Inglaterra, onde a propriedade privada era ou seria a essência das mazelas humanas, a obra de H. G. Wells evidencia uma mudança no simbolismo da ilha, passando de um lugar utópico para um antiutópico. A ilha passa a ser como uma prisão, marcada pelo tom pessimista que atravessou a literatura da época, além de voltar-se novamente para uma crítica sobre a Inglaterra. Uma vez que sua ideologia imperialista, no século XIX, remete às bestas humanas como uma representação dos povos dominados pelos ingleses nas colônias, a crítica de alugns escritores ingleses é contundente contra o Imperialismo Britânico e a desintegração dos valores do mundo moderno, como também o fez Joseph Conrad, em Coração das Trevas. Por fim, persiste em A invenção de Morel a angústia com que Casares tratou o tema da tecnologia redentora (em tempos de guerra) e da literatura como máquina de infindáveis imagens sobre a contraditória condição humana. Com relação à obra de Ana Cláudia, embora a crítica não tenha considerado a sua tese apta a explorar com mais profundidade o universo do escritor argentino, o livro dessa pesquisadora, que é resultado de um doutoramento, aponta uma boa reflexão sobre o que continua perdurando em nosso horizonte existencial, político e cultural, e em nossa incansável busca de utopias. Ainda que passando pela criação de monstros, mas, quiçá, abrindo espaço para buscarmos o possível por fazer-se, nós somos convidados, a todo o momento, a continuar enfrentando os tantos monstros que ainda encontramos, inclusive, dentro de nós mesmos.

2ª Competitiva Nacional de Ilustração Literária

Estão abertas as inscrições para a 2ª Competitiva Nacional de Ilustração LITERÁRIA, organizada pelo curso de Artes Visuais – Multimídia da UNOPAR, com o objetivo de revelar novos talentos em ilustração literária. O texto escolhido para inspirar as ilustrações é "Marília Gabriela e as mulheres" (2007), da escritora Índigo.

A comissão organizadora fará a pré-seleção de 50 (cinqüenta) ilustrações, sendo que destas, 20 (vinte) receberão Menção Honrosa e 03 (três) receberão prêmios em dinheiro. As 50 (cinquenta) ilustrações pré-selecionadas serão exibidas no II Salão Nacional de Ilustração Literária da UNOPAR e receberão certificado de participação. A abertura da exposição e premiação ocorrerão no dia 17 de Junho de 2011 no Museu de Arte de Londrina e será composta pelas 50 ilustrações selecionadas pela comissão julgadora.

"As boas novas"


Que tal um portal cujo conteúdo é total e inteiramente dedicado as boas notícias?

Esta é a proposta do "asboasnovas.com".

São diversas áreas, temas e interesses como Brasil, Gente Boa, Biosfera, Repórter, Economia, todos ressaltando os aspectos positivos, justificando o nome do portal e se tornando um diferencial interessante no universo virtual da internet.

Acesse:

quarta-feira, 6 de abril de 2011

terça-feira, 5 de abril de 2011

Fiódor Nikháilovitch Dostoiévski (1821-1881)


Neste mês, os Palimpsestos discutem a obra do ano, Crime e Castigo (1866) de Fiódor Nikháilovitch Dostoiévski (Moscou, 1821-1881). Apesar de se formar em engenharia na Escola de Engenharia Militar de São Petersburgo em 1838, Dostoiévski renuncia a carreira militar e dedica-se à sua vocação literária a partir de 1844. Sua primeira obra, Gente Pobre (1846), foi recebida com boas críticas e caracteriza-se por uma narrativa naturalista das cenas da vida urbana e dos tipos representativos das classes baixas. Nela já desponta um marco da literatura dostoievskiana: um “romance polifônico” que confere autonomia às vozes de todos os personagens. Em sua segunda obra, O Sósia (1946), também se revelam elementos marcantes dos grandes romances dostoievskianos¹. Nestas obras fazem-se presente a ambiguidade com que o escritor russo descreve seus personagens e a ação romanesca em que o ato de determinado personagem realiza possibilidades latentes em outros, ou seja, a ação de um personagem é independente, mas também revela gestos sobre os quais um outro projeta sua fantasia.

Sua carreira literária teve uma interrupção brusca em 1849, quando foi preso por envolvimento em conspiração contra o czar e condenado à pena de morte, a qual, contudo, foi substituída por quatro anos de trabalho forçado e quatro anos de trabalho militar como soldado raso na Sibéria.

Seus grandes romances são permeados por estas vivências no campo de trabalho forçado, por uma sensibilidade à representação da realidade e por uma profunda sondagem do interior humano. Seus personagens vivem uma inextricável ambivalência de sentimentos e atitudes; assim, eles são simultaneamente marcados pela falta, baixeza de sentimentos, pecado... e pelo desejo de transcendência, eternidade, culpa...

Conforme ressalta Bezerra, Dostoiévski autodefine-se como um homem que vive intensamente a dúvida, experimentando a descrença e a sede de crer. Tal oscilação marca sua própria vida, mas também a paisagem interior de seus personagens, encerrada em conflitos filosóficos, éticos, políticos e psicológicos².



1.Memórias do Subsolo (1864), Crime e Castigo (1866), O Idiota (1868), Os Demônios (1871) e Os Irmãos Karamázov (1878). 2.Texto elaborado a partir da leitura de BEZERRA, Paulo. Prefácio, em Crime e castigo. São Paulo: Editora 34; e PINTO, Manuel da Costa. Entrelivros: literatura russa, p.22-35.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

"Dostoiéviski & Quixote"

Disse Fiódor Dostoiéviski (1821-1881) sobre o Dom Quixote de La Mancha de Miguel de Cervantes (1547-1616):


"Não existe nada mais profundo e poderoso que este livro. Se o mundo acabasse e no Além nos perguntassem: Então, o que você aprendeu na vida?", poderíamos simplesmente mostrar o D. Quixote e dizer: Esta é a minha conclusão sobre a vida. E você? O que me diz?"


Como se vê: é impossível um grande autor sem as leituras e conhecimento de outros grandes autores e obras, é isso que eu diria, mas a vida, além das leituras e do conhecimento, temos que vivê-la para saber, para escrever.

E é também isso que faz grandes os autores como Cervantes ou Dostoiéviski e tantos outros.

sábado, 2 de abril de 2011

"O Niilismo" de Franco Volpi

Em O niilismo de Franco Volpi (1999, Loyola, Tradução Aldo Vannucchi, 166 págs, R$ 21,70), filósofo italiano e professor nas Universidades de Pádua e Witten/Herdecke, além de professor visitante de outras universidades americanas e européias, temos uma obra chave para a compreensão do conceito central do século XIX - o niilismo - e naturalmente, para toda a literatura e pensamento do período.
Este conceito fundamental também se fez presente no debate da obra Pais e filhos de Ivan Turgueniêv (Fevereiro, 2011) no Palimpsestos, e que retornará à baila no próximo encontro dedicado a Fiódor Dostoiéviski, talvez um dos autores ícones do século XIX em sua expressão e dimensão niilista.

Sinopse:"Agruras e incertezas ameaçam e desorientam o homem contemporâneo. A causa essencial dessa situação precária e perigosa tem sido atribuída pelos filósofos ao niilismo. E o que é niilismo? De onde surge esse "hóspede perturbador" que nos ronda tão perto, obrigando-nos à sua convivência? Franco Volpi vai às raízes desse fenômeno e esclarece seu desenvolvimento no século passado (XIX), apontando as bases para a compreensão e a superação do niilismo."

sexta-feira, 1 de abril de 2011

"Dostoiéviski: correspondências - 1838/1880" de Robertson Frizero

Para uma boa leitura e aprofundamento na obra e autor, se faz necessário recorrer a toda uma "literatura paralela" que vai surgindo à medida em que pesquisamos, guiados por um interesse inicial que num primeiro momento, tende a considerar tudo que seja relativo ao "objeto" quer seja este, obra ou autor. E Dostoiéviski Correspondências - 1838/1880 (2009, 8inverso, 348 págs, Tradução Robertson Frizero, R$ 54,00) vai neste sentido do percurso dostoiéviskiano mais aprofundado, tanto para leitura do seu Crime e castigo ou não.

Sinopse:"Dostoiévski - Correspondências - (1838-1880)' apresenta uma coletânea de cartas do autor russo. A obra funciona ainda, como guia de leitura, pois em suas cartas o autor faz frequentes comentários sobre escritores contemporâneos a ele ou não, demonstrando admiração por uns e rejeição a outros."

"III Senalic - UFS, Sergipe"


O Grupo de Estudos de Literatura e de Cultura da Faculdade de Letras da Universidade Federal do Sergipe realizará o III SENALIC – Seminário Nacional Literatura e Cultura para discutir os estudos literários e artísticos, a partir de suas fronteiras e tensões entre o estético e o cultural. O evento acontecerá no Campus da cidade de São Cristóvão (a quarta cidade mais antiga do Brasil), no período de 06 a 08 de junho de 2011, com conferências, mesas-redondas e sessões de comunicação relacionadas a simpósios. Neste evento, haverá ainda uma homenagem ao artista plástico sergipano Cícero dos Santos. Os trabalhos devem ser articulados com as seções privilegiadas nesta edição e as inscrições para apresentação de comunicações já estão abertas. Quem participar de todas as atividades do evento terá direito a certificado de 30 horas.

Mais informações: www.pos.ufs.br/letras/senalic2011

"Crime e castigo" de Fiódor Dostoiéviski: edições e traduções

Se das edições da obra de Fiódor Dostoiéviski, no clássico Crime e castigo a da editora 34, insuperável por sua tradução direta do russo feita por Paulo Bezerra. Mas não deixa de ser interessante a paradidática feita por Carlos Heitor Cony, coleção "Clássicos para o jovem leitor" (1996, Ediouro-Paradidático, 286 págs, Esgotado).
Mas mesmo para o jovem (ou não tão jovem) leitor, que não deixe de conhecer a primorosa edição da 34 (2009, editora 34, 568 págs, Coleção Leste, Tradução de Paulo Bezerra, R$ 69,00). Existe também disponíveis outras edições, caso da L&PM (2007, L&PM, Tradução de Natália Nunes e Oscar Mendes, 592 págs, R$ 22,00). Enfim, opções para todos os bolsos para a excelente literatura.


Sinopse: "Publicado em 1866, 'Crime e Castigo' é a obra mais célebre de Dostoievski. Neste livro, Raskólnikov, um jovem estudante, pobre e desesperado, perambula pelas ruas de São Petersburgo até cometer um crime que tentará justificar por uma teoria - grandes homens, como César ou Napoleão, foram assassinos absolvidos pela História. Este ato desencadeia uma narrativa labiríntica que arrasta o leitor por becos, tabernas e pequenos cômodos, povoados de personagens que lutam para preservar sua dignidade contra as várias formas da tirania."