segunda-feira, 29 de agosto de 2011

O quanto leem os universitários brasileiros...

Em Agosto, a Andifes (Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior) divulgou pesquisa feita com 19.691 estudantes de graduação de universidades federais de todo o País, apresentando números consolidados do panorama nacional. A pesquisa, intitulada "O Perfil Socioeconômico e Cultural dos Estudantes de Graduação das Universidades Federais Brasileiras", permite, a partir, do cruzamento de dados, mapear e distinguir os cenários regionais no tocante a hábitos de leitura, frequência a bibliotecas, domínio de língua inglesa, prática de atividades físicas, estado de saúde mental e uso de tabaco, álcool, remédios, e drogas não lícitas. Por qualquer ângulo que se olhe, os resultados não são muito animadores. 
No que diz respeito aos hábitos de leitura, a UFMA (Universidade Federal do Maranhão) lidera o ranking dos universitários que não leem nada (23,34% dos estudantes) e ficou em quarto lugar entre os menos assíduos à biblioteca da universidade (28,5% dos graduandos não a frequentam). O primeiro lugar nesse quesito ficou com a Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio): metade de seus alunos sequer passa perto da biblioteca. Por outro lado, os estudantes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) são os que mais leem: 22,98% deles leem geralmente mais de dez livros por ano. O resultado nacional, tão divulgado nos meios de comunicação, é que os universitários brasileiros leem uma média de 1 a 4 livros por ano, índice bem abaixo do apresentado por outros países.
A pergunta que não quer calar é: o que fazer para reverter esse quadro. Nos comentários à divulgação dessa pesquisa, que encontrei ao montar a postagem, vi de tudo um pouco, até justificativas de estudantes dizendo não frequentar as bibliotecas de suas instituições por não encontrarem nada do que precisam por lá. Dá pra duvidar??? 
Para mudar um pouco a pergunta, os índices tão altos de não-leitores deve ser um sinal de alarme apenas para o público-alvo da pesquisa, isto é, estudantes de graduação? É claro que a situação não é simples, mas se a intimidade com o livro e a leitura não se constituem desde cedo, como esperar encontrar estudantes universitários que sejam exímios e dedicados leitores? É lá que eles deveriam se formar como tais? 
Não dá pra parar o fluxo dos dias e da história e começarmos do ensino básico, esperando que com o tempo os níveis seguintes sejam beneficiados, mas há de se ter cuidado com soluções paliativas, já que a entrada de um número cada vez maior de estudantes despreparados nas universidades, públicas e privadas, tenderá a mostrar, por muito tempo, quadros como este. Certamente o baixo índice de leitores nas universidades é um cenário alarmante, visto ser lá o local onde se espera que seja formado e aprimorado o potencial intelectual de um país e que, se lá as coisas estão assim, que dirá o mundo cá fora. A questão é - o problema pode ser tratado num único nível de ensino? A resposta todos parecem saber.
Não há dúvida de que há trabalho para muito tempo e cada vez mais parece ser consenso que é mais simples e efetivo que a leitura seja apresentada de forma significativa e prazerosa às pessoas bem antes do período universitário, até por que ainda hoje pequeníssima parcela da população brasileira chega até lá e a leitura não faz menos falta para aqueles que seguirão por outros caminhos, seja por falta de oportunidade ou por escolha.

domingo, 28 de agosto de 2011

Livros digitais

A programação da XV Bienal Internacional do Livro deste ano, que começa no próximo dia 01 de setembro, já traz algumas experiências possíveis no universo dos e-books e contará com um colóquio que reunirá especialistas no assunto vindos da Alemanha, Espanha, França, Inglaterra e do Brasil. A proposta é discutir como as bibliotecas estão se preparando para passar a emprestar também os livros digitais, seja para ser lido em suas salas de leitura como para ser baixados e lidos pelos seus usuários onde eles estiverem. A iniciativa, organizada em parceria pela Fundação Biblioteca Nacional, o Instituto Goethe, o Instituto Cervantes e a Maison de France pretende apresentar experiências desenvolvidas em diversas bibliotecas que já lidam com essa realidade.  
-----
XV Bienal Internacional do Livro
Colóquio: E-books e a democratização do acesso - Modelos e experiências de bibliotecas
Data: 05 e 06/09 de 2011 
Hora: 09h às 17h30 (5 de setembro), 9h às 13h (6 de setembro)
Riocentro - Auditório Dinah Silveira de Queiróz - Pavilhão Azul

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Os sofrimentos do jovem Werther


No último encontro do grupo de leituras Palimpsestos, discutiu-se a obra Os sofrimentos do jovem Werther (1774), de Goethe. A obra é caracterizada por uma narrativa essencialmente subjetiva, conforme se evidencia no tom confidencial das cartas de um único personagem (Werther). Nessas cartas, a subjetividade do personagem é o móvel da narrativa, onde se destaca uma postura extremamente sentimental e individualista, frente a um amor impossível, cujo sofrimento culminanará no próprio fim de Werther.
Inspirado, em parte, na vida do próprio Goethe (seu amor por Charlotte Buff, esposa do amigo Johann Kestner) e também no desfecho trágico da história de Karl Willhem Jerusalém (que, diante da paixão pela mulher de um amigo, encontra na morte a superação do seu sofrimento), o romance apresenta a existência e a arte em uma íntima e profunda relação. Também compondo essa relação, a natureza funciona como cúmplice do eu enunciador, sendo a liberdade de criação um fator fundamental para o artista que quer despojar-se de todas as regras e convenções sociais. Mas, dada a impossibilidade de viver, na realidade, o que o eu deseja e imagina, a escrita do Romantismo aponta, por isso mesmo, a inadaptação à existência e a fragilidade do racionalismo iluminista, o que leva o ser romântico a buscar outras possíveis soluções para enfrentar o mundo. Nesse sentido, estão, por exemplo, a idealização do amor, a partilha com as tradições de um povo e a busca de um passado como modelo. Enfim, é uma fuga como forma de se superar provisoriamente o conflito com a realidade exterior.
Com isso, a literatura do Romantismo inaugurada por Goethe, na Alemanha, traz para a vida o valor ético do palco, ou seja, “o coração, ele só, é o artífice de sua própria sorte”. É nesse “palco vivo” que o homem busca conhecer a extensão de sua força, tentando viver, para além do limite da realidade, toda a intensidade de sua alegria e dor.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

"O desespero humano"

Em meio às últimas sugestões e reflexões em torno da obra de Goethe, é oportuno apontar também um pouco do pensamento de Soren Kierkegaard, cuja vida tanto exerceu influência no desenvolvimento de sua obra. As inquietações e angústias que o acompanharam estão impressas em seus textos, incluindo a relação de angústia e sofrimento que ele manteve com o cristianismo/protestantismo. Não é por menos que ele tanto se dedicou pensar a subjetividade e as paixões humanas. Aliás, em dinamarquês, a palavra "inderlighed - interioridade" significa paixão, ardor, algo que é vivido com intenso ânimo e vigor. Para Kierkegaard, não se pode entender, portanto, a paixão como algo hermético. Por isso mesmo, ao pensar a subjetivdade, o filósofo de Copenhague pensou-a como uma verdade apropriada, antes, no interior do indivíduo. Fica, assim, a sugestão de se conhecer uma de suas grandes obras: O desespero humano.




quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832)

A obra do mês, Os sofrimentos do Jovem Werther (1774), conferiu a Johann Wolfgang von Goethe (Frankfurt am Main, 1749 – Weimar, 1832) um lugar de destaque no contexto intelectual alemão do século XVIII, particularmente, o transformou em um dos principais representantes do movimento Sturm und Drang (Tempestade e Ímpeto). Por sua vez, sua obra de maior fôlego, Fausto (produzido ao longo de sua vida, entre os anos de 1771 e 1811) o consagrou como escritor e pensador universal, seja pela beleza e grandiosidade poética de sua obra, seja pela relevância de seu conteúdo, marcado pelo autoconhecimento e pelo conhecimento da natureza, da mitologia, da literatura, da filologia, etc.

De sua autobiografia (Poesia e verdade, 1811), podem-se destacar o seu adoecimento em 1768 e as amizades com Johann Gottfried Herder (1744-1803) e com Friedrich Schiller (1759-1805). O primeiro evento obrigou Goethe a abandonar os estudos em Direito na Universidade de Leipzig, e a retornar à casa dos pais. Nesta ocasião, ele conheceu Susanna von Klettenberg, inspiração para um de seus personagens no romance Os anos de aprendizado de Wilhelm Meister (1829), mas, sobretudo, responsável por sua aproximação da religiosidade pessoal - em oposição à educação religiosa tradicional, já por ele questionada - e, por conseguinte, pela convicção no poder que o homem tem sobre si mesmo, evidenciado mais tarde em Os sofrimentos do Jovem Werther. Ainda no curso da doença, Goethe interessou-se por alquimia, astrologia e ocultismo, posteriormente presentes em seu Fausto.

Dois anos depois, Goethe retoma seus estudos em Estrasburgo, e nesta ocasião conhece Herder, responsável pela profunda admiração de Goethe pelo espirito clássico grego, para ele, presente em Homero e Shakespeare, e pela poesia popular alemã. Após se instalar em Weimar em 1775, Goethe tem primeiro encontro com Schiller. Em 1794 inicia-se a amizade, caracterizada por trocas longas e recíprocas de hospedagem, pelo desenvolvimento de um trabalho em conjunto (Xenien,1796) e por correspondências no período em que Goethe e Schiller formulam suas obras fundamentais, a saber: Teorias das cores (1805), Anos de aprendizagem de Wilhelm Meister (1829), Fausto (1811); Poesia ingênua e sentimental (1796), Wallenstein (1800), respectivamente.

Léon Bloy (1846-1917)


Léon Bloy nasceu em Notre-Dame-de-Sanilhac, pequeno município no sudoeste da França, em 1846, vindo a falecer em 1917. Embora sua juventude tenha sido marcada pelo agnosticismo e pelo ódio à religião instituída, até conhecer o escritor Barbey d'Aurevilly que o converteu ao catolicismo. Bloy, embora tenha escrito narrativas curtas extremamente originais, nunca recebeu o devido reconhecimento, uma vez que sua obra, com sentenças cáusticas e satíricas, provoca o mal-estar tanto de ateus materialistas quanto de católicos e religiosos hipócritas. Conheceu a miséria muitas vezes ao longo de sua vida e tornou-se inimigo declarado de grande parte dos escritores franceses de sua época, tais como Maupassant (que, nas palavras de Léon, possuía "uma escrita efeminada que queria se passar por máscula"), Flaubert (definido como "concubina de dicionários"), Daudet e Emile Zola. Bloy transportava todo o seu ressentimento e antipatia pela sociedade para os seus contos. Estes, por sua vez, são de uma crueldade imensa e geralmente demonstram o lado mórbido, frio e maléfico da humanidade. Autodenominando-se "o peregrino do absoluto", "o mendigo ingrato" e "o que não se vende", Bloy - segundo Borges - foi um dos precursores de Kafka, com seus contos que exploram sutilmente o fantástico e o inexplicável, bem como a relação desses elementos sobre a vida do homem. Infelizmente a obra de Léon Bloy não está totalmente disponível no Brasil: apenas alguns contos espalhados em algumas antologias, como as de Flávio Moreira da Costa. Embora não tenha recebido os louros merecidos, Bloy de maneira alguma foi esquecido: Borges não esconde a influência que o autor francês teve em sua obra e confessa que ele é um dos autores que ele sempre relia.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

"El principio del placer", de José Emilio Pacheco


Ao ler a postagem da Cíntia sobre Literatura Mexicana, não pude deixar de comentar com entusiasmo, defendendo o conhecimento, por parte dos brasileiros, da produção literária dos mexicanos. E, na esteira dessa necessidade de conhecimento, apresento a obra "El principio del placer", de José Emilio Pacheco, que conheci durante o intercâmbio na Argentina.
José Emilio Pacheco é principalmente poeta, embora também tenha escrito prosa. Uma das suas produções em "linha corrida" é justamente a coletânea de contos que ora comento. O que primeiro chama a atenção é a necessidade que o autor nos impõe de pactuar com o texto. Isto porque, para ele, o narrar não é simples, nem pode ser definido como sendo somente uma exposição de acontecimentos reais (ou imaginários).
Parece-me que, em sua opinião, a narrativa só pode ser completada em seu sentido com a cumplicidade do leitor, quem vai conectar as pontas soltas das muitas vozes que se enovelam para compor o relato. O texto, em Pacheco, reassume sua conotação original de tecido, de trama de vozes. Cabe ao leitor atribuir sentido a essas vozes que se cruzan, que se mesclam... 

terça-feira, 9 de agosto de 2011

I SIMPÓSIO INTERNACIONAL LITERATURA, CULTURA E SOCIEDADE

Já estão abertas as inscrições para o I SIMPÓSIO INTERNACIONAL LITERATURA, CULTURA E SOCIEDADE da UFV. As informações acerca das conferências do evento e as normas para o envio de trabalhos (comunicações e painéis) podem ser acessadas no site: http://www.literaturaufv.com.br/

III Encontro de Estudos da Palavra Cantada

Entre os dias 23 e 26 de agosto, acontecerá o III Encontro de Estudos da Palavra Cantada, no salão Pedro Calmon, Fórum de Ciência e Cultura, Campus da UFRJ. O evento é uma promoção conjunta do Programa de Pós-graduação em Música da UNIRIO e do PACC – Programa Avançado de Cultura Contemporânea da UFRJ, com o apoio da CAPES, FAPERJ, UNIRIO, CNFCP/IPHAN e CAIXA Cultural RJ e tem como objetivo promover a reflexão sobre as múltiplas e heterogêneas modalidades da palavra cantada – da mitopoética das sociedades tradicionais até a canção popular contemporânea –, a partir de abordagens que permitam apreender a interação entre suas dimensões poética, musical, vocal e performática.
A conferência de abertura será proferida pelo professor e etnomusicólogo Anthony Seeger, da University of California, de Los Angeles, cujas análises sobre as artes verbomusicais de povos indígenas do Brasil são referência para os interessados na matéria. O encerramento terá palestras do professor Stéphane Hirschi, da Université de Valenciennes, especialista nas relações entre poesia e canção, e do professor e compositor José Miguel Wisnik, amplamente reconhecido por seu trabalho criativo e investigativo nos domínios literários e musicais.

Maiores informações: www.ufrj.br

domingo, 7 de agosto de 2011

Premio SESC de Literatura


Estão abertas as inscrições para o Prêmio SESC de Literatura, edição 2011/2012, nas categorias conto e romance. Os interessados devem enviar seus trabalhos até o próximo dia 31 de agosto. O edital do concurso está disponível em: http://www.sesc.com.br/premiosesc/edital.html

INCULT - Escritores Independentes

Reproduzo, abaixo, convocatória para concurso:
"A InCult Produções Culturais promove, entre os meses de julho e agosto, o projeto Escritores Independentes. Nele, 50 pessoas irão escrever juntas um livro de crônicas que será publicado gratuitamente no site Clube de Autores e, posteriormente, vendido no mesmo.
O objetivo principal do projeto é promover autores e escritores de crônicas desconhecidos do grande público através da publicação de um livro com textos inéditos."

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

"Conferências na ABL"

Sob a coordenação do acadêmico e professor Antonio Carlos Secchin, acontecerá a partir do próximo dia 23 de agosto o 7º Ciclo de Conferências: "Perspectivas da crítica literária":

23/8 - José Luís Jobim: "A crítica literária contemporânea: questões e perspectivas";

30/8 - Felipe Fortuna: "A crítica literária no jornal e no livro";
06/9 - Antonio Cícero: "A poesia e a crítica"
;
13/9 - Miguel Sanches Neto: "Autores e leitores: crítica e redes sociais".

Maiores informações: www.academia.org.br

Aproximación a la literatura brasileña en México: lenguaje y otredad


Acontece hoje, às 14h, na USP, a palestra com Brenda Ríos, professora de Desenvolvimento e Gestão Intercultural da Faculdade de Filosofia e Letras da Universidad Nacional Autónoma de México (Unam), sobre o tema "Aproximación a la literatura brasileña en México: lenguaje y otredad".

Doutora em Letras Mexicanas pela UNAM, Brenda Ríos integra a geração de novos escritores mexicanos. Participou do seminário de tradução da língua portuguesa promovido pelo Centro de Estudos Brasileiros da Embaixada do Brasil no México e publicou,  em 2005, o livro "Del amor y otras cosas que se gastan por el uso. Ironía y silencio en la narrativa de Clarice Lispector" (Tierra Adentro/La Fundación para las Letras Mexicanas, 2005).


A palestra é organizada pelo Departamento de Letras Modernas e o Centro Interdepartamental de Tradução e Terminologia (Citrat) da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP e acontece na sala 260 do prédio dos Departamentos de Letra. O evento é gratuito e não precisa de inscrição prévia.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Exposição "Juiz de Fora: nossa história é de fé, nossa igreja tem arte"

Começou ontem e segue até o dia 20 do próximo mês de setembro a exposição "Juiz de Fora: nossa história é de fé, nossa igreja tem arte", em funcionamento no salão térreo da Catedral Metropolitana de Juiz de Fora, na Avenida Rio Branco. 

Once upon a midnight dreary...



Já é bem conhecida a iniciativa de muitos grupos em disponibilizar poemas em áudio, o que permite ao leitor-ouvinte saborear o ritmo e a melodia do poema. No entanto, alguns grupos foram além: disponibilizaram não só o poema em áudio, mas também realizaram animações dos poetas lendo seus próprios textos. Podemos ver e ouvir autores como Whitman, Lewis Carrol e Poe - a quem esta postagem é dedicada - recitando suas obras-primas. Eis abaixo o link do famoso poema "The Raven", declamado por ninguém menos que Edgar Allan Poe:

Poe - The Raven