Estimulada pela prova de fogo pela qual passei este final de semana e da qual conto daqui a pouco, resolvi compartilhar aqui no blog um autor e um livro que são no mínimo, curiosos. Trata-se do livro “Como falar dos livros que não lemos”, do francês Pierre Bayard. Ôpa, mas meus caros colegas do grupo Palimpsestos podem estar se perguntando:
- “Será que isso significa algo?” Já de antemão dou a minha palavra que nada tem a ver com minha postura diante das leituras propostas pelo grupo, que diga-se de passagem são muito enriquecedoras e tenho lido todas, por completo.
Meu interesse em compartilhar este livro, que ainda não li, vem das questões propostas pelo autor, que lança a seguinte pergunta: o que é a leitura e para que serve? Como fio condutor da história, ele categoriza os livros: os que não lemos, os que folheamos, aqueles dos quais ouvimos falar e os esquecidos.
De acordo com o autor, o passo inicial para o desenvolvimento saudável de um leitor, é descartar a vergonha. Na verdade, todos os tipos de leitura e de não-leitura servem para nos ajudar a entender o mundo, a nos relacionarmos com fragmentos de informação. Como Bayard explica, "a não-leitura não é a ausência de leitura. Ela é uma ação verdadeira, que consiste em se organizar em relação à imensidão de livros, a fim de não se deixar submergir por eles."
Bayard nos lembra que o livro não é ferramenta para angariar cultura ou impressionar os outros, e sim uma forma de encontrar a si mesmo: "O paradoxo da leitura é que o caminho em direção a si mesmo passa pelo livro, mas deve continuar sendo uma passagem. É uma travessia de livros que o bom leitor realiza, sabendo que cada um deles é portador de uma parte dele mesmo e pode lhe abrir um caminho, se tiver a sabedoria de não parar ali."
Nesse momento relato aqui a minha experiência pessoal vivida neste final de semana, em que fui avaliada com relação ao meu desejo de fazer parte do grupo de literatura. Dentre as muitas coisas que ouvi e, creio eu, ficarão guardadas na minha mente, está primeiramente a afirmação de que o conhecimento não é um ponto final e sim uma interrogação. Essas palavras me ajudaram a desmistificar a prática consolidada de que não poderia ir contra o pensamento de um grande filósofo como
Platão,
Aristóteles,
Kant ou
Nietzsche. Porque não, já que o conhecimento é constituído pela alteridade e pelo confronto de ideias? Hoje posso discordar, por exemplo, de Nietzsche e afirmar sem vacilar que Deus está vivo. Acho que é isso que Bayard, coloca quando fala de se despir da vergonha, da incerteza e realmente (inter)agir, perguntar, participar, falar e porque não discordar, já que a intenção não é a de estar certa em tudo, mas de aprender.
Outra questão que me fez pensar, e muito, está relacionada ao fato de ler é colocar em prática a curiosidade, se deixando levar pelo espírito infantil. Aqui vale a metáfora de “engolir” a obra, deixando ela se misturar com a minha essência, para que ao final do processo, eu coloque para fora tudo que aquelas palavras evocaram em mim. E, para que eu deixe transparecer minha visão de mundo e o que me move. Como o autor mesmo coloca, todos os livros que li e os que não li são mensageiros de mim mesma.
O que posso dizer? Estou aprendendo as lições e vou colocando-as em prática. O resultado dessa maratona? Sou membro do grupo e passo a contribuir de forma integral com ele e com o blog. Sejam bem-vindos ao meu mundo!
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Pierre Bayard
Professor de literatura francesa na Universidade de Paris e psicanalista, Pierre Bayard divide seu tempo entre a elaboração de romances, ensaios e reflexões em forma de romances policiais.