Mostrando postagens com marcador Autores lidos. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Autores lidos. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Nicolau Maquiavel (1469-1527)


Nicolau Maquiavel nasceu e morreu na cidade de Florença, numa época em que a Itália estava longe de existir como o país que conhecemos hoje. Entre a data de seu nascimento (1469) e a de sua morte (1527) o universo cultural europeu sofreu importantes transformações, das quais podemos citar como exemplos as conquistas ultramarinas de Espanha e Portugal, que expandiram as fronteiras do Velho Continente e, ainda, as conquistas renascentistas no campo da arte, arquitetura e humanidades em geral. Estas últimas podiam ser observadas justamente na "Itália" que viu Maquiavel nascer. 

Em consonância com seu local de nascimento e com o momento histórico, o futuro escritor recebeu uma esmerada formação clássica, chegando a escrever em latim já aos doze anos de idade. Em 1498, ele assume a segunda chancelaria de Florença, cargo que ocupará até 1512, quando a dinastia dos Médici é conduzida ao poder. 

Maquiavel esteve, daí por diante, sempre às voltas com com os mecanismos políticos, seja como participante das negociações enquanto esteve no posto de chanceler, seja como "comentarista", nas obras que escreveu posteriormente e que foram majoritariamente dedicadas à política. Em sua atividade pública, ele teve a oportunidade de conhecer vários dirigentes políticos, como Luís XII de França, o Papa Júlio II, o Imperador Maximiliano I, e César Bórgia.

A partir de 1513, quando foi destituído de suas funções públicas e exilado por suspeita de envolvimento numa conspiração contra o governo, passará a dedicar-se à literatura, empregando-se de modo esporádico em algumas empresas diplomáticas isoladas. Data dessa época a composição do seu tratado mais famoso - O príncipe. Embora tenha sido publicado postumamente (1531), o seu conteúdo já era conhecido pois o autor havia recitado partes d'O Princípe nas reuniões intelectuais dos Ortii Oricellari (Jardins de Rucellai), local onde se reunia a Academia Florentina.

A influência do pensamento de Maquiavel extrapolou em muito o campo puramente político. Prova disso é o adjetivo "maquiavélico", presente tanto no discurso erudito, no debate político, quanto na fala do dia-a-dia. É evidente que essa recorrência de uso não indica que todos tenham lido e concordado com os postulados deste autor renascentista, mas não deixa de registrar o quanto ele "penetrou" em nossa cultura.

Outras obras de Maquiavel foram a comédia La Mandragola (A Mandrágora), publicada com êxito em 1524, os tratados Arte della guerra (A Arte da Guerra), de 1519-1520, Discorsi sopra la prime deca di Tito Livio (Discursos sobra a primeira década de Tito Lívio), publicado postumamente em 1531 e as comédias Clizia (escrita por volta de 1524) e Andria e o conto Belfagor, escolhido pelo grupo para ser lido neste mês de abril/2012.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Thomas Mann (1875-1955)


Nascido em 1875, Thomas Mann foi o segundo filho do casal Johann Heinrich Mann e Julia da Silva Bruhns. Sua mãe, como talvez se note pelo nome, era brasileira de ascendência germânica e havia se mudado para a Alemanha com sete anos de idade. 

Seu pai era industrial e senador de certa nomeada e veio a falecer quando o futuro escritor estava com 15 anos de idade. Por essa época sua mãe se desloca para Munique, ao sul do país, onde fixa residência com os filhos mais novos. Ao terminar seus estudos, Thomas Mann começa a trabalhar no escritório de uma firma de seguros desta cidade, passando em seguida para a carreira de jornalista. Como preparação para exercer esta profissão, ele inicia uma série de leituras sobre história, economia, história da arte e literatura, além de frequentar algumas aulas na universidade e no colégio politécnico. Em seguida, viaja para a Itália, onde vive aproximadamente um ano junto de seu irmão Heinrich, mais velho que ele quatro anos.

Sua primeira obra, a coleção de histórias curtas Der kleine Herr Friedemann, veio à luz em 1898. Três anos mais tarde, ele publica a novela Buddenbrooks, que obteve bastante êxito junto aos leitores alemães e que será citada pela Academia Sueca como um dos motivos pelos quais se atribuiu o Prêmio Nobel ao autor.

Casa-se em 1905 com a filha de Alfred Pringsheim, professor da cátedra de Matemática na Universidade de Munique. Ela descendia, por parte de mãe, do afamado jornalista berlinense Ernst e Dohm Hedwig, cuja esposa havia desempenhado um papel importante no processo de emancipação da mulher. O matrimônio lhe deu seis filhos.

Uma de suas mais conhecidas novelas, Der Tod in Venedig [A morte em Veneza, que será lida pelo Palimpsestos neste mês de março] foi publicada em 1913. Junto de Tonio Kroger, publicada originalmente em volume de 1903, essa novela é considerada como exemplar da arte de Thomas Mann neste gênero.

Tendo interrompido seu trabalho em função da Primeira Guerra Mundial, só mais à frente irá dedicar-se à composição daquela que é tida como sua obra máxima: Der Zauberberg [A montanha mágica], publicada em 1924 em dois volumes. Foi laureado com o Prêmio Nobel em 1929.

Em 1933, Thomas Mann muda-se para a Suíça, exilando-se em função da ascensão dos nazistas ao poder, visto que estes promoveram uma forte campanha contra ele. A expatriação formal ocorre em 1936 e já no ano seguinte a Universidade de Bonn priva o escritor do título de doutor honoris causa que lhe havia sido dado, o qual só foi restituído em 1946. Em função desses problemas e da Segunda Guerra Mundial, que eclode em 1939, o escritor passa a viver nos Estados Unidos, de onde se muda em 1953, passando a viver em Zurique (Suiça), local em que vem a falecer dois anos depois.

O autor recebeu ainda outros prêmios literários, como o Goethe Prizes of Weimar (da Alemanha Oriental) e o Prêmio Frankfurt (Alemanha Ocidental), ambos conferidos em 1949. De sua extensa bibliografia, outros títulos que merecem menção são:  Mario und der Zauberer: Ein tragisches Reiseerlebnis (1930), Lotte in Weimar (1939), Joseph und seine Brüder (1933-43) [uma versão de uma história do Antigo Testamento] e Doktor Faustus: Das Leben des deutschen Tonsetzers Adrian Leverkühn, erzählt von einem Freunde (1947)

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Ernest Hemingway (1899-1961)


Abro o jornal [1] e me vejo na obrigação de postar sobre outro cinquentenário de falecimento, desta vez o do escritor norte-americano Ernest Hemingway, comemorado hoje. Ao contrário de Céline, porém, a quem me referi em postagem feita ontem, Hemingway não se inclui entre os escritores malditos, sendo mesmo considerado um "modelo de escritor moral" [2]. 

Tendo viajado por Europa e África atrás de aventuras, o escritor estadunidense foi testemunha ocular das duas Guerras Mundiais e da Guerra Civil Espanhola. As atrocidades desta última motivaram a publicação do prestigiado romance Por quem os sinos dobram (de 1940) que chegou a ser adaptado para o cinema e tem sido interpretado como o relato de um escritor comprometido/engajado.

O autor foi um dos grandes escritores dos Estados Unidos, com uma obra prolífica, sobretudo contos, que lhe rendeu prêmios de grande valor, destacando-se o Pulitzer de 1953 - pela novela O velho e o mar - e o Prêmio Nobel recebido em 1954. A popularidade de Hemingway pode ser medida, por exemplo, pela comemoração chamada "Hemingway Days", uma série de eventos que ocorre no final do mês de julho - a partir do dia 21, data de nascimento do escritor.

Aqui no país, a obra de Hemingway é editada pela Bertrand Brasil, selo do grupo editorial Record, que mantém em seu catálogo, entre outros, os seguintes títulos: Do outro lado do rio, entre as árvores (336p., R$ 43,00); O sol também se levanta (272p., R$ 39,00) e Adeus às armas (352p., R$ 43,00). 

Referências:

[1] Victor, Fabio. (2011, 2 de julho). Caçada a Hemingway. Folha de São Paulo. Ilustrada, p. E6. 

[2] Fernandez, Alfonso. (2011, 1 de julho). Há meio século morria o escritor Ernest Hemingway.  O Estado de São Paulo [versão eletrônica]. Disponível em: http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,ha-meio-seculo-morria-o-escritor-ernest-hemingway,739405,0.htm

Observação: Postagem feita, originalmente, em 02/07/2011

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Emil Cioran (1911-1995)


A seguir apresentamos um resumo biográfico sobre o  pensador romeno Emil Cioran, autor da obra do mês. O texto foi retirado do site oficial do filósofo - http://www.cioran.eu/ (site multilíngue)

"O romeno Emil Cioran nasceu no pequeno vilarejo de Rasinari, situado na região da Transilvânia, em 8 de abril de 1911. Segundo filho de um casal de religiosos (seu pai era um cura Ortodoxo e sua mãe, líder da comunidade de religiosas locais), teve uma infância feliz e pacata pelos bosques e campos da região, ao qual, na sua maturidade iria se referir como sendo o "paraíso", e o qual foi forçado a abandonar, logo cedo, para iniciar os estudos em um Liceu na cidade próxima de Sibiu-Hermannstadt. Anos depois, transfere-se para Bucareste, onde ingressa na Faculdade para estudar Filosofia e Letras.

Sua juventude foi marcada basicamente por dois fatos, que repercutiram profundamente em sua vida e obra posteriores. Por um lado, a intensa crise de insônia que o consumiu durante anos a fio, quase chegando a levá-lo ao suicídio - e da qual resultou sua primeira obra, escrita ainda em romeno, Pe Culmile Disperarii ("Nos Cumes do Desespero"). Por outro, seu envolvimento com a Guarda de Ferro, movimento político de extrema direita que defendia a libertação da Romênia e possuía caráter fortemente anti-semita, pelo qual Cioran veio posteriormente a se arrepender de ter-se deixado seduzir.

Em 1937, decide mudar-se para Paris com a intenção inicial de desenvolver uma tese sobre Bergson (que nunca terminou), e acaba por instalar-se lá definitivamente. Após seis livros escritos em romeno e publicados em seu país de origem, Cioran adota então o francês como língua oficial: o Précis de Decomposition ("Breviário de Decomposição"), publicado em 1949 pela Gallimard e marco inaugural de sua conversão lingüística, rende-lhe, dois anos depois, o prêmio Rivarol (tendo no júri nomes ilustres como André Gide e André Maurois), o primeiro e último que aceitou.

Considerado por alguns o maior prosador da língua francesa desde Paul Valéry, e chamado pela crítica, entre outras coisas, de 'pensador crepuscular', 'arauto do pessimismo', 'cínico fervente', 'cavaleiro do mau-humor', Cioran se dedicou a falar sobre os temas que o preocuparam e atormentaram ao longo da vida: a solidão, o tédio, a morte, o sofrimento, o ceticismo e a fé, Deus e o problema do mal. Caminhando nas fronteiras entre a filosofia, a religião, a literatura e a história, deixou uma contundente obra que está em fina sintonia com o itinerário de sua vida, marcada pelo trágico e o irônico, o incompleto e o fragmentário, o paradoxal e o absurdo. Alguns de seus títulos são: Syllogismes de L´amertume ("Silogismos da Amargura"), L´inconvénient D´Être Né ("O Inconveniente de Ter Nascido"), La Chute Dans Le Temps ("A Queda no Tempo"), La Tentation D´Exister ("A Tentação de Existir"), Histoire et Utopie ("História e Utopia") e Ecartèlement ("Despedaçamento"). Cioran faleceu em Paris, no dia 20 de junho de 1995, acometido de Alzheimer."

Além do pequeno resumo acima, recomendamos ainda uma série de cinco pequenos vídeos que estão no Youtube e que formam parte de um documentário dedicado a Cioran, cujos links apresentamos a seguir: 

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Marco Aurélio (121-180)


"Marco Aurélio nasceu em 121 A.D., filho de Ânio Vero e Domícia Lucila. A família, de raízes espanholas, dera ilustres magistrados a Roma. Educado em casa, por um preceptor, estudou Homero, Hesíodo e os trágicos; aprendeu a música e a dança; recebeu lições de pintura de Diogneto, adepto do estoicismo, e de retórica do erudito Frontão, a quem se ligou por uma afeição respeitosa e duradoura. Aos quinze anos, celebrou noivado com a filha de Cômodo; o casamento, porém não se realizou. Em fevereiro de 138, o imperador Trajano adotou Antonino como filho; a esposa deste, Faustina, era tia de Marco Aurélio, que, ao completar 18 anos, foi nomeado questor e, sendo órfão de pai, foi adotado por Antonino. Trajano faleceu pouco depois e Antonino Pio ascendeu ao trono. No ano seguinte, Marco Aurélio Vero foi eleito cônsul; aos 24 anos desposou Faustina, filha de Antonino, passando, aos poucos, a assumir as responsabilidades do governo, que o sogro lhe ia transferindo. Morrendo Antonino em 161, sucedeu-o no trono, aos 40 anos, com o nome de Marco Aurélio Antonino; adotou, por sua vez, a Lúcio Vero, a quem deu a mão de sua filha Ânia Lucila. Morto o genro, associou ao governo, em 177, seu próprio filho Cômodo, vindo a falecer três anos depois.

Seu reinado não foi tranquilo; perturbaram-no os bárbaros fronteiriços, os partas invadindo a Armênia, os germanos a Récia, o Nórico, a Panônia e chegando até Aquiléia. Enquanto isso, grassava peste na Itália. Seguem-se penosas campanhas para pacificação das fronteiras, contra os marcomanos, os quados, os sármatas, os iáziges. Entrementes, em 175, o legado da Síria, Avídio Cássio, apoiado por Antioquia e Alexandria, proclamou-se imperador, pretextando a morte de Marco Aurélio. Suas próprias legiões o destruíram ao certificar-se do logro. Para demonstrar que não guardava ressentimentos contra quem dera apoio ao impostor, Marco Aurélio empreendeu uma viagem ao Oriente, onde lhe faleceu a esposa; em seguida, visitou a Grécia. Teve, depois, de reprimir novo surto de expansão do cristianismo, em 177, e teve distúrbios na Germânia. No acampamento à margem do Savo, na Panônia, contraiu o tifo e morreu.

A despeito de tantas dificuldades, desenvolvera atividade benéfica na administração, amparara os pobres e protegera os intelectuais.

Carecia, evidentemente, de lazeres para a literatura; cultivava, contudo, o hábito pitagórico do exame de consciência diário e o de meditar constantemente os dogmas do catecismo de Epicteto. O fruto dessas reflexões, bem como o registro de fatos e princípios para ulterior meditação, constituem o seu livro, composto em Grego com o título Tá eis Heautón, As Notas de Uso Próprio, que os tradutores preferem substituir por Pensamentos, Máximas, Reflexões, Meditações, Solilóquios etc., todos nomes que servem, mas nenhum que satisfaça plenamente."

BRUNA, Jaime. Introdução. In: MARCO AURÉLIO. Meditações. Introdução, tradução e notas de Jaime Bruna. São Paulo: Cultrix, 1989.

* Crédito da imagem: http://ucrj.com.br/2011/03/marco-aurelio-o-imperador-filosofo/, acesso em 09/12/2011

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Machado de Assis (1839-1908)

Tido por muitos como o maior escritor brasileiro de todos os tempos - posição aliás pouco ameaçada, exceto pela figura de Guimarães Rosa -, Joaquim Maria Machado de Assis, autor da obra deste mês, carrega consigo a fama de ser um dos mais estudados nas universidades e não raro tem seus livros incluídos entre as leituras obrigatórias de vestibulares de todo o país, coisa que antes de ser louvável deve ser repensada, pois o caráter obrigatório dessa leitura afasta muitos jovens da Literatura. Mas, vamos ao homem.

Machado de Assis nasceu em 1839, no Morro do Livramento, na cidade do Rio de Janeiro, capital do Império naquela época. De ascendência humilde, o futuro escritor teve uma infância e adolescência de muito trabalho. Tendo sido pouco estudadas, o que nos ficou dessa época da vida do escritor foi a imagem de um jovem que conciliava as obrigações impostas pela sua condição social aos estudos que realizou por sua própria conta.

Como autodidata Machado de Assis teria aprendido línguas estrangeiras como francês e inglês e também teria percorrido um caminho leitor recheado pelos clássicos. Aos 22 anos inicia sua carreira literária com a publicação de Queda que as mulheres têm para os tolos, título traduzido por ele.

O primeiro volume autoral publicado foi uma coleção de poesias intitulada Crisálidas, de 1864. Pouco anos depois ingressa no serviço público e, com a estabilidade permitida por este, dedica-se à vida doméstica (casou-se em 1869 com a portuguesa Carolina Augusta Xavier de Novais) e à literatura.

Ao volume de 1864, seguiram-se, por ordem cronológica: Falenas (poesia, 1870), Contos Fluminenses (contos, 1871), Ressurreição (romance, 1872), Histórias da meia-noite (contos, 1873), A mão e a luva (romance, 1874), Americanas (poesia, 1875), Helena (romance, 1876), Iaiá Garcia (romance, 1878), Memórias Póstumas de Brás Cubas (romance, 1881), Papéis avulsos (contos, 1882), Histórias sem data (contos, 1884), Quincas Borba (romance, 1891), Várias histórias (contos, 1896), Dom Casmurro (romance, 1899), Páginas recolhidas (contos, 1899), Poesias completas (1901), Esaú e Jacó (romance, 1904), Relíquias de casa velha (miscelânea, 1906) e Memorial de Aires (romance, 1908).

Além de poeta, contista e romancista (notável nas obras a partir das Memórias Póstumas), Machado de Assis dedicou-se ainda ao teatro, à crítica literária e à crônica, tendo colaborado durante longos anos com jornais e revistas do Rio de Janeiro. Também deve-se destacar a condição de fundador da Academia Brasileira de Letras, instituição da qual foi o presidente até a data de seu falecimento.

Os traços mais característicos de sua obra são a ironia (que traveste uma pesada crítica à sociedade sua contemporânea), o pessimismo, a linguagem castiça e a contenção das descrições, na contramão de outros autores do tempo, que pretendiam descrever totalmente a realidade. Machado foi também um excelente criador de personagens, notadamente femininas, descrevendo (aí sim com detalhes e maestria) os seus movimentos interiores. Por esta razão, figuras como Brás Cubas, Quincas Borba, Sofia, Capitu e Conselheiro Aires saíram das páginas de seus livros para entrar nos anais da história literária nacional e universal.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Herman Melville (1819-1891)

Herman Melville nasceu em Nova York no ano de 1819, vindo a falecer na mesma cidade em 1891. Alcançou no início de sua carreira literária uma grande popularidade, devido à publicação de Typpe (1846) e Omoo (1847), ambos romances de aventura que narram a sua experiência e convivência com a tribo Typpe da Polinésia e sua experiência como marinheiro no baleeiro Lucy Ann.

O sucesso dos dois primeiros livros garantiu certa estabilidade financeira para Melville, já acostumado com as dificuldades financeiras desde a morte do pai quando tinha apenas treze anos. No entanto, ao lançar seu terceiro livro, Mardi, em 1849, Melville não alcança sucesso, uma vez que acrescenta a atmosfera melancólica e a análise introspectiva e psicológica na obra, fator que muito desagrada aos seus fiéis leitores, acostumados aos romances de aventura. Em 1850 se muda para uma fazenda com sua esposa e conhece o escritor Nathaniel Hawthorne que mora na fazenda ao lado. Algumas cartas enviadas a Hawthorne nesse período apresentam a desilusão e tristeza de Melville em ser reconhecido apenas por seus romances de aventuras e de exotismos.

Sua obra-prima e um dos maiores romances da história da literatura, Moby Dick, é publicado em 1851 e foi um fracasso de vendas. A  coletânea de contos de Melville, The Piazza Tales, na qual está inserida a obra do mês, Bartleby, é publicada em 1856. No entanto, o conto já havia sido publicado em periódicos três anos antes. Em 1863 o autor volta a viver em Nova York e passa a exercer a função de inspetor de alfândega.

sábado, 3 de setembro de 2011

Rabindranath Tagore (1861-1941)


Rabindranath Tagore (em bengali: রবীন্দ্রনাথ ঠাকুর), autor da obra do mês, nasceu em Calcutá em 07 de maio de 1861. Membro de uma família de reformadores religiosos e sociais cujo prestígio decorreu, em grande parte, do sucesso de suas atividades bancárias e comerciais junto à “British East India Company”, o autor viveu desde cedo em uma ambiência artístico-cultural vinculada ao movimento que ficou conhecido como Renascença Bengali.  Esse movimento questionou ortodoxias existentes na sociedade bengalesa da época, como por exemplo, o casamento, os dotes e o sistema de castas, bem como a resistência aos elementos estrangeiros no contexto de dominação imperialista [1]. Para o autor, um nacionalismo exacerbado e estreito era tão prejudicial quanto a dominação de um país pelo outro, sendo ambas as situações geradoras de conflitos.

Conhecido no ocidente pelos poemas reunidos em Gitanjali, que por sinal é a obra do mês, e pelo prêmio Nobel com que foi agraciado em 1913, Tagore dedicou-se também a outros gêneros textuais, escrevendo tratados históricos e filosóficos, peças de teatro e romances. Além disso, atuou como pintor (tendo exibido seus trabalhos em Moscou, Berlim, Paris, Birmingham e Nova York), compositor (de mais de 2.000 canções) e educador. De seu vínculo com a educação destaca-se a fundação da universidade Visva Bharati [2], que se encontra em funcionamento até hoje e responde à intenção, por parte do autor, de conectar a Índia aos demais países, ou seja, seu compromisso com um ensino universalista. 

Tendo estudado Direito na Inglaterra, Tagore foi laureado com o título de Sir pela Coroa Britânica em 1915 e neste mesmo ano travou contato pela primeira vez com Mohondas Gandhi, outra figura hindu que se destacou no século XX. Tagore teria sido o primeiro a chamar Gandhi de Mahatma (Grande Alma), tendo recebido deste os tratamentos "Grande Mestre" e "Sol da Índia", este último amplamente divulgado entre os indianos. Em 1919 renuncia ao título de Sir como forma de protesto pelo massacre de Jalianwallah Bagh.

Após receber o prêmio Nobel o autor viajou pelo mundo dando palestras e cursos, falando sobre suas obras e, principalmente, sobre suas teorias a respeito da educação. Travou contato com figuras de vulto da época. Além do já citado Gandhi, é possível elencar ainda os nomes de Victoria Ocampo, W.B. Yeats e Albert Einstein.

Tagore faleceu em 07 de agosto de 1941

[1] Para mais informações sobre a Renascença Bengali, acesse: http://en.wikipedia.org/wiki/Bengal_Renaissance (em inglês)

[2] Para mais informações, acesse o site da instituição: http://www.visva-bharati.ac.in/ (em inglês)

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832)

A obra do mês, Os sofrimentos do Jovem Werther (1774), conferiu a Johann Wolfgang von Goethe (Frankfurt am Main, 1749 – Weimar, 1832) um lugar de destaque no contexto intelectual alemão do século XVIII, particularmente, o transformou em um dos principais representantes do movimento Sturm und Drang (Tempestade e Ímpeto). Por sua vez, sua obra de maior fôlego, Fausto (produzido ao longo de sua vida, entre os anos de 1771 e 1811) o consagrou como escritor e pensador universal, seja pela beleza e grandiosidade poética de sua obra, seja pela relevância de seu conteúdo, marcado pelo autoconhecimento e pelo conhecimento da natureza, da mitologia, da literatura, da filologia, etc.

De sua autobiografia (Poesia e verdade, 1811), podem-se destacar o seu adoecimento em 1768 e as amizades com Johann Gottfried Herder (1744-1803) e com Friedrich Schiller (1759-1805). O primeiro evento obrigou Goethe a abandonar os estudos em Direito na Universidade de Leipzig, e a retornar à casa dos pais. Nesta ocasião, ele conheceu Susanna von Klettenberg, inspiração para um de seus personagens no romance Os anos de aprendizado de Wilhelm Meister (1829), mas, sobretudo, responsável por sua aproximação da religiosidade pessoal - em oposição à educação religiosa tradicional, já por ele questionada - e, por conseguinte, pela convicção no poder que o homem tem sobre si mesmo, evidenciado mais tarde em Os sofrimentos do Jovem Werther. Ainda no curso da doença, Goethe interessou-se por alquimia, astrologia e ocultismo, posteriormente presentes em seu Fausto.

Dois anos depois, Goethe retoma seus estudos em Estrasburgo, e nesta ocasião conhece Herder, responsável pela profunda admiração de Goethe pelo espirito clássico grego, para ele, presente em Homero e Shakespeare, e pela poesia popular alemã. Após se instalar em Weimar em 1775, Goethe tem primeiro encontro com Schiller. Em 1794 inicia-se a amizade, caracterizada por trocas longas e recíprocas de hospedagem, pelo desenvolvimento de um trabalho em conjunto (Xenien,1796) e por correspondências no período em que Goethe e Schiller formulam suas obras fundamentais, a saber: Teorias das cores (1805), Anos de aprendizagem de Wilhelm Meister (1829), Fausto (1811); Poesia ingênua e sentimental (1796), Wallenstein (1800), respectivamente.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Luciano Cânfora (1942-)

Luciano Canfora nasceu em Bari (Itália) em 1942. Após ser laureado em História Romana em 1964 com sucessivas especializações em Filologia Clássica pela Scuola Normale Superiori de Pisa, onde iniciou-se na vida acadêmica como assistente de História Antiga e posteriormente, Literatura Grega, tornando-se professor de filologia clássica da Universidade de Bari, onde compõe o Departamento de Ciências da Antigüidade.
Suas pesquisas e publicações versam principalmente sobre Demóstenes e Tucídides, e renovaram aspectos fundamentais das letras gregas. Publicou numerosas obras cujo parte considerável pode ser encontrada no país, constando entre outras Togliatti e i dilemmi della politica (1989), A biblioteca desaparecida: histórias da biblioteca de Alexandria (Cia. das Letras, 1989), Tucidide e l’Impero (1991), Le vie del classicismo 1 (1991), Vita di Lucrezio (1993), Storia della letteratura greca (1994), Il destino dei testi (1995), Ellenismo (1995), Teorie e tecnica della storiografia classica (1996), Le vie del classicismo 2. Classicismo e libertà (1997), Il mistero Tucidide (1999).
Atualmente é Professor de Literatura Grega e Latina na Universidade de Bari, além de coordenador científico da Scuola Superiori di Studi Storici di San Marino, além de membro de diversos institutos (como o Gramsci) comitês e publicações de vulto e reconhecimento na área e resenhista colaborador dos jornais La Stampa e Corriere della Sera.
Dirige a revista Quaderni di Storia (http://www.edizionidedalo.it/site/riviste-attive.php?categories_id=30&attive=1
) e dentre suas obras mais recentes publicadas no Brasil e em língua portuguesa, estão Crítica da retórica democrática (2007, Estação Liberdade) e A democracia - História de uma ideologia (2007, Edições 70).

terça-feira, 5 de abril de 2011

Fiódor Nikháilovitch Dostoiévski (1821-1881)


Neste mês, os Palimpsestos discutem a obra do ano, Crime e Castigo (1866) de Fiódor Nikháilovitch Dostoiévski (Moscou, 1821-1881). Apesar de se formar em engenharia na Escola de Engenharia Militar de São Petersburgo em 1838, Dostoiévski renuncia a carreira militar e dedica-se à sua vocação literária a partir de 1844. Sua primeira obra, Gente Pobre (1846), foi recebida com boas críticas e caracteriza-se por uma narrativa naturalista das cenas da vida urbana e dos tipos representativos das classes baixas. Nela já desponta um marco da literatura dostoievskiana: um “romance polifônico” que confere autonomia às vozes de todos os personagens. Em sua segunda obra, O Sósia (1946), também se revelam elementos marcantes dos grandes romances dostoievskianos¹. Nestas obras fazem-se presente a ambiguidade com que o escritor russo descreve seus personagens e a ação romanesca em que o ato de determinado personagem realiza possibilidades latentes em outros, ou seja, a ação de um personagem é independente, mas também revela gestos sobre os quais um outro projeta sua fantasia.

Sua carreira literária teve uma interrupção brusca em 1849, quando foi preso por envolvimento em conspiração contra o czar e condenado à pena de morte, a qual, contudo, foi substituída por quatro anos de trabalho forçado e quatro anos de trabalho militar como soldado raso na Sibéria.

Seus grandes romances são permeados por estas vivências no campo de trabalho forçado, por uma sensibilidade à representação da realidade e por uma profunda sondagem do interior humano. Seus personagens vivem uma inextricável ambivalência de sentimentos e atitudes; assim, eles são simultaneamente marcados pela falta, baixeza de sentimentos, pecado... e pelo desejo de transcendência, eternidade, culpa...

Conforme ressalta Bezerra, Dostoiévski autodefine-se como um homem que vive intensamente a dúvida, experimentando a descrença e a sede de crer. Tal oscilação marca sua própria vida, mas também a paisagem interior de seus personagens, encerrada em conflitos filosóficos, éticos, políticos e psicológicos².



1.Memórias do Subsolo (1864), Crime e Castigo (1866), O Idiota (1868), Os Demônios (1871) e Os Irmãos Karamázov (1878). 2.Texto elaborado a partir da leitura de BEZERRA, Paulo. Prefácio, em Crime e castigo. São Paulo: Editora 34; e PINTO, Manuel da Costa. Entrelivros: literatura russa, p.22-35.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Adolfo Bioy Casares (1914-1999)



Adolfo Bioy Casares, autor da obra do mês de março - "A invenção de Morel" (1940), - estreou na literatura quando tinha 22 anos, embora depois tenha renegado seus primeiros escritos. Nascido em Buenos Aires (cidade que marcará toda a sua obra), no dia 15 de setembro de 1914, ele veio a falecer na mesma cidade no dia 8 de março de 1999. O autor conquistou a admiração de leitores como Cortázar (que chegou a dizer que gostaria de ser Bioy), Octávio Paz e Otto Maria Carpeaux, além ter ficado conhecido pela parceria com Jorge Luís Borges na década de  1930, quando ajudaram a introduzir as vanguardas na Argentina, junto das irmãs Victoria e Silvina Ocampo, sendo que esta última veio a ser esposa de Bioy Casares. Juntamente com Borges, organizou coletâneas dos melhores contos policiais do mundo, apresentando autores até então desconhecidos, como Akutagawa, por exemplo.

A obra do mês foi traduzida para diversas línguas e inspirou o filme "O ano passado em Marienbad", de Alan Resnais.

Bioy recebeu diversos prêmios, como a Légion d'Honneur da França (1981) e o Prêmio Cervantes (1991). No Brasil, a editora CosacNaify ainda publicou do autor a coletânea de contos "Histórias Fantásticas", o romance "Sonho dos Heróis" e mais recentemente o romance fantástico "Diário da Guerra do Porco".
Para saber mais sobre a obra "A invenção de Morel", clique no link: Adolfo Bioy Casares

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Ivan Sergueievitch Turgueniev (1818-1883)

Romancista russo nascido em Orel, Turguêniev (1818-1883) foi o primeiro dos grandes romancistas russos a adquirir prestígio na Europa. Filho de um coronel reformado e de família rica, Turguêniev estudou em Moscou, São Petersburgo e Berlim. Voltando à Rússia, fixou residência em São Petersburgo e fez amizades com intelectuais como Nicolai Gogol e o crítico literário Vissarion Bielinski. Inicialmente escreveu peças teatrais como Meciats v derevne (1850) e publicou Zapiski okhotnika (1852), onde mostrou sua visão impressionista da natureza e seus retratos dos latifundiários e camponeses. Esse livro deu fama ao autor e influenciou bastante na futura abolição da servidão (1861), embora o tenha levado à detenção e a um banimento, por 18 meses, para a propriedade de sua mãe no interior da Rússia, onde escreveu vários contos como Mumu (1854) e seu primeiro romance, Rudin (1856). Após o confinamento, optou pelo exílio e passou a viver no exterior (1856), ora na Alemanha ora na França, vivendo com Pauline Viardot, cantora de ópera que conhecera (1843) e com quem se manteve ligado até sua morte, em Bougival, perto de Paris. Sua obra foi marcada por mostrar os anseios, os dramas e a alma do povo russo, documentando para a sociedade europeia as turbulentas transições sociais que ocorriam na Rússia de seu tempo. Nela estão inseridos contos admiráveis, como Pervaia liubov (1860), e numerosos poemas, além dos romances Dvorianskoe gnezdo (1859), Nakanune (1860), Otcy i dieti ou, como ficou mais conhecido entre nós, Pais e Filhos (1861), sua obra-prima. Ainda escreveu Dim (1867) e Nov (1876), o último dos seus seis romances.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004)

A portuguesa Sophia de Mello Breyner Andresen, autora da obra eleita para o mês de janeiro, nasceu em 1919, na cidade do Porto (Portugal). Descendente de dinamarqueses e de aristocratas portugueses, a escritora começou o curso de  Filologia Clássica na Universidade de Lisboa, confirmando a forte tendência humanística de sua formação e personalidade.

Preponderantemente autora de poesias, Sophia de Mello também se destacou como autora de livros infantis. Em prosa, chamam a atenção as histórias reunidas em Contos exemplares, que o grupo decidiu ler agora em janeiro. Também merece menção a sua posição engajada frente ao governo de Antonio Salazar, de que são testemunhas obras como Tempo DivididoO Livro Sexto. 

Um dado interessante que descobri pesquisando sobre a autora na internet foi que em 1956 ela publicou um ensaio intitulado A poesia de Cecília Meireles. Digo que achei interessante porque a poesia de Cecília, assim como a de Sophia, tem no mar um de seus temas mais freqüentes.

Laureada com o Prêmio Camões no ano de 1999, Sophia é uma autora relativamente pouco conhecida fora de Portugal, tendo alguns de seus livros traduzidos na França, na Itália e nos Estados Unidos. Mesmo aqui no Brasil, onde a língua original dos seus textos não deveria ser empecilho, não foi possível localizar com facilidade edições de sua obra.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Franz Xaver Kappus (1883-1966)

Não terá passado desapercebido aos leitores mais atentos uma curiosidade: quem foi, afinal, o destinatário das cartas de Rilke? De maneira mais imediata, só o que se sabe é que trata-se de Franz Xaver Kappus, um jovem aspirante a poeta que, em 1902, ao descobrir a coincidência de estudar no mesmo colégio onde, 15 anos antes, Rainer Maria Rilke havia estudado, resolve enviar-lhe uma carta com seus poemas para que estes sejam avaliados e ele possa ter confirmada ou não sua vocação literária.
É verdade que não é fácil descobrir muito mais sobre essa figura semi-desconhecida, uma vez que nem mesmo suas cartas ao poeta sobreviveram e, com isso, ficamos restritos ao conselhos de Rilke ao jovem Kappus. Porém, com algum esforço, e mesmo sem ler uma palavra em romeno (!!), consegui descobrir alguma coisa.
Franz Xaver Kappus nasceu na cidade de Timisoara, na Romênia, em 17 de maio de 1883 e estudou no colégio Sankt Pölten entre 1902 e 1908. As respostas a suas cartas escritas por Rilke foram publicadas pela primeira vez em 1929, em alemão, e somente em 1977 o livro foi publicado em romeno, pela Editora Timisoara Facla, com tradução de Ulvine e John Alexander. Os primeiros poemas de Kappus foram de matiz expressionista e mais tarde, além de escritor, viria a se tornar jornalista.
Durante a Primeira Guerra Mundial, Franz combateu como oficial do exército austro-húngaro e continuou trabalhando com o jornal literário Nachrichten Belgrader (Notícias de Belgrado).
Atuou inicialmente como combatente, mas depois foi nomeado assessor de imprensa.
Em 1918, a editora Ullstein & Co., de Berlim, publicou seu romance Die Vierzehn lebenden (Os quatorze sobreviventes).
No início de 1920, tornou-se editor do jornal Deutsche Wacht, que depois mudou seu título para Banater Tagblatt. Ao mesmo tempo, trabalhou no mais importante jornal da capital de Banat, o Temeswarer Zeitung e no saxão Volkspresse Suábia.
Publicou vários contos, desenhos e novelas. Em 1921 surgiu seu mais importante romance, Die im Peitsche Antlitz (algo como "Chicote no rosto") e, em 1922, Der Rote Reiter (O Cavaleiro Vermelho).
Em 1925 Kappus se estabeleceu em Berlim e publicou vários romances para o entretenimento, sem sérias pretensões literárias. Em 1935, publica o romance Brautfahrt Lena, sobre suas experiências em Timisoara.
Baseado em seu romance Der Rote Reiter, Kappus escreveu também o roteiro de um filme que leva o mesmo nome, realizado em 1934-1935 pelo diretor alemão Rolf Randolf.
Após a Segunda Guerra Mundial, o escritor tornou-se co-fundador do Partido Democrático Livre de Berlim e, em maio, publicou seu último romance, Flucht in die Liebe (Fuga para o amor), que trata da resistência anti-fascista.
O aspirante a poeta que deu oportunidade às cartas de Rilke morreu em 09 de outubro de 1966, em Berlin.
A partir destas informações não é possível saber exatamente quais são os acontecimentos da vida que o levaram para tão longe de onde Rilke havia indicado, mas se alguém conseguir ler romeno, aqui está uma obra que deve dar mais informações sobre o missivista, "Franz Xaver Kappus (1883-1966): Osterreichischer Offizier Und Deutscher Schriftsteller" (2006), de Kurt Adel. Como não encontrei nenhuma foto de Kappus, resolvi ficar com a capa do livro.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Rainer Maria Rilke (1875-1926)

Rainer Maria Rilke, considerado um dos maiores nomes da literatura em língua alemã, nasceu em Praga, então sob domínio austríaco, em 04 de Dezembro de 1875. Seus pais se separam ainda durante sua infância e Rilke fora destinado à carreira militar, chegando a ser internado em academias militares, dentre elas o colégio Sankt-Polten, onde também viria a estudar seu ilustre leitor, Franz Xaver Kappus (1883-1966). Após a conclusão da formação básica neste colégio, seguiu para o curso superior para sua formação como oficial, ocasião em que foi constatada sua inaptidão física (e vocacional) para a vida militar. Cursou a Academia de Ciências em Linz e tentou ainda alguns estudos de comércio, até ir estudar Arte e Literatura em Praga e dedicar-se à atividade de escritor. Escreveu inicialmente poemas considerados medíocres e que em nada sugeriam o grande poeta que viria a se tornar. Em Munique, onde leu a obra de Jens Peter Jacobsen e conheceu Lou Andreas-Salomé (com quem viria a ter um relacionamento amoroso), alcançou certo amadurecimento literário. Ainda no final do século XIX, fez suas primeiras viagens à Itália e também à Rússia, à convite de Lou. Durante suas viagens à Rússia (1889-1900), concebeu algumas das histórias que o tornariam célebre: “Histórias do Bom Deus”(1900), a parte inicial de “Livro das Horas” (1905) e “Canção de Amor e de Morte do Porta-estandarte Cristóvão Rilke” (1899). Em Worpswede, casa-se com a escultora Clara Westhoff e começa a conviver com diversos pintores impressionistas. Seu casamento dura pouco e, e mudando-se para Paris, torna-se secretário de August Rodin e escreve o “Livro das imagens” (1902). A influência de Rodin sobre suas obras é sentida em especial na coletânea “Novos Poemas” (1907-1908). É também em Paris e sua vivência da última década do século XIX que marcarão se romance “Os cadernos de Malte Laurids Brigge” (1910), uma das primeiras obras modernas do gênero em língua alemã.
Entre 1911 e 1914 viaja à Argélia, à Tunísia, ao Egito e à Espanha, até ir morar no castelo de Duino, perto de Trieste, o que o inspiraria a escrever suas “Elegias a Duino” (1923). A partir de 1919, fixa-se na Suíça, onde conclui suas “Elegias” e escreve “Sonetos a Orfeu”. O autor morre em Valmont, na Suíça, em 26 de Dezembro de 1926, após o prolongado sofrimento causado por uma leucemia.
A repercussão de suas obras e sua influência sobre outros autores será assunto para uma outra postagem.
-------
Fonte:
Theodor, E. (1980). A literatura alemã. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo.
Caeiro, O. (1983). Oito séculos de poesia alemã. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Anton Tchekhov


No mês de outubro, Anton Pavlovitch Tchekhov é o autor eleito pelo Palimpsestos. Assim, o grupo estende sua leitura sobre um dos maiores contistas da humanidade. Desta vez, pretendemos explorar livremente alguns dos seus contos “icebergs”¹ , das suas novelas e das suas peças teatrais. Tarefa que nos permite deparar com a sua riqueza literária: indo desde os textos marcados por gracejos e charges humorísticas do cotidiano (tais como, Nos Banhos de 1883; Caso com um clássico de 1883) àqueles em que se encontram uma fusão do humor com a acentuada exploração da existência e das mazelas humanas e com a indefinição e o inesperado própria da vida (tais como, Sonhos de 1886; Ventoinha de 1892; A dama do cachorrinho de 1899).


1 Expressão usada para se referir a riqueza interpretativa presente (nas entrelinhas) dos contos tchekhovianos. Entrelivros: literatura russa.

domingo, 12 de setembro de 2010

Антон Павлович Чехов (1860-1904)

Anton Pavlovich Tchekhov é o autor da obra escolhida para o mês de Setembro - o conto "A Dama do Cachorrinho" (1899). Nascido em Taganrog, uma cidade no sul da Rússia, em 29 de Janeiro de 1860, é considerado o escritor clássico russo responsável pela inauguração dos caminhos para literatura contemporânea, além de ter influenciado profundamente a prosa e o drama do século XX.
Filho de Pável Iegórovitch e Evgenija Jakovlevna e terceiro dos seis irmãos, descende de família pobre (seu avó fora servo até os 16 anos de idade de seu pai) e, na segunda metade dos anos de 1870, vê sua família mudar-se para Moscou, fugindo da falência em sua cidade natal.
Sozinho em Taganrog para concluir o Liceu, começa a escrever seus primeiros contos humorísticos e um pequeno drama conhecido como "Uma peça sem nome" ou "Platônov". Em 1879, aos 19 anos, parte para Moscou e inicia os estudos de medicina, além de dividir seu tempo com a escrita e publicação em várias revistas de Moscou e São Petersburgo. Capturando o microcosmo cotidiano em seus contos, o tema dominante nesta fase de sua produção parece ser o da ridicularização da normalidade e do bom senso vulgares, adepto da descrição curta e precisa.
Em 1884 forma-se em medicina e dá início a uma nova fase em sua obra, afastando-se dos contos humorísticos e mergulhando no essencial da existência humana. Publica, em 1888, a novela "A estepe", traçando um retrato da planície e dos tipos humanos da Rússia a partir da percepção de seu personagem central, o garoto Iegóruchka. Neste mesmo ano recebe também o prêmio Púchkin, maior laúrea literária concedida pela Academia de Ciências.
À esta altura, já possuindo fama, reconhecimento e recursos, vê sua tuberculose agravada e, em 1889, a morte de um de seus irmãos parece o estopim para que dê início a uma série de viagens pelo país, no ano seguinte, incluindo uma temporada de cinco meses na ilha de Sacalina, local de desterro para forçados e prisioneiros. Atua como médico, fazendo um levantamento da população e sua vida que, posteriormente, serão registrados no livro "A ilha Sacalina".
Já de volta à Russia, contribuiu com os honorários de suas obras nas campanhas de recolhimento de fundos para as vítimas da seca no leste da Rússia, além de ir pessoalmente, em janeiro de 1892, Niznij Novgorov, uma das cidades afetadas, e publicar seus relatos na imprensa, chamando a atenção para as condições da população. Tchekhov repete este trabalho em pelo menos mais duas ocasiões, por conta da cólera, além de participar de grêmios locais (zemstvo) em campanhas de informação sanitária e como médico.
Em 1892 adquire uma propriedade em Mélikhovo, uma vila a 70km de Moscou, onde volta a viver com a pais e irmãos. Ali passa seis anos trabalhando como médico no atendimento aos camponeses e ajudando no combate à epidemia de coléra, além de construir escolas para as crianças locais. A produção literária deste período é também das mais significativas, com os contos "Enfermaria nº 6", "Estudante" e "Os homens".
Inovador também na arte dramática, seus textos representam um ponto de partida para o novo drama que passa a ser encenado no Teatro de Arte de Moscou, sob a influência de Konstantin Stanislávski e Vladimir Nemiróvitch-Dântchenko. Dentre as peças mais famosas, temos "Tio Vânia" (1899), "As três irmãs" (1901) (que ganhou também uma versão cinematográfica) e "O jardim das cerejeiras" (1904).
A partir de meados dos anos de 1890 passa a manter a biblioteca de sua terra natal, torna-se curador de duas escolas, além de financiar a construção de outras duas, em cidades do interior, e apoiar uma sociedade de apoio a pacientes após a hospitalização.
Em 1896 surge a obra "A minha vida" e, em 1897, "Os camponeses", que testemunham a ruptura com as visões utópicas e românticas comuns nestes anos na Rússia. Tchekhov morre na cidade alemã de Badenweiler, em 1904, vítima da tuberculose.
Para concluir essa apresentação biográfica do autor que extraiu do prosaico uma narrativa capaz de nos surpreender e, ao mesmo tempo, fazer refletir sobre a vida humana, uma frase de Macha, uma das personagens de "As três irmãs":
"Ou sabemos por que estamos vivendo, ou tudo é uma bobagem e nada importa"

sábado, 21 de agosto de 2010

Mary Shelley (1797-1851)


Mary Wollstonecraft Godwin ou Mary Shelley (1797-1851), como ficou conhecida após adotar o sobrenome do marido − o poeta romântico Percy Bysshe Shelley −, é filha do filósofo William Godwin e da pedagoga e escritora Mary Wollstonecraft[1]. Apesar de ser frequentemente lembrada por sua obra Frankenstein: ou Moderno Prometeu (1818), Mary Shelley tem uma vida literária ampla. Com um espírito “[...] vivo, ativo, um grande desejo de saber, uma perseverança invencível.”[2], acredita-se que, aos dez anos de idade, ela publicou seu primeiro poema Mounseer Nongtongpaw.

Entre seus ensaios, dramaturgias e contos destacam-se: Mathilda (1820); Valperga (1823); The Last Man (1826); Lodore (1835) e Faulkner (1837). Após a morte do seu marido em 1822, Mary Shelley dedicou sua vida aos próprios escritos, à publicação e à promoção das obras de Percy Shelley.


[1] Seu pai destaca-se como precursor da filosofia libertária e do anarquismo. Sua obra mais conhecida é Inquérito acerca da justiça política (1793). Sua mãe é reconhecida como uma das primeiras feministas, com a publicação de A Reivindicação dos Direitos da Mulher (1792).

[2] Conforme retrata seu próprio pai. MAUROIS, André. Ariel ou a vida de Shelley. Rio de Janeiro: Editora Recorde, 1923, p. 94.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Franz Kafka (1883-1924)

Franz Kafka (1883-1924) dileto filho do judaísmo na Praga (atual capital e maior cidade da República Checa) do final do século XIX e início do XX, escrevendo literatura ficcional em língua alemã, vivendo num contexto em que tais particularidades, acentuaram ainda mais a singularidade de sua vida. Uma existência em que como advogado insatisfeito pelo ofício e filho oprimido pela família, em particular pelo pai, o fez imergir ativamente na vida cultural à qual a expressão da escrita deu-lhe vez e lugar para realizar-se e, nela, quase sublimando a mesma vida precocemente interrompida pela tuberculose. Suas experiências amorosas foram intensas, embora não plenamente realizada com o casamento desejado, assim como seu pedido, frustrado, ao amigo Max Brod a quem pedira a queima de todos seus escritos. A produção de sua lavra literária verte nos gêneros romances, novelas e contos, com narrativas e temas surpreendentemente simples quão brilhantes na abordagem, embora em sua maioria inacabados e publicados postumamente. A simplicidade genial que se percebe a partir dos títulos em obras como "Contemplação", "O veredicto" e "O foguista" (1912), "Na colônia penal" (1914), "Um médico rural" (1919), "Um artista da fome" (1922-1924), "Carta ao pai" (1919) e da tríade de suas obras mais conhecidas "O processo" (1914), "O castelo" (1922) e "A metamorfose" (1912). Ao conhecermos sua biografia, evidenciam-se a origem dos motes e das "fontes inspiradoras" para suas histórias, as mesmas que justificaram o termo "kafkiano" e alçaram o autor à consagração universal. Aquela que não conheceu em vida e, no entanto, o imortaliza numa perene influência que segue marcante na cultura universal.