domingo, 6 de fevereiro de 2011

Reihard Jirgl - Prêmio Georg Büchner de 2010


O Prêmio Georg Büchner de 2010 foi concedido ao autor berlinense Reinhard Jirgl e entregue em cerimonia realizada  no Teatro Municipal de Darmstadt em 23 de outubro do ano passado. Na antiga Alemanha Oriental, ele passou anos escrevendo sem publicar, mas hoje já faz parte do 'mainstream' literário alemão. Jirgl muitas vezes causa dor aos leitores, declarou o crítico e jornalista berlinense Helmut Böttiger em seu discurso de homenagem ao autor premiado. Em seus romances, Jirgl usa elementos da cultura trivial e televisiva que escapam, no entanto, a qualquer consenso. O premiado é o tipo de escritor contra o qual os professores de literatura sempre advertiram, constatou Böttiger. Ele representa algo de incômodo e seus romances costumam ser associados à cor negra. No entanto, ressalvou o crítico, esse negro tem um efeito esclarecedor.

Ele escreve sobre os horrores da Primeira e da Segunda Guerra, a inflação, a fuga e o desterro, o trauma da separação e da reunificação dos dois Estados alemães: em seus romances Die Stille (O Silêncio) e Die Unvollendeten (As Incompletas), Jirgl não omite nenhum grande tema do século 20. Rupturas de vida e situações limítrofes fascinam o escritor de 59 anos, cuja própria biografia é repleta de rompimentos e recomeços. Jirgl escreveu seis longos romances que não puderam ser publicados. Em 1983, quando enviou sua primeira obra, Mutter Vater Roman (Romance de Pai e Mãe), à editora Aufbau, em Berlim Oriental, recebeu uma recusa de publicação, sob alegação de que o livro não tinha uma concepção histórica marxista.

Reinhard Jirgl não se deixou desencorajar, muito pelo contrário. Continuou escrevendo seus romances nos bastidores e para tal até desistiu de sua profissão de engenheiro, passando a ganhar a vida como técnico de iluminação do teatro Volksbühne, em Berlim. No ano da reunificação alemã, ele finalmente conseguiu publicar seu primeiro romance, que na época não chegou a ter uma grande repercussão. Só em 1993, o autor berlinense se tornou conhecido por um público mais amplo. Foi quando recebeu o Prêmio Alfred Döblin por seu romance Abschied von den Feinden (Despedida dos Inimigos) e foi incorporado definitivamente à lista de autores da editora Carl Hanser, onde publica até hoje. Em 1996, Jirgl abandonou suas atividades como técnico de palco e passou a viver só da literatura. O Prêmio Georg Büchner, o mais importante da Alemanha, representa um novo impulso para a carreira de Jirgl, que chegou a ser denominado por um crítico de "bate-estacas da literatura contemporânea". Afinal, seus livros não são de fácil digestão. Para começar, sua ortografia peculiar já dificulta a leitura. Jirgl costuma colocar sinais de pontuação no início da frase, como o ponto de interrogação, por exemplo. "Isso interrompe o fluxo normal e linear de leitura, mas também faz o leitor refletir", elogia Klaus Reichert, presidente da Academia Alemã de Língua e Literatura/Poesia, que concede o Prêmio Büchner desde 1951. Jirgl escreve com grande paixão e sensibilidade narrativa sobre as rupturas e catástrofes do século 20, caracteriza Reichert. "Resolvemos premiar um escritor que tem a ousadia de usar a linguagem para escrever algo que não pode ser digerido tão facilmente", justificou. Ao receber o prêmio, Jirgl se alinha a uma série de grandes escritores do século 20 que também o mereceram, entre os quais Friedrich Dürrenmatt, Heinrich Böll, Erich Kästner e Elfriede Jelinek.

*Este texto é uma adaptação do original em alemão que se encontra no seguinte endereço:

http://www.dw-world.de/dw/article/0,,6143898,00.html

Nenhum comentário: