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domingo, 1 de junho de 2014

2014: Novo Palimpsestos

Como pode ser o antigo também novo?
Como pode o mesmo, tornar-se outro?

A resposta possível compreende algo que é óbvio, mas também simples: mudando-se a essência, os usos e sentidos, as perspectivas em dimensões e horizontes sem perder o rumo e o prumo, o infinito possível à mente e aos pés, embora estes, sempre restritos ao chão, mas que a a alma e espírito podem compensar alargando os limites com as coisas do imaginável, mesmo que aparentemente inconcebível. Murilo Mendes (1901-1975), o célebre escritor juizforano-mineiro dizia: "só não existe o que não pode ser imaginado", assim temos uma premissa para reiniciar o projeto e empreendimento do Palimpsestos em outras formas e meios ou ao menos tentar.

E o que será esse novo Palimpsestos?

Um empreendimento que trabalha com oficinas e cursos relacionados a leitura, livros, leitores e bibliotecas, atuando em escolas, comunidades, empresas, faculdades e universidades e projetos ligados ao Terceiro Setor com a iniciativa privada e esfera pública.

Para maiores informações entre em contato:

Leonardo Rosa: prospervs@gmail.com (Especialista em Filosofia pela UFJF)

segunda-feira, 1 de julho de 2013

2013: mudanças silenciosas e novas outras leituras

No ano de 2013, o grupo Palimpsestos não aconteceu.
A proposta inicial pensada em sua fundação em 2009, não progrediu conforme pensada inicialmente pelos idealizadores que, cada um a seu modo, a desenvolveu e com ela seguiu em outros rumos e horizontes conforme outros interesses e demandas pessoais. As diferenças venceram o mínimo consenso e a unidade se desfez. Uns migraram para outros grupos, outros seguiram com suas vidas em mestrados e doutorados, estudando ou trabalhando, em suma: vivendo e lendo.
Contudo, esse "silêncio" foi fecundo para que ocorressem mudanças e redefinições acerca do que fazer da idéia e potencial nos promissores campo da educação e cultura. O que ficará para o ano seguinte de 2014 em outros formatos, com novos sentidos, usos e perspectivas. E em parte, os mesmos idealizadores e novos interessados, porque "tudo muda", mas também permanece.

sábado, 3 de março de 2012

"A Morte em Veneza", de Thomas Mann

Consoante à obra A Morte em Veneza, Thomas Mann decide fazer uma viagem à Itália com a esposa e o irmão, em março de 1911 e se instalam em Brioni, uma ilha na costa da Ístria. Todavia, o ambiente demasiado formal no hotel repleto de aristocratas não agrada aos viajantes e, assim, a 26 de Maio, decidem deslocar-se para o Lido perto de Veneza e se hospedam no Hôtel des Bains. E é aí que, de acordo com as palavras do próprio autor "uma série de circunstâncias curiosas e impressões aliadas à busca subsconsciente de algo novo que originasse uma ideia produtiva, conduziram ao desenvolvimento da história de A Morte em Veneza". A princípio, T. Mann imaginou uma história mais convencional e baseada no amor do velho Goethe pela jovem de 17 anos Ulrike von Levetzow, evoluindo depois para um enredo mais ousado, conforme os valores vigentes na época. Ao que consta, cada pormenor do livro traduziu fatos reais, desde os encontros no barco, até aos rumores da cólera. E o mais importante: Tadzio teve um modelo original, o conde Wladyslav Moes que, anos mais tarde confirmaria a exatidão com que Mann descrevera a sua mãe, irmãs e o amigo que regularmente o acompanhavam, recordando ainda que ambos estiveram conscientes de um homem que os observava atentamente. E foi Katia, a esposa de Mann, quem disse que o marido tinha se sentido bastante intrigado durante a estada em Veneza com um rapaz polaco de cerca de dez anos de idade. O modelo físico da outra personagem central da obra, Aschenbach, teria sido o compositor Gustav Mahler, de cuja morte haviam tomado conhecimento em Brioni e por quem Mann nutria sincera admiração.
Sobre a obra, duas questões cruciais se destacam: trata-se A Morte em Veneza de uma canção dionísiaca ou de uma fábula ética? E, em que plano é permitido pensar o amor de Aschenbach por Tadzio?
A primeira questão se relaciona com o fato de esta ser ou não uma obra neoclássica; o elemento apolíneo é detectável, no entanto, quando Aschenbach produz um ensaio na praia usando Tadzio como musa inspiradora, nota-se uma contradição, pois uma ocasião decadente dá origem a um manifesto neoclássico. Considerando-se ainda a permanente oscilação entre o apolíneo e o dionísiaco, pode-se reforçar a ideia de que o neoclassicismo da obra é apenas parcial. No que concerne à segunda questão, atentando num trecho do Fedro de Platão: "A paixão é a nossa sublimação e o nosso desejo será sempre o amor – é esta a nossa vontade e a nossa vergonha", conclui-se que o amor é visto como algo que se deseja mas que dificilmente se atinge e o artista não pode ser digno enquanto seguir o caminho errado, permanecendo um aventureiro dos sentimentos. Thomas Mann afirmou: "nós escritores não podemos ultrapassar o Eu, apenas o podemos desperdiçar em vergonha", ou seja, a vergonha de Aschenbach será a entrega incondicional aos sentidos e, consequentemente, ao não alcance da verdadeira essência do amor. O fim da obra coincide com a morte de Aschenbach que "segue o jovem até ao mistério prometedor", expressão enigmática de uma possível perfeição, ainda por vir...

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

"Meditações", de Marco Aurélio


Inspirado pelo Estoicismo, cuja doutrina é baseada em cultivar a impassibilidade diante do infortúnio, As Meditações constituem um diálogo do Imperador Marco Aurélio consigo. Muitas das inquietações apontadas no livro advêm de acontecimentos dramáticos que ele presenciou em sua participação nas campanhas militares. Contudo, ele não se atém aos acontecimentos nem trata de enfocá-lo simplesmente como um registro do que vê à volta. O seu intento consiste em retirar da própria experiência ensinamentos e comprovações encontrados no Estoicismo que lhe sejam de grande valor moral à existência.
Nessa perspectiva, se o curso do mundo obedece a um determinismo contra o qual é inútil lutar, o autor afirma taxativamente: “Para cima e para baixo, de um lado para o outro, de roda em roda, é este o monótono e enfadonho ritmo do universo. Tudo o que acontece foi preparado desde toda a eternidade; a sucessão de causas esteve sempre fiando a tua existência e o que te acontece" (Livro X, 5). E, mais adiante: “E nada pode transgredir a necessidade do destino e de uma ordem, nem a providência que ouve a súplica, nem um desgovernado caos sem finalidade. Se a Necessidade nada pode transgredir, por que resistes?”
Será que na ordem dos acontecimentos, é assim que todo o universo se manifesta? Eis, portanto, uma oportuna leitura a ser refletida...

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Gitanjali - Oferenda Lírica

A obra escolhida para leitura neste mês de setembro foi "Gitanjali" (pronuncia-se guitânjali), do indiano Rabindranath Tagore. Trata-se de uma coleção de 103 poemas que o próprio autor traduziu do bengali - idioma no qual foram inicialmente concebidos - para o inglês, publicada em 1912, com prefácio elogioso de W. B. Yeats. Na época, a recepção do opúsculo foi tão positiva que rendeu o Nobel de Literatura a Tagore em 1913, mesmo ano em que saía a tradução alemã da obra. A seguir foi vertida para o sueco, o francês (em tradução de André Gide), o espanhol e o turco.

No Brasil, destaca-se a tradução feita pelo poeta Guilherme de Almeida para a coleção Rubáiyát, da Livraria José Olympio (foto ao lado), hoje fora de mercado e disponível somente em sebos. Também existem traduções publicadas pelas editoras Coordenada de Brasília, Martin Claret e Paulus, esta última feita por Ivo Storniolo.

Até onde pude verificar [1], os poemas reunidos para a versão inglesa de Gitanjali não mantém correspondência com a obra homônima, escrita em bengali e que foi publicada em 1910. Na verdade, apenas 53 poemas foram retirados dessa versão original. Os demais foram selecionados de outras obras do autor, a saber:  Gitamalaya (16 poemas), Naivedaya (16 poemas), Kheya (11 poemas), Shishu (3 poemas), Chaitali (1 poema), Kalpana (1 poema), Achalayalan (1 poema) e, por fim, Utsarga (também 1 poema).

Os poemas de "Gitanjali" abordam a relação com o divino, sendo enquadrados pela crítica como poesia de cunho místico ou espiritual. Durante a leitura da obra, percebemos que a visão da divindade defendida pelo autor é distinta daquela que nos chega através do senso comum. Tagore propõe que cada ser humano busque encontrar-se com Deus de forma íntima e pessoal, em todos os espaços e momentos. Em muitos poemas essa busca é comparada ao cortejo do amante e a imagem do discurso amoroso é uma metáfora realmente válida, pois fala de uma busca que nem sempre se concretiza, mas que tem seu sentido e objetivo em si mesma.

[1] http://www.hcicolombo.org/pdf/Tagore.pdf#page=123 (em inglês)

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

O quanto leem os universitários brasileiros...

Em Agosto, a Andifes (Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior) divulgou pesquisa feita com 19.691 estudantes de graduação de universidades federais de todo o País, apresentando números consolidados do panorama nacional. A pesquisa, intitulada "O Perfil Socioeconômico e Cultural dos Estudantes de Graduação das Universidades Federais Brasileiras", permite, a partir, do cruzamento de dados, mapear e distinguir os cenários regionais no tocante a hábitos de leitura, frequência a bibliotecas, domínio de língua inglesa, prática de atividades físicas, estado de saúde mental e uso de tabaco, álcool, remédios, e drogas não lícitas. Por qualquer ângulo que se olhe, os resultados não são muito animadores. 
No que diz respeito aos hábitos de leitura, a UFMA (Universidade Federal do Maranhão) lidera o ranking dos universitários que não leem nada (23,34% dos estudantes) e ficou em quarto lugar entre os menos assíduos à biblioteca da universidade (28,5% dos graduandos não a frequentam). O primeiro lugar nesse quesito ficou com a Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio): metade de seus alunos sequer passa perto da biblioteca. Por outro lado, os estudantes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) são os que mais leem: 22,98% deles leem geralmente mais de dez livros por ano. O resultado nacional, tão divulgado nos meios de comunicação, é que os universitários brasileiros leem uma média de 1 a 4 livros por ano, índice bem abaixo do apresentado por outros países.
A pergunta que não quer calar é: o que fazer para reverter esse quadro. Nos comentários à divulgação dessa pesquisa, que encontrei ao montar a postagem, vi de tudo um pouco, até justificativas de estudantes dizendo não frequentar as bibliotecas de suas instituições por não encontrarem nada do que precisam por lá. Dá pra duvidar??? 
Para mudar um pouco a pergunta, os índices tão altos de não-leitores deve ser um sinal de alarme apenas para o público-alvo da pesquisa, isto é, estudantes de graduação? É claro que a situação não é simples, mas se a intimidade com o livro e a leitura não se constituem desde cedo, como esperar encontrar estudantes universitários que sejam exímios e dedicados leitores? É lá que eles deveriam se formar como tais? 
Não dá pra parar o fluxo dos dias e da história e começarmos do ensino básico, esperando que com o tempo os níveis seguintes sejam beneficiados, mas há de se ter cuidado com soluções paliativas, já que a entrada de um número cada vez maior de estudantes despreparados nas universidades, públicas e privadas, tenderá a mostrar, por muito tempo, quadros como este. Certamente o baixo índice de leitores nas universidades é um cenário alarmante, visto ser lá o local onde se espera que seja formado e aprimorado o potencial intelectual de um país e que, se lá as coisas estão assim, que dirá o mundo cá fora. A questão é - o problema pode ser tratado num único nível de ensino? A resposta todos parecem saber.
Não há dúvida de que há trabalho para muito tempo e cada vez mais parece ser consenso que é mais simples e efetivo que a leitura seja apresentada de forma significativa e prazerosa às pessoas bem antes do período universitário, até por que ainda hoje pequeníssima parcela da população brasileira chega até lá e a leitura não faz menos falta para aqueles que seguirão por outros caminhos, seja por falta de oportunidade ou por escolha.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

"O desespero humano"

Em meio às últimas sugestões e reflexões em torno da obra de Goethe, é oportuno apontar também um pouco do pensamento de Soren Kierkegaard, cuja vida tanto exerceu influência no desenvolvimento de sua obra. As inquietações e angústias que o acompanharam estão impressas em seus textos, incluindo a relação de angústia e sofrimento que ele manteve com o cristianismo/protestantismo. Não é por menos que ele tanto se dedicou pensar a subjetividade e as paixões humanas. Aliás, em dinamarquês, a palavra "inderlighed - interioridade" significa paixão, ardor, algo que é vivido com intenso ânimo e vigor. Para Kierkegaard, não se pode entender, portanto, a paixão como algo hermético. Por isso mesmo, ao pensar a subjetivdade, o filósofo de Copenhague pensou-a como uma verdade apropriada, antes, no interior do indivíduo. Fica, assim, a sugestão de se conhecer uma de suas grandes obras: O desespero humano.




terça-feira, 16 de agosto de 2011

"El principio del placer", de José Emilio Pacheco


Ao ler a postagem da Cíntia sobre Literatura Mexicana, não pude deixar de comentar com entusiasmo, defendendo o conhecimento, por parte dos brasileiros, da produção literária dos mexicanos. E, na esteira dessa necessidade de conhecimento, apresento a obra "El principio del placer", de José Emilio Pacheco, que conheci durante o intercâmbio na Argentina.
José Emilio Pacheco é principalmente poeta, embora também tenha escrito prosa. Uma das suas produções em "linha corrida" é justamente a coletânea de contos que ora comento. O que primeiro chama a atenção é a necessidade que o autor nos impõe de pactuar com o texto. Isto porque, para ele, o narrar não é simples, nem pode ser definido como sendo somente uma exposição de acontecimentos reais (ou imaginários).
Parece-me que, em sua opinião, a narrativa só pode ser completada em seu sentido com a cumplicidade do leitor, quem vai conectar as pontas soltas das muitas vozes que se enovelam para compor o relato. O texto, em Pacheco, reassume sua conotação original de tecido, de trama de vozes. Cabe ao leitor atribuir sentido a essas vozes que se cruzan, que se mesclam... 

domingo, 31 de julho de 2011

A Influência de Lessing em Goethe



A influência de Gotthold Ephraim Lessing (1729-1781) na literatura alemã do século XVIII em diante é bastante grande. Sua obra, baseada nas diretrizes da Aufklärung alemã, forneceu um forte e decisivo impulso ao movimento Sturm und Drang, assim como marcou gerações posteriores, como a de Heinrich Wilhelm von Kleist (1777-1811), por exemplo. Especificamente em Goethe sua influência é notável. Um exemplo claro disso é o fato de que em uma cena final do romance de Goethe "Die Leiden des jungen Werthers"(Os sofrimentos do jovem Werther) de 1774, há uma referência direta à obra de Lessing "Emília Galotti", de 1772. De acordo com Karin Volobuef[1] o destino de Emília seria o mesmo que o de Werther na medida em que ambos têm suas expectativas pessoais frustradas e, diante da alternativa de ajustar-se às circunstâncias, optam pela libertação mais extrema.

Referência:
[1] Volobuef, K. (2010) Introdução. Em Lessing, G. E. (2010) "Emília Galloti". (Organização e tradução de Karin Volobuef. São Paulo:Hedra. (Obra originalmente publicada em 1772)

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Multiletramentos

No último dia 20 de julho, às 8 horas, esteve presente na Faculdade de Comunicação a pesquisadora do Instituto de Estudos da Linguagem - IEL/UNICAMP, Inês Signorini. Na oportunidade, a professora e linguísta proporcionou aos alunos, do Mestrado Profissional em Gestão Pública - Caed/UFJF, uma reflexão sobre o uso das novas tecnologias e suas múltiplas faces em relação à leitura e aos seus novos processos de aprendizagem. Nessa perspectiva, o tradicional texto impresso agora aparece articulado a outras linguagens, como ocorre na tela do computador. À produção escrita de um blog, por exemplo, aparecem os vários recursos áudiovisuais, como vídeos, fotos, músicas, entre outros. Não se pode, portanto, analisar uma página da internet baseado somente na perspectiva da linguística; tornam-se necessários outros letramentos, diante de novos gêneros que se apresentam. Impõe-se, assim, um olhar a mais para as novas entrelinhas que surgem ao longo de uma tessitura, que já não é apenas grafocêntrica. Contudo, vale destacar que o virtual não deve ser uma negação do real ou vice-versa, apenas a confirmação de que hoje, mais do que nunca, contar tão somente com uma forma de linguagem é limitar o conhecimento, confirmando-se, também, que não é possível a alguém, em plena era digital, alienar-se do mundo. Enfim, uma vez que se trabalha em rede, todos os envolvidos no processo de produção de uma reflexão ou aprendizado são convocados a participar. No mais, as coisas estão sempre correlacionadas ao uso que se fazem delas... A tecnologia está em quase tudo e não se pode ignorá-la, mas ela não substitui o elemento humano... Ela está suscetível aos percalços que lhe são próprios, como, por exemplo, no fato de uma conexão que pode falhar, justamente naquele momento em que tudo deveria ser impecável... É por essas e outras que também é preciso ter sempre "uma carta a mais na manga", inclusive, na era digital...

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Goethe e Schiller

Com uma perspectiva estética até então inédita na literatura alemã, Goethe realiza em Os anos de aprendizado de Wilhelm Meister a primeira grande experiência literária para descrever e pensar a sociedade de seu tempo, tendo, no centro do romance, "a formação do indivíduo" - o Bildungsroman. E, para compartilhar entre outras questões a produção da referida obra, Goethe estabelece um estrito contato epistolar com o parceiro Schiller. São 136 cartas que vão de 1794 a 1803 e se encontram em Correspondência, obra com tradução recente de Cláudia Cavalcanti. Enfim, além da leitura conscienciosa do pensamento de dois dos maiores poetas do romantismo alemão, Correspondência traz o "brilho de um tempo" ou, melhor dizendo, o Zeitgeister...

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Pena não estar em Paraty... comentário sobre Michèle Petit, participante da Flip

Abro o jornal e vejo anunciarem, como parte da programação da FLIP, uma mesa redonda com a participação da antropóloga francesa Michèle Petit. Na mesma hora pensei: que pena não estar em Paraty, para ver e ouvir (ao vivo) Petit. 

Digo ver e ouvir ao vivo porque o nome dela não me é estranho. Conheci o trabalho de Petit por acaso, enquanto caminhava entre as prateleiras da El Ateneo, num sábado de manhã. O título de seu livro (capa ao lado) - Lecturas: del espacio íntimo al espacio público -, editado pelo Fondo de Cultura Económica, me chamou a atenção de tal modo que acabei por comprá-lo. E o li com encantamento e prazer, descobrindo uma conferencista que falava da leitura de um modo especial, constatando aquilo que todo leitor de literatura sabe: que cada leitura é um encontro capaz de acrescentar ao indivíduo elementos para ajudar em suas lides. Até onde pude apurar, o livro, infelizmente, não se encontra traduzido ao português.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Diário de um velho louco

 Jun'ichiro Tanizaki é um dos maiores expoentes da literatura japonesa do século XX. Expulso por inadimplência do departamento de literatura da Universidade Imperial, Tanizaki desde cedo participou da chamada "escola Tanbiha" que tinha como prioridade apenas a arte e beleza, em contraposição à escola naturalista da época. Em "Diário de um velho louco", o escritor nos apresenta a relação entre o ancião Utsugi e sua nora Satsuko, ex-dançarina de casas noturnas que usa de sua sedução para manipular seu sogro. Premido pela aproximação da morte, Utsugi, mesmo com seus 77 anos de idade, dá vazão à todos os seus instintos e entrega-se completamente aos prazeres do corpo. Como comenta Leiko Gotoda, "o universo de Tanizaki é intimista e centrado na sensualidade e no relacionamento físico entre as pessoas, e a infidelidade, fetichismo, tendências sádicas e voyeurismo não coíbem os personagens de realizar seus anseios, bem na tradição budista que desconhece a noção de pecado - ao contrário de outros escritores japoneses de sua geração, Tanizaki jamais viajou ao Ocidente e não era influenciado pelo cristianismo e suas normas morais". No Brasil, o livro foi publicado pela Editora "Estação Liberdade".

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Sobre "Livro e Liberdade": anotações de um encontro



No último encontro do grupo de leitura Palimpsestos, a obra de Luciano Canfora propiciou uma favorável ocasião para a discussão da relação livro-pessoa. Já em seu primeiro capítulo, Liber, pode-se observar o papel ativo e transformador do livro nesta relação. A exemplo de Dom Quixote, o livro pode compelir seu leitor a observar o real a partir de seu filtro e a arriscar-se em fazer o que foi lido. Outra relação totalizante com o livro pode ocorrer ao leitor de um livro só, quando este faz de sua leitura uma autoridade imperativa. Contudo, da leitura dedicada a um único livro, o leitor também pode decodificar e conquistar de forma mais profunda seu conteúdo, tornando-se, por conseguinte, um expert e um “adversário assustador”, conforme acredita Canfora, ao nos remeter às palavras de S. Tomás de Aquino: “o homem que só conhece um livro, mas que o possui bem, é um adversário assustador”.
Outras passagens dignas de nota são as referências às bibliotecas, descritas como “paraíso” em que o leitor perde-se em meio ao êxtase provocado pela visão dos livros, mas também como “campo de batalha” entre livros antigos e modernos. Além disso, podem-se observar duas concepções distintas de biblioteca: uma antiga, constituída por poucos livros e por livros estritamente necessários, os quais revelam o seu leitor; e uma moderna, em que vigora a posse de bibliotecas particulares unicamente como símbolo de prestígio social. Seus donos são referidos por Sêneca como bibliômanos no intuito de ressaltar a coleção ostentatória de alguém que não lê.
Por fim, no amor devotado ao livro, o autor não permite esquecer que devemos ser seletos e, citando D’Alembert, adverte sobre a necessidade de haver certa distância do que se lê para que se possa julgá-lo; e de apropriar-se pessoalmente da leitura, sem, contudo, esquecer-se de compartilhá-la.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

O livro de Praga

Escrito durante a viagem proporcionada pelo projeto "Amores Expressos" - que concedeu a 16 escritores um mês de estadia em uma cidade estrangeira para que escrevessem um romance que fosse ambientado naquele cenário -, "O Livro de Praga" de Sérgio Sant'Anna, considerado como um dos maiores e mais inventivos escritores da literatura brasileira contemporânea, tem como cenário a cidade que dá nome à obra. Divido em sete episódios que se comunicam, o livro narra as peripécias e fantasias eróticas do escritor Antônio Fernandes durante suas caminhadas pelas ruas de Praga. Dentre os vários casos do protagonista, pode-se destacar a pianista Béatrice Kromnstadt, a estátua de Santa Francisca e a boneca de pano Gertrudes. O livro retoma e aprimora todas as temáticas trabalhadas por Sant'Anna, como, por exemplo, o erotismo sem pudor, as perversidades e patologias sexuais e a ironia sobre a própria noção de literatura.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Ler e escrever em tempos de internet: questões de autoria

Antes que me tampem pedras dizendo que estou contra as novas tecnologias, devo salientar que esta postagem é apenas um comentário sobre a questão da autoria de textos que circulam na rede e que o escrevo por causa da recorrência de alguns equívocos, os quais são sempre indesejados. 

Na "terra de ninguém" em que se converteu a internet, os chamados grandes escritores assinam textos que suas penas provavelmente nunca escreveriam e, descuidados, muitos leitores continuam fazendo a divulgação dos referidos textos sem tentar descobrir a quem, de fato, deve ser creditada a autoria. Talvez para darem-se ares de conhecedores de Literatura, condição que certamente ajuda a montar um distinguido perfil virtual... Talvez por pressa ou, ainda, pela impossibilidade de conferir a autoria, de tão emaranhada que esta se encontra na rede.

Por conta disso, autores como Gabriel García Márquez, Luis Fernando Veríssimo e Clarice Lispector, entre outros, têm seus nomes frequentemente relacionados com textos que não escreveram e, o que é pior, textos que não guardam nenhuma relação com seu "estilo". O autor de Cien años de soledad, por exemplo, teria escrito um texto chamado La marioneta de trapo, que circula na internet desde 1999 e supostamente seria uma despedida preparada por ele pouco antes de morrer (sic). De acordo com o site quatrocantos.com, o verdadeiro autor seria um ventríloquo chamado Johnny Welch.


O brasileiro Luis Fernando Veríssimo, por sua vez, é dado como autor de uma infinidade de textos. Um deles, intitulado A vergonha, chegou a ser reproduzido em jornais por seu conteúdo: uma crítica ao Big Brother Brasil - o programa que todos criticam e, no entanto, se perpetua na televisão brasileira. Amparada, porém, na "assinatura" de Veríssimo a crítica ganharia mais peso. O escritor já desmentiu a autoria do texto em crônica enviada a Ricardo Noblat e que pode ser lida no blog deste último. Segundo o site e-farsas, o verdadeiro autor do libelo seria Marcelo Guido.

Também Clarice Lispector é indicada como autora de prosas e poemas que jamais escreveu. No caso dos poemas, a coisa fica ainda mais incongruente, pois a escritora não publicou nenhum e a única referência conhecida do fato de que tenha escrito poemas algum dia é uma carta que Manuel Bandeira enviou a ela pedindo desculpas por ter criticado alguns versos que Clarice lhe havia mostrado.

Quanto aos textos em prosa atribuídos à autora de A hora da estrela, o caso mais emblemático é o de Mude. O autor verdadeiro, Édson Marques, está movendo um processo na justiça contra o filho da escritora que, acreditando na autoria apontada pelos internautas, autorizou o uso do texto em um comercial da Fiat. Os desdobramentos do caso podem ser lidos em:  http://desafiat.blogspot.com/.

Apesar disso (e até de uma nota na revista Veja em 2003), o texto continua sendo creditado a Clarice Lispector, inclusive em contextos formais, onde, supõe-se, essa verificação de fontes deveria ser mais rigorosa. Por isso, causou-me um certo espanto a indicação de Clarice Lispector como autora do texto em questão na abertura do V Encontro Regional de Bibliotecas, realizado no mês passado em Juiz de Fora e já comentado aqui no blog.

Outro problema relacionado ao uso da internet é a questão do plágio - inclusive de e em textos acadêmicos -, mas como já me alonguei tratando das falsas autorias, deixo a indicação de um link com orientações da Capes sobre o tema:
http://www.capes.gov.br/servicos/sala-de-imprensa/destaques/4445-orientacoes-capes-combate-ao-plagio

sábado, 28 de maio de 2011

As tradições em Mia Couto

Embora marcantes as relações entre Brasil e África, o que os escritores africanos escrevem atualmente ainda não é tão conhecido por aqui. É oportuno, então, deixarmos um breve registro sobre uma das melhores obras do escritor moçambicano Mia Couto, Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra (2005).
Vale lembrar que no cerne das questões trazidas, pelo já premiado escritor, estão os confrontos e os rastros culturais decorrentes da colonização e do entrecruzamento de culturas em que se encontra Moçambique. De um lado, a visão do colonizador português; de outro, o terreno movediço de tradições, cuja linguagem propõe a necessidade constante de enfrentamento dos novos enunciados que decorrem dessa geografia cultural.
Assim é que a obra Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra se configura num grande embate de tradições culturais: aquelas dos povos do Índico, as dos antepassados, de matriz Bantu, e a que foi imposta pelo colonialismo. Sem referir-se diretamente a questões políticas, mas apontando os confrontos e conflitos de uma realidade comum a um dos países mais pobres do mundo, Mia Couto desenrola, de forma poética e crítica, as últimas décadas da história moçambicana: “Nenhum país é tão pequeno como o nosso. Nele só existem dois lugares: a cidade e a Ilha. A separá-los, apenas um rio. Aquelas águas, porém, afastam mais que a sua própria distância. Entre um e outro lado reside um infinito. São duas nações, mais longínquas que planetas. Somos um povo, sim, mas de duas gentes, duas almas” (p. 18)
É nesse cenário que o personagem Marianinho, um jovem universitário, retorna à sua terra natal para participar do inusitado funeral do avô, Dito Mariano, um defunto cuja morte continua incompleta. Enquanto aguarda pelo cerimonial fúnebre desse semidefunto (ou semivivo?), o estudante é testemunha de estranhas visitações através de pessoas e cartas que lhe chegam do outro lado do mundo. São as revelações de um universo cultural, tênue e ameaçado, que Marianinho reencontra, ao mesmo tempo em que se vê como um estranho para os familiares: “Me olham, em silenciosa curiosidade. Há anos que não visito a Ilha. Vejo que se interrogam: eu, quem sou? Desconhecem-me. Mais do que isso: irreconhecem-me” (p. 29).
Vivendo, assim, em espaços que comportam simultaneamente presença e ausência, os personagens da Ilha Luar-do-Chão representam o sujeito-objeto de uma travessia infindável, pela qual são instigados a buscar um meio de ingressar na contemporaneidade, tendo que enfrentar, para isso, o mundo de fuga e violência do passado colonial. É em meio a essa inusitada e comovente história que fica o convite para conhecermos um pouco mais das literaturas africanas e, em particular, da prosa coutiana...

terça-feira, 10 de maio de 2011

Dostoiévski & Graciliano Ramos



No encontro passado, dedicado a Crime e Castigo, não pude deixar de pensar em Graciliano Ramos e em seu romance Angústia, no qual também vemos um personagem atormentado após cometer um assassinato. Porém, Luis da Silva nunca se viu como um homem extraordinário que, por isso, poderia matar os que fossem por ele classificados como "ordinários". O personagem brasileiro se mostrou desde o início da narração (feita em 1ª pessoa) como um homem fraco, incapaz de afirmar-se na sociedade urbana que se constituía no país e o crime, para ele, é apenas uma forma de eliminar um homem que era seu contrário e o deixava desgostoso por conta disso.


Não vou, porém, me alongar na comparação das duas obras, pois não estou em condições de fazê-lo. Li muito mais Graciliano que Dostoiévski e apenas aponto uma possível intertextualidade. Seguramente, tanto o autor brasileiro quanto o russo merecem ser lidos.

Pesquisando um pouco na internet, descobri alguns trabalhos que tratam das aproximações entre Dostoiévski e Graciliano Ramos. Deixo os mesmos indicados abaixo, com os respectivos links:

A alma russa de um nordestino: Graciliano Ramos leitor de Dostoiévski. Dissertação de mestrado de Cristiane Guimarães Arteaga na qual, segundo o resumo, é traçado "um caminho de leitura em que os pontos de contato entre esses dois escritores pudessem ser percebidos sem, no entanto, privilegiar um ou outro." Disponível em: www.lume.ufrgs.br/handle/10183/5005

A 70 anos de Angústia, de Graciliano Ramos: visões da crítica. Artigo da professora Irenísia Torres de Oliveira, da Universidade Federal do Ceará, publicado na Revista de Letras em 2006, quando da efeméride de 70 de publicação do romance. O artigo trata de levantar a fortuna crítica do romance e aponta as duas principais correntes interpretativas: uma focada no aspecto psicológico da obra e outra no aspecto sociológico. Disponível em: www.revistadeletras.ufc.br/rl28Art23.pdf

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Bressane no IndieLisboa



O Festival Internacional de Cinema Indepentente, o Indie Lisboa, presta este ano tributo ao realizador brasileiro Júlio Bressane sendo, que o realizador estará em Lisboa para apresentar os seus filmes.

De entre a sua produção cinematográfica a retrospectiva do Festival inclui:  " Matou a Família e foi ao Cinema" (1969) , " Memórias de um Estrangulador de Loiras" (1971) , "Sermões- A História de Padre António Vieira" (1989) , " Cleópatra " ( 2007) e a "Erva do Rato" (2008). 

Esta retrospectiva  é organizada em colaboração com a Cinemateca Portuguesa e com o apoio da Embaixada do Brasil. 

terça-feira, 3 de maio de 2011

Dostoiévski & Machado de Assis

Entre uma pesquisa e outra para contextualização e aprofundamento da análise da obra e autor do mês, buscava na internet algum trabalho que relacionasse Dostoiévski ao universo literário brasileiro, mas não em termos de influência, conceito que a Literatura Comparada tenta hoje superar. E eis que nas minhas buscas encontrei o trabalho de Andrea de Barros.

Sua dissertação de mestrado, defendida em 2007 junto ao Programa de Pós Graduação da PUC-SP, tenta relacionar o autor russo com Machado de Assis. Para ela, na obra de ambos, existe um modo de narrar que é trabalhado para construir a dúvida, notadamente nas obras O eterno marido, de Dostoiévski, e Dom Casmurro, de Machado de Assis.

A quem tiver interesse, a dissertação pode ser encontrada no link:
http://www.sapientia.pucsp.br//tde_busca/arquivo.php?codArquivo=4447