sexta-feira, 24 de junho de 2011

Sobre "Livro e Liberdade": anotações de um encontro



No último encontro do grupo de leitura Palimpsestos, a obra de Luciano Canfora propiciou uma favorável ocasião para a discussão da relação livro-pessoa. Já em seu primeiro capítulo, Liber, pode-se observar o papel ativo e transformador do livro nesta relação. A exemplo de Dom Quixote, o livro pode compelir seu leitor a observar o real a partir de seu filtro e a arriscar-se em fazer o que foi lido. Outra relação totalizante com o livro pode ocorrer ao leitor de um livro só, quando este faz de sua leitura uma autoridade imperativa. Contudo, da leitura dedicada a um único livro, o leitor também pode decodificar e conquistar de forma mais profunda seu conteúdo, tornando-se, por conseguinte, um expert e um “adversário assustador”, conforme acredita Canfora, ao nos remeter às palavras de S. Tomás de Aquino: “o homem que só conhece um livro, mas que o possui bem, é um adversário assustador”.
Outras passagens dignas de nota são as referências às bibliotecas, descritas como “paraíso” em que o leitor perde-se em meio ao êxtase provocado pela visão dos livros, mas também como “campo de batalha” entre livros antigos e modernos. Além disso, podem-se observar duas concepções distintas de biblioteca: uma antiga, constituída por poucos livros e por livros estritamente necessários, os quais revelam o seu leitor; e uma moderna, em que vigora a posse de bibliotecas particulares unicamente como símbolo de prestígio social. Seus donos são referidos por Sêneca como bibliômanos no intuito de ressaltar a coleção ostentatória de alguém que não lê.
Por fim, no amor devotado ao livro, o autor não permite esquecer que devemos ser seletos e, citando D’Alembert, adverte sobre a necessidade de haver certa distância do que se lê para que se possa julgá-lo; e de apropriar-se pessoalmente da leitura, sem, contudo, esquecer-se de compartilhá-la.

Um comentário:

Ivan Bilheiro disse...

Me lembrei da sua biblioteca, com títulos bem selecionados. ;D
Quero ler o livro do Canfora. Pegarei com o Ailton! Abraços a todos!