Em "
Bellvm Civile - A Guerra Civil" (1999, Estação Liberdade, 312 págs., Trad. Antonio da Silveira Mendonça, R$ 49,80) de Julio Cesar (100-44 a.C.) a raríssima oportunidade de encontrarmos um autor e personagem central da história no registro dos episódios em que protagoniza. Ao registrar sua perspectiva, César atua como um "historiador militar" e ao mesmo tempo quase inaugura um gênero, um tipo de "memórias" no contexto bélico e, este, enquanto ainda se desdobra no calor dos acontecimentos.
A edição bílingue da Estação das Letras (Latim/Português) traduzida e comentada pelo primoroso trabalho de Antonio da Silveira Mendonça, fornecendo um rico material para latinistas, historiadores do período em aspectos como o antigo, militar e cultural.
Sinopse:
"Este contundente testemunho político e militar que aborda a luta dos anos de 49 e 48 a.C. pela supremacia de Roma, travada entre dois gigantes da História Antiga, Júlio César e Cneu Pompeu, apresenta uma narrativa repleta de lições preciosas sobre o uso (e desuso) da informação em notável maquiavelismo avant la lettre, como bem frisam valiosas notas de Antonio da Silveira Mendonça para esta tradução, e constitui talvez o primeiro exemplo de trabalho de marketing político visando à opinião pública no que em Roma havia de democracia direta. César (100-44 a.C.), exemplo de soldado ímpar, homem de Estado e escritor, notabilizou-se no exterior pela conquista e "pacificação" da Gália Transalpina e em Roma por uma atividade política febril apoiada nos populares, em oposição ao establishment capitaneado pela aristocracia. As posições irreconciliáveis entre os dois partidos levam à ruptura no inverno de 49 a.C., quando o Senado consegue atrair para suas hostes a figura de Pompeu, general de grande prestígio e ex-genro de César, seu antigo aliado. Uma vez conquistado o poder em Roma após a longa sucessão de confrontos dos quais este livro relata em grande parte, César introduziu reformas modernizantes de Estado, que viriam a coroar sua marca na História tanto quanto os sucessos bélicos, tornando-o detentor de imenso poder em toda a bacia mediterrânea. Mas, como a História não deixa de apreciar uma refinada ironia, o Imperator todo poderoso acabou assassinado em 44 a.C. aos pés da estátua do rival Pompeu, que sucumbira também ele sob golpes traiçoeiros aos final dos acontecimentos aqui narrados. O leitor terá a oportunidade de seguir os passos do general transformado em historiador, narrando a luta fatricida pelo poder nos quatro cantos do Mediterrâneo, na antiga Hispânia, na Gália (o famoso cerco de Marselha com sua impressionante parafernália de máquinas de guerra), na própria Itália, no Ilírico (onde Pompeu impôs dupla derrota a César), na Grécia, onde foi travada a batalha de Farsália, que entrou para a História não só porque colocou frente a frente cerca de 70 mil homens, mas porque consagrou o gênio militar de César, que teve de empregar todo seu talento estratégico e tático para derrotar um exército quase duas vezes mais numeroso. Sem esquecer o Egito da sedutora Cleópatra onde César, acuado mesmo após a morte de Pompeu, teve de provocar o trágico incêndio de Alexandria.Mas, verdadeira Fênix ressurgindo dos areais do norte da África, o campo de Pompeu ainda teria seus dias de glória, mormente numa península ibérica de ampla clientela pompeiana; lá, se não se colocasse aos berros e de espada em punho à frente de suas tropas extenuadas, dificilmente César teria revertido uma batalha quase perdida (Munda, 45 a.C.).
Mas isso já foge à abrangência deste Bellvm Civile, este revelador e ferinamente mordaz exercício de prosa de César, que seria assim avaliado por ninguém menos que Cícero em seu Brutus (75, 272): "Suas memórias (comentarii) são excelentes, despojadas, diretas, sem ornamentos, como um corpo a que se tiram as roupas. Querendo fornecer material aos futuros historiadores, agradou aos ineptos; aos sensatos, tirou a vontade de escrever."
O Editor
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