Boécio ou Anicius Manlius Torquatus Severinus Boethius (470-525) é conhecido como "o último romano, primeiro escolástico", natural de Roma também estudou em Atenas Literatura, Filosofia e as disciplinas preparatórias: aritmética, geometria, música e astronomia. Sua erudição e qualidades pessoais era tais que lhe valeram a estima e o reconhecimento do rei dos ostrogodos, Teodorico, o Grande. Nomeado cônsul em 510 e mestre do palácio em 522, sofrerá revês pelo fato de Teodorico, sendo ariano, perder-se no medo ante possível ameaça pelas relações amigáveis entre Justino I, imperador do Oriente, e o Papa João I, amigo de Boécio. Assim quer sejam pelas perseguições dos arianos contra os católicos ou, decorrência da ameaça de conciliação entre Roma e Constantinopla, Boécio cai em desgraça em 523, sendo torturado e condenado à morte sem qualquer direito de defesa.
Na prisão escreverá uma das mais significativas obras da história da Filosofia: "A Consolação da Filosofia".
Na prisão escreverá uma das mais significativas obras da história da Filosofia: "A Consolação da Filosofia".
Estadista, teólogo, filósofo, cientista e poeta, Boécio desejou um renascimento dos estudos filosóficos e ansiava por traduzir toda a obra de Platão e Aristóteles, além de conciliar as doutrinas de ambos por meio de comentários. Contudo sua vida não foi suficiente para o empreendimento apesar de ter deixado grande número de obras. Pedro Alberlado (1079-1142) diria séculos depois: "...transmitiu em língua latina, por meio de textos próprios, traduções e comentários, quase todas as disciplinas das artes liberais."
Para Boécio a Filosofia é um gênero que se divide em duas partes:
1. Teórica ou especulativa, que se divide em três ciências, segundo três espécies de entes por conhecer, a saber: intellectibilia (intelectíveis), intelligibilia (inteligíveis) e naturalia (fisiologia).
2. Prática ou ativa, que se divide segundo os atos que realiza.
A física é "quádrupla via para a sabedoria", quadrivium retomado por Platão: aritmética, astronomia, geometria, música; a isso se acrescentam a gramática, a retórica e a lógica.
Além lógica e metafísica são empregadas com precisão por Boécio com o fito de definir os dogmas cristãos cujo racionalidade procura depreender, num autêntico e original esforço de síntese entre Filosofia e Teologia (esta constituída com ciência, deduzida segundo regras a partir de termos definidos previamente).
Seu pensamento e contribuição será retomado continuamente ao longo da tradição entre outros por Tomás de Aquino (1225-1274), será também um dos primeiros de desenvolver a noção de Pessoa, estará também na origem do célebre problema dos Universais e das querelas entre "realismo" e "nominalismo".
Com a beleza de seu estilo e a originalidade da forma alternando prosa e verso, mais a vivacidade do diálogo, cunhou sua marca que muito contribuiu para seu reconhecimento, junto de seu papel como tradutor de Porfírio ("Isagoge") e Aristóteles ("Organon").
Consagrado mártir e um dos Pais doutores da Igreja, a presença de Boécio ecoa pela tradição dos tempos e o torna uma das mais fundamentais referências na história do pensamento. Já à época em que as distâncias e diferenças entre as ciências eram como desde sempre, compreendidas apenas pelos raríssimos sábios como ele que permanece nos consolando desde então com sua vida e filosofia.
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