Aos aficcionados pela obra de Fernando Pessoa, é imperdível a leitura de Fernando Pessoa e Omar Khayyam: o ruba'iyat na poesia portuguesa do século XX, tese de Márcia Feitosa. Trata-se do encontro entre o poeta português com o pensamento do poeta persa Omar Khayyam (1048-1123) e do quanto este se faz presente em Pessoa, bem como mais um reflexo do Oriente na escrita pessoana. Para o leitor interessado, haverá uma grande novidade ao deparar-se com a pluralidade de saberes de Fernando Pessoa e com a infinidade de pensadores com os quais ele dialoga, desde os clássicos da Antiguidade a uma abrangência cultural que conjuga Ocidente e Oriente, antigos e modernos. Perpassando a cultura do Islã e uma forma de estoicismo, a criação poética de Khayyam, por sua vez, revela o mundo interno e externo de um poeta que tem, na metáfora do vinho, a motivação estética que funciona como a possibilidade de fuga do real não compreendido. Em Pessoa, o Poema Ruba'iyat é o letimov para esquecer a realidade e para servir de troca por um tempo que nunca existirá. Então, nada mais oportuno do que o vinho para descurar da memória os amores e aquele tempo categoricamente possível: "[...] Se tive amores? Já não sei se os tive/Quem ontem fui já hoje em mim não vive/Bebe, que tudo é líquido e embriaga/E a vida morre enquanto o ser revive [...]" (Pessoa) e: "[...] Troca por vinho o amor que não terás/O que 'speras, perene, perene o 'sperarás/O que bebes, tu bebes. Olha as rosas/Morto, que rosas é que cheirarás?" (Khayyam) Fica, assim, um convite à ótima sugestão de leitura (Pessoa, Khayyam e a tese de Feitosa), que explora um fio condutor e um percurso estético e existencial que, ao levantar questões genuinamente metafísicas, oferece como única certeza a inquestionável presença do nada...
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