Candidato russo ao Oscar 2010, Enfermaria No. 6, baseado em uma história de Tchekov, é um filme curioso que, empregando a relação entre um psiquiatra e seu paciente num hospício, não tem o menor receio de empregar boa parte de seus 83 minutos de duração enfocando discussões filosófico-existenciais que não só revelam bastante sobre aqueles personagens como ainda oferecem ao espectador um farto material para reflexão após o fim da sessão.
Adaptado pelos diretores Aleksandr Gornovsky e Karen Shakhnazarov, o roteiro tem início com uma breve história do hospício que abrigará boa parte da narrativa, desde o século 17 até os dias de hoje – e este caráter documental se mantém nas entrevistas com pacientes que revelam para a câmera seus sonhos e aspirações enquanto mal podemos deixar de observar seus dentes invariavelmente apodrecidos. Esta estrutura pseudo-documental, aliás, acaba se revelando apropriada para que os cineastas transponham passagens expositivas feitas pelo narrador, no texto original, para as falas dos personagens, que confessam, sem aparente receio, os absurdos que cometeram no passado ou a inveja que sentem de determinado indivíduo.
É claro que, pontualmente, Enfermaria No. 6 abandona sua estrutura para adotar uma narrativa ficcional mais convencional, quando a câmera se torna invisível para os personagens e a montagem assume um caráter clássico, com cortes, contra-planos e afins – mas se isto soava estranho e artificial em Distrito 9, por exemplo, aqui acaba funcionando por ser empregado apenas em flashbacks, como se estivéssemos assistindo a recriações específicas de determinados incidentes. Da mesma forma, os diretores conseguem estabelecer um forte contraste entre a calma do hospício e do vilarejo no qual este se encontra e o caos sonoro de Moscou, que, quando surge, assusta o espectador com sua natureza de metrópole, fortalecendo nossa impressão de que o que víramos até então poderia perfeitamente ter ocorrido em outra época, não no presente, conferindo uma natureza atemporal à narrativa.
Investindo num conceito que, embora clichê, ainda pode se mostrar bastante eficaz (a sensatez dos “loucos” versus o desajuste dos “sãos”), o filme advoga a importância do pensamento original mesmo que este torne seus autores malquistos para um mundo que parece aplaudir o conformismo e a mentalidade de turba. E é uma pena, portanto, que a forma adotada pelo roteiro para discutir este tema acabe se desgastando mais rapidamente do que o esperado – algo que fica claro no plano final, que surge frustrante por soar como um pensamento mal-acabado. Como o próprio filme, no fim das contas.
Enfermaria No. 6 (Palata No. 6, Rússia, 2009).
Dirigido por Karen Shakhnazarov.
Com: Vladimir Ilyin, Aleksey Vertkov.
Adaptado pelos diretores Aleksandr Gornovsky e Karen Shakhnazarov, o roteiro tem início com uma breve história do hospício que abrigará boa parte da narrativa, desde o século 17 até os dias de hoje – e este caráter documental se mantém nas entrevistas com pacientes que revelam para a câmera seus sonhos e aspirações enquanto mal podemos deixar de observar seus dentes invariavelmente apodrecidos. Esta estrutura pseudo-documental, aliás, acaba se revelando apropriada para que os cineastas transponham passagens expositivas feitas pelo narrador, no texto original, para as falas dos personagens, que confessam, sem aparente receio, os absurdos que cometeram no passado ou a inveja que sentem de determinado indivíduo.
É claro que, pontualmente, Enfermaria No. 6 abandona sua estrutura para adotar uma narrativa ficcional mais convencional, quando a câmera se torna invisível para os personagens e a montagem assume um caráter clássico, com cortes, contra-planos e afins – mas se isto soava estranho e artificial em Distrito 9, por exemplo, aqui acaba funcionando por ser empregado apenas em flashbacks, como se estivéssemos assistindo a recriações específicas de determinados incidentes. Da mesma forma, os diretores conseguem estabelecer um forte contraste entre a calma do hospício e do vilarejo no qual este se encontra e o caos sonoro de Moscou, que, quando surge, assusta o espectador com sua natureza de metrópole, fortalecendo nossa impressão de que o que víramos até então poderia perfeitamente ter ocorrido em outra época, não no presente, conferindo uma natureza atemporal à narrativa.
Investindo num conceito que, embora clichê, ainda pode se mostrar bastante eficaz (a sensatez dos “loucos” versus o desajuste dos “sãos”), o filme advoga a importância do pensamento original mesmo que este torne seus autores malquistos para um mundo que parece aplaudir o conformismo e a mentalidade de turba. E é uma pena, portanto, que a forma adotada pelo roteiro para discutir este tema acabe se desgastando mais rapidamente do que o esperado – algo que fica claro no plano final, que surge frustrante por soar como um pensamento mal-acabado. Como o próprio filme, no fim das contas.
Enfermaria No. 6 (Palata No. 6, Rússia, 2009).
Dirigido por Karen Shakhnazarov.
Com: Vladimir Ilyin, Aleksey Vertkov.
Fonte: Cinema em Cena
Nenhum comentário:
Postar um comentário