quarta-feira, 21 de abril de 2010

"Il cavaliere inesistente"


Quais imprevistas idades de ouro prepara, você, malgovernado, você, precursor de tesouros que custam muito caro, você, meu reino a ser conquistado, futuro...

Com estas inquietantes palavras termina a obra eleita para o mês de Maio, um exemplar de literatura delicada e bem-humorada, capaz de nos fazer sair, prazerosamente, do mundo real rumo ao fantástico.

Com esta garantia, a obra "O cavaleiro inexistente"(1959), de Ítalo Calvino, inaugura nossa estada na literatura italiana.

Integrante da trilogia "Os nossos antepassados", com a qual sua produção ganhou fama internacional nos anos 50, a obra mergulha no passado, "onde ainda era confuso o estado das coisas no mundo" para contar a história de Agilulfo Emo Bertrandino dos Guildiverni e dos Altri de Corbentraz e Sura, um paladino da França sob o comando de Carlos Magno.

Nesse romance de cavalaria às avessas, Calvino narra as aventuras desse singular cavaleiro cuja existência se encerra numa impecável armadura branca. Desafiado a provar os méritos de sua condição, Agilulfo sai atrás de "uma virgindade perdida quinze anos atrás" e passa a viver inusitadas situações num mundo mágico, no qual sua presença nos incita a questionar as práticas e valores do mundo real.

É nesta mesma atmosfera que se situam as duas outras obras da trilogia, "O Visconde Partido ao Meio" (1952) e "O Barão nas Árvores"(1957). O primeiro conta a história de um homem que acaba dividindo-se em dois: um totalmente bom, outro totalmente mau. Já "O Barão nas Árvores" conta a história de Cosimo de Rondò que, depois de se revoltar com a obrigação de tomar uma sopa de escargots, passa a viver suspenso nos ramos das árvores, à meio do caminho entre a terra e o céu.

Reservando risadas certas, é em meio a esse universo fantástico que vai se tecendo a história de Agilulfo, Torrismundo, Rambaldo, da viúva Priscila e muitas outras personagens que, além da própria narrativa, questionam as reais certezas do leitor. Afinal, se em algum momento "Nem nós sabíamos que estávamos no mundo... Também a existir se aprende..."

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