segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

" Zaza"




Temo não conseguir precisar o que primeiro me encantou e despertou a minha curiosidade, se a figura feminina dona de um génio forte e detentora de um punhado de segredos impraticáveis ou qualquer outra particularidade literária.
Assim, julgo que o mais correcto seria recorrer á seguinte afirmação atribuída á autora; “Nós, para os outros, apenas criamos pontos de partida.” Transportada nas suas próprias palavras surgiu Beauvoir, como um ponto de partida. Ponto de partida esse, que teve a sua origem numa das suas obras biográficas intitulada “ A Cerimonia do Adeus “ . Apesar da existência de uma vasta e rica obra, primeiramente optei pelas suas memórias, que reflectidas nas suas vivências, deixam a nu todos os seus pensamentos e ideias perante a vida.
“ A Cerimonia do Adeus”, no entanto, não guarda as memórias da sua autora mas sim, de uma vida que não lhe era vedada mas da qual era inteiramente cúmplice. Jean-Paul Sartre é assim, retratado nos seus últimos anos de vida pela sua companheira que assim, dedica as suas páginas, muitas das quais embebidas em fel “àqueles que amaram Sartre, que o amam, que o amarão.”
Entre as mais árduas dificuldades e as mais espontâneas alegrias nasce uma descrição que premeia pela verdade com que é relatada. As diferentes provações passadas ao nível da saúde do filosofo bem como os seus relacionamentos com as suas inúmeras amigas, sem as quais não conseguiria aceder á mais simples alegria de viver, são alguns dos momentos presentes.
Através deste testemunho representado por Beauvoir não só é possível tocar nesta peculiar história de amor que vagueia entre alguns dos mais importantes conflitos políticos do século XX até ás maravilhosas leituras cuja função seria preencher um serão, como é também possível tocar a mulher para além de qualquer activista ou intelectual.
Não poderei dizer até que ponto a autora desejará afastar-se da sua própria narrativa, focando essencialmente os anos que antecederam a morte de Sartre no entanto, é notável a facilidade com que uma e outra se fundem conduzindo o leitor numa espécie de trilho até á mulher que culminaria em Beauvoir.
È assim, possível observar que mesmo representando dentro das suas palavras apenas e unicamente o papel de companheira do filósofo existencialista, o seu intimo é também posto a descoberto aos olhos daquele a lê.
“ A Cerimonia do Adeus”, é pela primeira vez editada em 1981, fase em que talvez por se encontrar sobre um forte abatimento devido á morte de Sartre, Beauvoir transmite uma determinada sensação de fim. Já nada haveria a esperar.
Tendo em conta todo o percurso anterior da escritora, a sua importância fundamental no movimento feminista bem como, todo o seu trabalho filosófico acerca da condição da mulher e a exploração de muitos motes existencialistas nos seus romances, o pensamento e a vida partilhada com Sartre ajudaram em muito á sua construção. Construção, essa contudo, que acredito ter tido inicio, na sua infância com a amizade entre a escritora e Zaza.
Julgo que poderá ser dito que foi com Zaza que surgiu a Beauvoir dada a conhecer através das suas memórias. O Amor, a admiração sentida por Zaza, relatada numa outra obra biográfica “ Balanço Final ( 1972)” , fizeram nascer na menina anseios inconvenientes que determinariam a mulher notável cujo reconhecimento é unânime.

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