O cineasta argentino Juan José Campanella, que dirigiu também o "O Filho da Noiva"(2001), constrói uma história belíssima, na qual há espaço para algum humor, com muita força estética e uma trama muito bem amarrada. Quando tudo caminharia para o óbvio, ela retoma o pulso e outra história aparece. A fórmula é simples: um romance, um crime, a Argentina dos anos 70 como pano de fundo. O resultado, a história de Campanella levou o Oscar de melhor filme estrangeiro deste ano, frustrando as expectativas daqueles que apostavam no favorito, o alemão "A Fita Branca", de Michael Haneke e deixando para trás os outros três concorrentes, o israelense "Ajami", o peruano "O Leite da Amargura" e o francês "O Profeta".
A história é contada a partir da Argentina dos anos 90 e tem como eixo um crime ocorrido nos anos 70. O perito Benjamín Espósito (Ricardo Darín), já aposentado, resolve escrever um romance sobre o crime e passa a revisitar suas lembranças ao lado de seu assessor Pablo Sandoval (Guillermo Francella) e da advogada Irene Menéndez-Hastings (Soledad Villamil) no Tribunal Penal de Buenos Aires. Os fatos vão sendo apresentados aos poucos, realçando ainda mais a dimensão humana e realista da história. O contexto da ditadura argentina é mostrado de forma discreta, mas suficiente para desvelar os meandros da justiça e da política sob o governo de Isabél Perón (1974-1976). Um dos fatos reais mais evidentes na história é a ação, não declarada, da chamada "Triple A", a Alianza Anticomunista Argentina, um grupo de repressão do Estado que recrutou criminosos entre oficiais de polícia exonerados por delitos, civis com fichas criminais e matadores de aluguel para fazer frente aos eventuais opositores do regime.
Baseado no livro La pregunta de sus ojos, de Eduardo Sacheri, que trabalhou com Campanella no roteiro, acompanhou as filmagens e deu até alguns palpites, o filme alcançou o recorde de 18 semanas consecutivas no topo das bilheterias argentinas e, na sua sexta semana de exibição, já era o filme nacional de maior arrecadação no país, sendo considerado o mais visto dos últimos 35 anos.
O orçamento de 2 milhões de euros foi bem distribuído e a história filmada em sete semanas, com atores excelentes e surpreendentes (Francella, que interpreta Sandoval, é comediante mas saiu-se muito bem em cenas de forte carga dramática). O cenário é simples, passando por ruas e cafeterias de Buenos Aires, mas rouba a cena quando a história se passa no imponente edifício central dos tribunais e causa um bom impacto com o sobrevôo pelo estádio de futebol do Huracán.
"El Secreto de Sus Ojos" trouxe o segundo Oscar na categoria para nossos hermanos. O primeiro a levar a estatueta pra casa foi "A História Oficial", de 1985.
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