
Na célebre obra "Os Ensaios" examina com riqueza inigualável detalhes e aspectos das biografias de grandes homens, fatos históricos, da política, das instituições e costumes, filosofias e opiniões, religiões e sociedades, fazendo desta obra uma síntese única sobre o humano, e marco inaugural do gênero literário - ensaios. O mesmo que da filosofia à história, perpassa uma série de outras áreas (estas contemporâneas) e que em todas contribui positivamente, como no ensaio "Dos canibais" (Livro I, Cap. 31), considerado um dos textos fundadores da Antropologia. Como profundo conhecedor da Filosofia e de sua tradição, é marcado pelo pensamento de Pirro de Élis (360 a. C. - 270 a. C.), dai um ceticismo que lúcido e crítico, consciente e atento de raro equilíbrio com sua profunda cultura e erudição, se põe a analisar e refletir sobre a vida. Por influência do pai enveredou no direito exercendo a magistratura em Périgoux, depois Bordéus, quando constitui amizade com Étienne de la Boétie (1530-1563), tendo ainda participado da vida na corte quando em Paris, num período turbulento da história da França, quando se encontrava envolta nas chamadas "guerras de religião", disputada e dividida entre católicos e "huguenotes" protestantes da crescente Reforma que se expandia pela Europa.
Por volta dos 34 anos, retira-se da vida pública para dedicar-se exclusivamente à reflexão e redigir sua obra, os primeiros dois tomos que o tornariam célebre, pouco depois viaja pela Europa e na Itália faz a parte do trajeto que muito o marca e tomaria como uma "viagem filosófica", assim como anos depois fariam outros como Göethe, no qual ao retornar, descreve na obra "Journal de Voyage" publicada somente em 1774.
A obra "Os Ensaios" ganharia três versões: 1580 (com dois volumes) e 1588 quando aparece o terceiro volume, contudo, somente em 1595 aparece a edição póstuma, com acréscimos e correções feitas por Montaigne, considerada desde então a edição definitiva.
Se estes Ensaios tratam do auto-retrato de seu autor, como afirma o próprio, nos impressiona como em sua reflexão, instrospecção para registrar a si mesmo no que possui de mais singular, Montaigne acabe por retratar o homem em sua complexidade e natureza mais universal.
Uma obra e pensador imprescindíveis como o próprio e imperioso esforço de auto-conhecimento que cabe a todos, leitores ou não dos Ensaios, mas autores dos próprios na vida que nem sempre providos deste exercício, que tão bem realizado Michel de Montaigne de si mesmo, é por isso também de todos nós.
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