Neste sábado, faleceu em Buenos Aires o escritor argentino Ernesto Sábato (1911-2011), autor de trajetória peculiar que, das ciências exatas (Física), se tornou pouco a pouco "homem de letras" com obras interessantes e geniais como O túnel (1948) e Sobre heróis e tumbas (1961), que lhe trouxe o definitivo reconhecimento literário, além de outros títulos.
Sinopse:
Em seus últimos quase 20 anos de vida andava com a saúde bastante debilitada, cego inclusive, o que naturalmente afetou seu ofício de escritor. Cabe notar que a cegueira também acometeu a seu contemporâneo e conterrâneo Jorge Luis Borges (1899-1986). Aliás, Sábato se reuniu com Borges, através de uma iniciativa do jornalista Orlando Barone na década de 70, para uma série de encontros, a fim de debaterem entre eles, mediados por Barone, uma série de temas, curiosamente atuais até para os dias de hoje, à parte alguns mais nostálgicos até para a própria época. Nada disso, porém, torna a leitura da obra que resultou de tais encontros menos interessante.
No Brasil saiu publicada pela editora Globo (2005, Org. Orlando Barone, 173 págs, R$ 32,00) uma prova inconteste do que pode resultar de encontros (mesmo informais) de dois grandes e brilhantes autores, tão diferentes entre si, e que permanecerão para a posteridade, ou a eterna atualidade da literatura.
Sinopse:
"O livro 'Diálogos Borges / Sabato' traz uma série de conversas realizadas no final de 1974 e começo de 1975 entre dois dos maiores escritores da literatura argentina e universal; Jorge Luis Borges e Ernesto Sabato. Marcados por profundas diferenças estéticas e políticas, os dois aceitaram conversar, com a mediação do crítico Orlando Barone, sobre muitos dos temas que aparecem na literatura de ambos e também sobre questões relacionadas à arte e à vida. Além de ser um emocionante depoimento, esses diálogos acabam se constituindo em alguns momentos como verdadeiras peças de crítica literária - é o caso, por exemplo, da leitura muito original que Sabato e Borges fazem de Dr. Jekyll and Mr. Hyde, a célebre novela de Robert Louis Stevenson. Também são antológicas as passagens sobre o Martin Fierro e sobre os problemas do ato de traduzir, inquietação borgeana por excelência que Sabato aceita debater com muito conhecimento de causa. Um dos momentos altos do livro é a passagem em que Borges admite, depois de alguma pressão de Sabato, que fora profundamente injusto com Miguel de Cervantes e seu romance fundamental, Dom Quixote. Tanto para os estudiosos do grande clássico como para os interessados na obra de Borges, a passagem é incontornável. Sabato e Borges, apesar de terem mantido durante toda a vida uma relação muito cordial, nunca foram amigos próximos. Muitas vezes, o diálogo resvala na polêmica, mas ambos procuram evitá-la, sempre lançando mão de um gesto cordial ou adotando a discórdia amigável como um meio de continuar a conversa. Antes de tudo, estamos diante de dois cavalheiros das letras. Também aparecem nos textos o problema da literatura fantástica, a relação de ambos com outros artistas importantes, como Bioy Casares e Xul Solar e inúmeras inquietações metafísicas e problemas teológicos, tudo sempre tratado com um fundo literário. Para os amantes da literatura, o livro 'Diálogos Borges / Sabato' é uma oportunidade rara para o mergulho nas inquietações de dois dos maiores escritores de todos os tempos."
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