Embora se devam considerar devidamente as diferenças históricas e culturais que separam o contexto de Pais e Filhos em relação à atualidade, na essência, o que põe em confronto o mundo de "pais e filhos" é um desafio de todos os tempos. Aliás, aí está o mérito que faz da obra de Turgueniev um clássico.
Hoje, obviamente, as transformações culturais prosseguem ainda mais aceleradas em todas as esferas, apontando muitas vezes o definhamento e a consequente perda de espaço e controle social por parte de instituições, que, durante tanto tempo pareciam incontestáveis, como: o Estado, a Igreja, a Família, a Escola... Valores tradicionais que eram apontados como insuperáveis em outros tempos resvalam hoje a perda de sentido. Mas está “tudo” diluído, de fato? Até onde Turgueniev alcançou a questão chave de sua obra mais conhecida, o nihilismo? Pela última discussão de Pais e Filhos, no Palimpsestos, o personagem central, Bazarov, foi a encarnação nihilista, segundo a pena de Turgueniev, que melhor poderia esboçar, ao menos em parte, o espírito de uma época, tanto diante de uma Rússia marginal em relação à Europa mais moderna, quanto em relação ao que pensaria Nietzsche, pouco depois do lançamento de Pais e Filhos.
Afinal, da doutrina, segundo a qual o absoluto não existe, como já afirmavam na Antiguidade o sofista Górgias e, de uma maneira geral, os céticos gregos, à etimologia latina, nihil – o nada, é no século XIX que o nihilismo constitui, a princípio, uma corrente de pensamento – professada também por intelectuais russos por volta de 1860-1870, como Dobrolioubov, Tchernychewski e Pisarev – caracterizada, sobretudo, pelo pessimismo metafísico e como prolongamento do positivismo de Comte.
Sendo assim, não resta dúvida que a perspectiva do médico Bazarov sugere todo um olhar especial em torno do projeto de se construir a sociedade sobre bases científicas, insinuando, inclusive, a fórmula de Dostoievski: “Se Deus não existe, tudo é permitido”. De qualquer forma, nas consequências disso, o nihilismo também se confundiria mais tarde com o individualismo anarquista que visava à destruição do Estado.
Porém, o nihilismo denunciado e anunciado por Nietzsche seria a única saída do homem civilizado, no caso, o nihilismo ativo, aquele que deveria ser assumido com toda coragem pelo verdadeiro homem, o único capaz de se assumir plenamente diante de sua finitude, porque múltiplo de opções diante de sua própria vida. Esse homem, sim, iria além daquele nihilismo passivo, que apenas descrê em meio ao vazio estéril da metafísica legada pela tradição ocidental, como também iria além daquele nihilismo reativo, que se apoiou numa ciência, cujo conhecimento não passou de um antropomorfismo do mundo, válido somente para o homem em determinadas circunstâncias. Impossibilitada, assim, a substituição de Deus pela ciência, para Nietzsche, novamente foram frustradas “as certezas” do homem moderno, ainda tão frágil diante de si mesmo.
Enfim, como se percebe, Pais e Filhos é mais do que um pálido confronto entre gerações, é a possibilidade de se voltar a questões prementes e ao mesmo tempo insolúveis, pois, na essência e "roseanamente", o que existe é o homem...
Hoje, obviamente, as transformações culturais prosseguem ainda mais aceleradas em todas as esferas, apontando muitas vezes o definhamento e a consequente perda de espaço e controle social por parte de instituições, que, durante tanto tempo pareciam incontestáveis, como: o Estado, a Igreja, a Família, a Escola... Valores tradicionais que eram apontados como insuperáveis em outros tempos resvalam hoje a perda de sentido. Mas está “tudo” diluído, de fato? Até onde Turgueniev alcançou a questão chave de sua obra mais conhecida, o nihilismo? Pela última discussão de Pais e Filhos, no Palimpsestos, o personagem central, Bazarov, foi a encarnação nihilista, segundo a pena de Turgueniev, que melhor poderia esboçar, ao menos em parte, o espírito de uma época, tanto diante de uma Rússia marginal em relação à Europa mais moderna, quanto em relação ao que pensaria Nietzsche, pouco depois do lançamento de Pais e Filhos.
Afinal, da doutrina, segundo a qual o absoluto não existe, como já afirmavam na Antiguidade o sofista Górgias e, de uma maneira geral, os céticos gregos, à etimologia latina, nihil – o nada, é no século XIX que o nihilismo constitui, a princípio, uma corrente de pensamento – professada também por intelectuais russos por volta de 1860-1870, como Dobrolioubov, Tchernychewski e Pisarev – caracterizada, sobretudo, pelo pessimismo metafísico e como prolongamento do positivismo de Comte.
Sendo assim, não resta dúvida que a perspectiva do médico Bazarov sugere todo um olhar especial em torno do projeto de se construir a sociedade sobre bases científicas, insinuando, inclusive, a fórmula de Dostoievski: “Se Deus não existe, tudo é permitido”. De qualquer forma, nas consequências disso, o nihilismo também se confundiria mais tarde com o individualismo anarquista que visava à destruição do Estado.
Porém, o nihilismo denunciado e anunciado por Nietzsche seria a única saída do homem civilizado, no caso, o nihilismo ativo, aquele que deveria ser assumido com toda coragem pelo verdadeiro homem, o único capaz de se assumir plenamente diante de sua finitude, porque múltiplo de opções diante de sua própria vida. Esse homem, sim, iria além daquele nihilismo passivo, que apenas descrê em meio ao vazio estéril da metafísica legada pela tradição ocidental, como também iria além daquele nihilismo reativo, que se apoiou numa ciência, cujo conhecimento não passou de um antropomorfismo do mundo, válido somente para o homem em determinadas circunstâncias. Impossibilitada, assim, a substituição de Deus pela ciência, para Nietzsche, novamente foram frustradas “as certezas” do homem moderno, ainda tão frágil diante de si mesmo.
Enfim, como se percebe, Pais e Filhos é mais do que um pálido confronto entre gerações, é a possibilidade de se voltar a questões prementes e ao mesmo tempo insolúveis, pois, na essência e "roseanamente", o que existe é o homem...
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