quarta-feira, 30 de março de 2011

"O último dia do mundo - Fúria, ruína e razão no grande terremoto de Lisboa de 1755" de Nicholas Shrady

Nestes tempos de terremotos, maremotos e tsunâmis, sempre me recordo de Voltaire (1694-1778) e sua obra Cândido (ou Do Otimismo de 1758), obra aliás já lida no Palimpsestos em 18 de julho de 2009. Nela, polemizou antagonicamente com Leibniz (1646-1716) após o terremoto que devastou Lisboa, sobre a existência ou não de Deus, descortinando um debate que foi muito além disso e de ambos. É interessante como um fenômeno natural pode contrastar em crises e críticas e opor as concepções do mundo da cultura (ou das ciências do espírito) ao mundo natural, colocando em xeque supostas verdades e axiomas defendidos ou sustentados por gente como Leibniz e Voltaire, ambos, sobreviventes ao cataclisma que também foi registrado entre outros por filósofos como Immanuel Kant (1724-1804). A obra mais recente a tratar do tema e desdobramentos que ocorreram em Lisboa, mas que abalaram o mundo, está no minucioso trabalho "O último dia do mundo - Fúria, ruína e razão no grande terremoto de Lisboa de 1755" do jornalista inglês Nicholas Shrady (2011, Objetiva, tradução de Paula Berinson, 288 págs. R$ 39,90). Uma boa pedida para estes tempos, apesar de todo o otimismo que se tenha de um Cândido ou fé leibniziana em um Deus, seja como for no Japão ou em qualquer outro parte do mundo, o caminho e lição é o que se deu em Lisboa: seguir em frente e viver.

Sinopse: "O jornalista Nicholas Shrady revela, em 'O Último Dia do Mundo', que a reação ao desastre natural, mais do que a tragédia em si, é o que provoca fascínio. O terremoto em Portugal, na capital mais católica do continente, abalou as certezas intelectuais e religiosas que na época dominavam a Europa do Iluminismo. Em 'O Último Dia do Mundo', o autor revela como Carvalho fez com que a razão triunfasse sobre o obscurantismo religioso. Assim, enquanto muitos rezavam, ele rapidamente enviou tropas para apagar o fogo, buscar sobreviventes em meio às ruínas e controlar os saqueadores. Lisboa seria reconstruída, e ressurgiria como uma cidade moderna, de ruas largas, com sistemas de esgoto e escoamento adequados."

terça-feira, 29 de março de 2011

"Os filósofos e as máquinas" de Paolo Rossi

A leitura de A invenção de Morel de Adolfo Bioy Casares, sucitou-me no encontro do último dia 19 de março muitas questões... algumas não puderam ser aprofundadas, o que aliás sempre acontece. No caso a questão da relação entre o homem e as máquinas... relação que pode ser considerada, conforme perspectiva ou interpretação, tão antiga quanto o próprio homem. Isto, se compreendermos o conceito de homo faber paralelo ou mesmo anterior ao de homo sapiens que se sapiens era, o era por dominar técnicas, ferramentas e recursos em que pouco à pouco, o situaram à parte no conjunto da natureza, inaugurando seu mundo próprio: o da cultura. O mesmo onde supostamente se crê e afirma-se "superior" ao da própria natureza de onde é originário, e acredito, radicalmente pertencente como um ser e criatura como outra qualquer. Uma obra interessante para pensar essa relação, em particular a partir do período moderno, é a de Paolo Rossi, professor de História da Universidade de Florença: Os filósofos e as máquinas (1989, Cia das Letras, Tradução de Federico Carotti, 183 págs, Esgotado). Leitura valiosa para os interessados nas relações entre disciplinas e áreas na síntese do conhecimento que enquanto tal, não separa teoria e prática, mas o interage e articula em perene dinâmica como é o próprio pensamento humano, às vezes divino.

Sinopse: "O método experimental que caracteriza a ciência moderna não nasce das discussões dos filósofos, mas da prática dos artesãos renascentistas, das observações dos navegadores que descobriram o Novo Mundo, dos tratados que ensinavam a construir fortes militares, extrair e fundir metais, fabricar fogos de artifício, telescópios, bombas hidráulicas. Dos ateliês dos artistas florentinos aos triunfos da Enciclopédia, bíblia iluminista do novo saber científico, Paolo Rossi - um dos mais importantes especialistas da história do pensamento científico da Idade Moderna - reconstrói a ascenção das "artes mecânicas", um saber em eterna disputa seja com o conhecimento livresco seja com as práticas mágicas dos alquimistas. Leonardo da Vinci, Galileu Galilei, Giordano Bruno, Francis Bacon, Pascal, Descartes e Diderot são algumas das personagens desse embate entre o antigo e o moderno, momento de profunda mudança das ideologias."

segunda-feira, 28 de março de 2011

Histórias Fantásticas

A Editora Cosac Naify traz ao público brasileiro a antologia "Histórias Fantásticas" de Bioy Casares, que reúne contos publicados ao longo de toda a sua vida. A obra apresenta quatorze contos em que o fantástico - longe de pertencer à outras esferas - aparece nas situações mais cotidianas da vida humana. A edição de capa dura ainda apresenta um apêndice ao final do livro, com algumas observações e análises sobre os contos, além de algumas fotografias do renomado autor. Embora todos os contos sejam extremamente trabalhos, pode-se destacar três contos, em especial: "Em memória de Paulina", narrativa em que reaparece a questão do simulacro (trabalhada no seu romance "A invenção de Morel"); "Moscas e aranhas" que trabalha de maneira inovadora a temática da "transmissão de pensamentos"; e, por último, "O grande Serafim", talvez o melhor conto da antologia, chegando a ser adaptado para o cinema por José María Ulloque em 1987, que narra um apocalipse ao mesmo tempo triste e banal. A edição pode ser encontrada facilmente nas grandes livrarias brasileiras.

terça-feira, 22 de março de 2011

Caravana Mekukradjá - Literatura Indígena em Movimento...


Idealizada pelo Instituto Uk'a, a Caravana Mekukradjá é uma iniciativa que passará por Manaus (amanhã, 23/03, e também no dia 24/03 ) e depois passará por cidades do litoral de São Paulo promovendo eventos como mesas-redondas e conversas com crianças e jovens para divulgação da literatura produzida por índigenas brasileiros. Esta literatura sendo entendida como uma das formas de resistência das populações remanescentes de indígenas do país. Cabe ressaltar que a Caravana Mekukradjá conta com o apoio da Funarte (Fundação Nacional de Arte), coisa que demonstra haver na esfera política um interesse (ainda que pequeno) em promover atividades dessa natureza. O título do evento vem da língua kayapó e significa sabedoria. Para saber mais, acesse: http://caravanamekukradja.blogspot.com/.

segunda-feira, 21 de março de 2011

"A ilha do Dr. Moreau" de H. G. Wells

Faz tempos que vi a primeira versão adaptada para o cinema da obra A ilha do Dr. Moreau (1896) de Herbert George Wells ou H. G. Wells, mais uma ficção que parece antecipar a realidade de um futuro cada vez mais presente. E tanto mais à medida do avançar do mesmo tempo, onde ficção e realidade, se fundem numa dimensão ou fenômeno, quando não, diluem-se em seus liames e limites. Se a obra literária segue o usual brilhantismo de Wells, autor cujo as obras de ficção, foram amplamente adaptadas pelo cinema. Caso mais conhecido: A guerra dos mundos com várias versões, inclusive encenado numa rádio-novela por Orson Welles na década de 50 do século XX. As duas adaptações mais conhecidas para as telas de A ilha do Dr. Moreau (se não as duas únicas que existem), são díspares por sua qualidade e roteiro adaptado. Particularmente, aprecio mais a primeira versão de 1977 com Burt Lancaster, do que da segunda de 1996, dirigida por John Frankenheimer com Marlon Brando (Dr. Moreau) e Val Kilmer (Montgomery) no elenco. O horizonte de temas e questões implicadas na obra é vasto: eugenia, ciência, biologia, religião, filosofia, ética, psicanálise, sociologia, política, utopia entre outros, configurando a obra como passível de múltiplas categorizações e interpretações no variado sentido em que se pode refletir sobre ela. Decerto que o aspecto que perpassa a obra é sinistro e leva ao limite os poderes do homem e de sua interferência através das técnicas no desenvolvimento científico... o que a clonagem viria trazer à baila novamente no século passado, sendo o homem "criador" da vida ou "aperfeiçoador" desta. Contudo seu fim na história de Wells é a costumeira resposta reafirmando os limites e a precariedade humana. Mesmo quando este, iludido pelas novidades resultantes de sua ciência, o faz crer-se acima e superior da própria natureza à qual sempre será criatura, ainda que acumulando o "poder" da co-criação com seus saberes e intervenções, mais dadas a cópias do que a originalidade da criação genuína e autêntica. Mas o que tem tudo isto com A invenção de Morel de Casares? As muitas semelhanças e conexões a partir da máquina que interfere na constituição de uma realidade que sobrepõe temporalidades e fenômenos, iludindo sentidos, alterando percepções e turvando a consciência de modos e graus variados, além do espaço geográfico, a mesma limitada ilha, no caso, não de Morel, mas de Moreau. Mas o homem, objeto da experiência, é o mesmo.

Sinopse: "Adrift in a dinghy, Edward Prendick, the single survivor from the good ship Lady Vain, is rescued by a vessel carrying a profoundly unusual cargo - a menagerie of savage animals. Tended to recovery by their keeper Montgomery, who gives him dark medicine that tastes of blood, Prendick soon finds himself stranded upon an uncharted island in the Pacific with his rescuer and the beasts. Here, he meets Montgomery’s master, the sinister Dr. Moreau - a brilliant scientist whose notorious experiments in vivisection have caused him to abandon the civilised world. It soon becomes clear he has been developing these experiments - with truly horrific results."

domingo, 20 de março de 2011

"Todas as Musas"


Já estão disponíveis as chamadas para os números 5 e 6 da Revista Todas as Musas. O quinto número de Todas as Musas será publicado em Agosto de 2011. Os artigos podem ser submetidos até 31 de Maio de 2011 (em português, inglês ou espanhol). Haverá um dossiê com trabalhos sobre as representações dos mitos na literatura e nas artes, uma seção de tema aberto e outra de Iniciação Científica, além das resenhas. O sexto número de Todas as Musas será publicado em Fevereiro de 2012. Os artigos podem ser submetidos até 31 de Outubro de 2011 (em português, inglês ou espanhol). Haverá um dossiê com trabalhos de análises intertextuais, uma seção de tema aberto e outra de Iniciação Científica, além das resenhas.

As normas podem ser conferidas em:

sexta-feira, 18 de março de 2011

Cadernos Entrelivros: "Panorama da Literatura Latino Americana"

Vale usar como referência para contextualização os especiais lançados pela Duetto, Cadernos Entrelivros, na finada publicação da revista Entrelivros. Ainda que no caso, haja neste n° 7, dedicado a Literatura Latino Americana, parcas referências a Adolfo Bioy Casares...

Grandes óperas

Para quem gosta de ópera, o jornal Folha de São Paulo lançou a coleção Grandes Óperas com obras de grandes compositores como Mozart, Beethoven, Wagner, Debussy entre outros. Cada ópera é composta de um CD e um livro ilustrado (capa dura revestida em papel couchê) e as obras podem ser adquiridas todos os domingos a R$ 15,90 nas bancas. A última obra da coleção circula no dia 24 de julho. Vale à pena conferir também a qualidade das ilustrações que estão presentes nos livros, que contam a história do compositor e da ópera.
Abaixo você acompanha as óperas e as datas que estarão nas bancas:
Eugene Onegin – Tchaikovisky – 27/03
Lucia di Lammermoor – Donizetti – 03/04
A Valquíria – Wagner – 10/04
Norma – Bellini – 17/04
Tito Manlio – Vivaldi – 24/04
Tosca – Puccini – 01/05
As Bodas de Figaro – Mozart – 08/05
João e Maria – Humperdinck – 15/05
La Gioconda – Ponchielli – 22/05
Aida – Verdi – 29/05
Orfeo – Monteverdi – 05/06
Salomé – Strauss – 12/06
O Elixir do Amor – Donizetti – 19/06
Tristão e Isolda – Wagner – 26/06
Pelléas e Mélisande – Debussy – 03/07
Rinaldo – Haendel – 10/07
Fausto – Gounod – 17/07
Manon – Massenet – 24/07

Óperas que já circularam:
Carmen – Bizet – 13/02
Fidélio – Beethoven – 13/02
O Barbeiro de Sevilha – Rossini – 20/02
A Flauta Mágica – Mozart -06/03
La Bohéme – Puccini – 13/03
O Guarani – Carlos Gomes – 13/03

Diário da Guerra do Porco


 Publicado em 1969, quando Bioy Casares já contava com seus 55 anos de idade, o romance "Diário da Guerra do Porco" narra a história do idoso Isidro Vidal que passa suas tardes jogando cartas e bebendo com seus amigos também idosos, até que uma multidão de rapazes inicia uma revolta nas ruas de Buenos Aires com o objetivo de eliminar todos os velhos da cidade,  uma vez que suas existências e atividades - segundo os revoltosos - lapidam os recursos do Estado. O personagem Vidal e seus amigos - a fim de salvarem suas vidas - começam a viver na clandestinidade, mas a matança e a tortura de idosos por parte da multidão jovem continua nas ruas de Buenos Aires, espalhando medo e insegurança. A Editora Cosac Naify publicou recentemente esse romance, podendo, portanto, ser facilmente encontrado em grandes livrarias.

quarta-feira, 16 de março de 2011

"A invenção de Morel" de Adolfo Bioy Casares

Talvez para um crítico literário e especialista seja fácil, mas para um leitor informal e eclético, mais rigoroso pelas áreas e títulos do que pelas sistematizações, categorizações de gêneros e estilos, dizer exatamente o que seja A invenção de Morel (1940) de Adolfo Bioy Casares, não é tarefa simples.
Mas fácil é estabelecer relações, identificar influências como a de H. G. Wells, e a mais próxima do autor na pessoa de Jorge Luís Borges, simplesmente impossível não perceber... assim como não dar conta da miríade de questões implicadas pela trama, que não exclui entre outras, aproximações com o gênero das distopias futurísticas como "1984" de Orwell ou "Admirável mundo novo" de Huxley. Porém nesta temos a de um futuro-presente-passado que se sobrepõem, inaugurando horizontes para muitas, diversas e inquietantes reflexões... cujo uma das mais: a de que toda a realidade não passe de um amálgama de ficções ou invenções, não necessariamente morelianas, com complexidades continentais impositivas numa injunção que faz náufragos ou deserdados no cotidiano da vida, como o personagem condenado da obra.
A edição mais recente em português saiu pela Cosac Naify (2006, Tradução de Samuel Titan Júnior, 136 págs, R$ 45,00) com prólogo de Borges (assim como na edição da Rocco), mas com o diferencial do excelente pósfácio de Otto Maria Carpeaux.
Sinopse:
"Na trama, o leitor acompanha a trajetória de um homem que, condenado por motivos políticos, foge para uma ilha deserta do Pacífico conhecida por ser foco de uma epidemia letal. Lá encontra máquinas misteriosas e um grupo de turistas, que se diverte sem tomar conhecimento de sua presença. O refugiado apaixona-se por uma das mulheres do grupo e então descobre Morel, inventor de uma máquina de imagens que reproduz realidades passadas."

segunda-feira, 14 de março de 2011

"III Colóquio de Letras da Unesp"

Já estão abertas as inscrições para o III Colóquio da Pós-Graduação em Letras da Unesp/Assis-SP. As inscrições podem ser feitas até 31/03/2011. O evento será realizado no período de 25 a 27 de maio/2011 e a temática estará centrada em torno da própria área de concentração do programa: "Literatura e Vida Social", desdobrando-se em subtemas relacionados às linhas de pesquisa do programa: 1) Arquivos da Memória; 2) Leituras da Modernidade; 3) Poéticas do Texto Literário.
Para maiores informações acesse: www.assis.unesp.br/coloquioletras

ABL - "Gêneros literários: um olhar atual"

A Academia Brasileira de Letras inicia nesta terça, 15 de março, um novo ciclo de conferências sob a direção do acadêmico Ivan Junqueira com o tema: "Gêneros literários: um olhar atual".
Para maiores informações, acesse:

domingo, 13 de março de 2011

Bernd Heinrich Wilhelm von Kleist (1777-1811)

No dia 04/03 teve início o ano de comemoração do bicentenário da morte de Bernd Heinrich Wilhelm von Kleist na Alemanha, mais precisamente em Frankfurt do Oder, cidade natal do autor, onde, em uma sala de concertos local, o governador do estado de Brandemburgo, Matthias Platzeck, e o ministro alemão da Cultura, Bernd Neumann, fizeram um solene discurso.

Ignorado como artista durante a vida, Kleist é hoje aclamado tanto como um dos mais importantes clássicos da literatura e dramaturgia de língua alemã, quanto como pioneiro do Modernismo, devido ao radicalismo de sua obra.

No ano de sua morte Kleist escreveria à prima Marie: "Minha alma está tão ferida que, eu quase diria, quando ponho o nariz para fora da janela, dói-me a luz que brilha sobre ele".

Após inúmeras decepções pessoais e profissionais Kleist opta por cometer suicídio, no entanto, não sozinho. Ele convence uma paciente terminal de câncer, que inclusive era casada e tinha uma filha pequena, a se matar junto com ele. No Kleiner Wannsee, em um frio dia de outono, o casal se mostrava eufórico, e pediu que lhes fossem servidos café e rum à beira do lago. Uma das testemunhas ainda os viu brincando de "pega-pega" ao longo da margem, como duas crianças. A certo ponto, ouviram-se dois tiros. Ajoelhados um diante do outro, Kleist disparara sua pistola contra o peito de Henriette Vogel, antes de atirar na própria boca. O casal foi enterrado no local mesmo do ato último, já que os costumes da época vedavam terminantemente aos suicidas o sepultamento em campo santo.

Algumas de suas maiores obras são O Jarro Quebrado (Der zerbrochne Krug), Pentesiléia (Penthesilea), Michael Kohlhaas, A Marquesa de O... (Die Marquise Von O...), as quais exerceram grande influência em Franz Kafka e muitos outros.

"Byorges"

"Byorges": assim apelidaram a amizade entre Adolfo Bioy Casares (1914-1999) e Jorge Luis Borges (1899-1986), autores argentinos que se conheceram em 1932, na casa de Victoria Ocampo, para formar uma das mais criativas parcerias literárias.
A produção literária resultante dessa parceria (sob o pseudônimo de H. Bustos Domecq) gerou cerca de 6 obras de contos e crônicas, versando inusitados temas e estilos como Los orilleros / El paraíso de los creyentes, estes, roteiros cinematográficos, em Buenos Aires, 1955. E também Un modelo para la muerte (sob pseudônimo de B. Suárez Lynch), em Buenos Aires, 1946.
A quem diga que a obra máxima de Casares, A invenção de Morel (1940), contou com bem mais do que o apoio moral e das palavras no prólogo feito por Borges... mas isto, deve ser parte natural de uma afinidade que não compromete a obra, e comprova a maestria na simbiose dos autores numa feliz e produtiva amizade.

Emília Galotti - Gotthold Ephraim Lessing

Gotthold Ephraim Lessing (1729-1781), poeta, dramaturgo, filósofo e crítico de arte alemão, é considerado um dos maiores representantes do Iluminismo (Aufklärung) na Alemanha e o fundador da dramaturgia alemã moderna.

Emília Galotti (título original: Emilia Galotti. Ein Trauerspiel in fünf Aufzügen) é uma peça trágica publicada em 1772. Apesar de se poder entender a obra como uma trágica história de amor, ela pode ainda ser vista em sua dimensão política e social, uma vez que contém uma denúncia contra a opressão e o abuso de poder, a corrupção e o sistema de privilégios, o absolutismo e a falta de liberdade que permeavam a realidade da Alemanha no século XVIII. Emília é a porta-voz da classe média (burguesia), cujos sentimentos e direitos civis são vitimados pela prepotência e luxúria dos nobres. Em conformidade com os ideais da Aufklärung, a peça defende valores como o respeito à individualidade, a igualdade entre todos, o direito à justiça. É possível também observar nesta obra uma contribuição decisiva ao estabelecimento do teatro alemão, enquanto estandarte de uma nova concepção estética. Em uma época em que a Alemanha sofria grande influência do modelo francês neoclássico, Lessing propôs-se a criar uma forma de tragédia que não fosse submissa ao modelo francês. Criou, assim, o conceito de “tragédia burguesa”, concepção que pretendia tornar o teatro um reflexo vivo do seu momento histórico e de sua realidade político-social. Ela se diferencia da tragédia da Antiguidade exatamente pela ambientação no meio social da classe burguesa e por ter em seu centro um conflito trágico marcado por esse ambiente social. As bases lançadas por Lessing forneceram impulsos decisivos aos dramaturgos do Sturm und Drang (Schiller, Goethe, Lenz) e gerações posteriores (Kleist, Hebbel, Hauptmann etc.)

Uma obra excelente, que mostra também a influência de Shakespeare – o qual Lessing admirava profundamente – sem perder, contudo, a grande originalidade.

Sinópse:

A história se desenrola em torno de Emília, cuja beleza desperta a paixão do príncipe Hetorre Gonzaga, o qual tem por hábito realizar seus desejos e caprichos sem restrições. Por conta desta paixão, o príncipe resolve interpor-se entre Emília e seu Noivo, o Conde Appiani, logo antes do matrimônio, elaborando planos, com a ajuda de seu camareiro Marinelli, para alcançar o seu objetivo.

Nota: Este texto foi elaborado a partir, principalmente, da introdução de Karin Volobuef, que traduziu a obra publicada pela Editora Hedra em 2010.

"A literatura hispano-americana" de Jacques Joset

Em "A literatura hispano-americana", de Jacques Joset pela Série "Universidade Hoje" (1987, Martins Fontes, 106 págs, Esgotado), um brevíssimo, mas eficiente e satisfatório trabalho sobre a rica literatura hispano-americana. Com 5 capítulos, a obra aborda com clareza e objetividade sintética os períodos culturais literários que começam na conquista até fins do século XX. Com abordagem nos variados aspectos e área da vida cultural americano, Joset realiza um eficiente exercício de contextualização, realçando a literatura hispano-americana, uma das mais importantes do conjunto da literatura universal.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Fome

Nascido em 4 de agosto de 1859, na cidade norueguesa de Lom, Knut Hamsun publicou seu primeiro livro aos 18 anos de idade. Embora não tenha recebido educação formal, Hamsun adquiriu uma vasta cultura através de visitas à biblioteca de um amigo. O autor começou a ser aplaudido pela crítica com a publicação de seu romance "Fome" (Sult, no original) que narra as peripécias de um jovem escritor pobre que vaga pela cidade de Christiania (atualmente Oslo) procurando emprego, passando fome e meditando sobre sua condição. Mesmo com aspecto miserável e sem posse alguma - a não ser um toco de lápis -, o jovem mantém-se imbuído de orgulho e amor-próprio. O enredo é baseado nas experiências do próprio Hamsun que passou pelas mesmas dificuldades, antes de ser literariamente reconhecido. O livro foi adaptado ao cinema pelo diretor dinamarquês Henning Carlsen, em 1966, fazendo com que o ator Per Oscarsson recebesse o prêmio de interpretação no Festival de Cannes. Em 1920, Hamsun foi premiado com o Nobel pelo livro "Os Frutos da Terra", narrativa bucólica de grande lirismo.

Ciclo Comunicação e Cultura

A AFF! Comunicação e Cultura promove, a partir da próxima sexta (13/03), o Ciclo Comunicação e Cultura, uma série de minicursos e seminário sobre a relação entre comunicação e produção de projetos e políticas culturais. Conduzido por especialistas, os minicursos acontecerão no Palácio das Artes, em Belo Horizonte. Estarão disponíveis 40 vagas para os cursos, que serão gratuitos.

"I° Concurso Itamaraty de Arte Contemporânea"

"O Ministério das Relações Exteriores recebe, até 25 de março, inscrições para o I Concurso Itamaraty de Arte Contemporânea. Serão concedidos prêmios de até R$ 20 mil, em quatro áreas: pintura, escultura, fotografia e obras em papel.
O artista deve ser brasileiro e só pode inscrever uma obra. Para participar, é preciso enviar para artecontemporanea@itamaraty.gov.br os documentos: ficha de inscrição; currículo, com dez imagens de obras dos últimos dois anos; imagem da obra a ser inscrita (resolução de 300 dpi, em formato JPG ou TIFF); e declaração de autoria e propriedade dessa obra. Outras informações estão disponíveis no http://www.mre.gov.br/ e no edital. O objetivo do concurso é incentivar a produção artística brasileira e ampliar sua divulgação no exterior.
O Itaú Cultural se soma ao Itamaraty nos esforços de difundir a ação."

Produção de Presença: : o que o sentido não consegue transmitir

Um tema recorrente entre muitos amigos acadêmicos trata-se do reducionismo de muitas teses de Mestrado e Doutorado, que se propõem a explicar o mundo através de uma ótica monotemática. Além disso, um ponto de discussão frequente diz respeito de como as monografias devem se alinhar a linhas de pesquisas limitantes, que não abrem espaço para que o tema possa ser tratado de forma ampla e abrangente. Ao que parece, não só nas terras tupiniquins esse vício acadêmico ocorre, mas também nos Estados Unidos, de acordo com o livro “Produção de Presença”, recentemente publicado pelo alemão Hans Ulrich Gumbrecht. Na obra, esse professor da Stanford (EUA) defende que deveria haver um retorno à substância, perdida devido ao tédio contemporâneo, fruto de excessos de discussões teóricas. Como solução para esse mal estar, Gumbrecht propõe a reforma do “pensamento” contemporâneo, de forma a destronar a tradição de que a interpretação é a prática nuclear das Humanidades. Embora apresentado no lastro de uma concepção medieval, esse neossubstancialismo difere na medida em que a representação não se prende a uma ordem retórica e poética, mas sim em uma experiência estética contemporânea que oscila entre efeitos de “presença” e de “sentido”. Gumbrecht se defende de ter arquitetado um “panfleto contra” a interpretação e o sentido em geral, e coloca o seu livro estrategicamente como contribuição marginal à denúncia de que “a dimensão cartesiana não cobre toda a complexidade de nossa existência.” (Caderno Prosa e Verso, 19 de fevereiro de 2011)
   “Ao dizer que qualquer contato humano com as coisas do mundo contém um componente de sentido e um componente de presença, e que a situação da experiência estética é específica, na medida em que nos permite viver esses dois componentes em sua tensão, não pretendo sugerir que o peso relativo dos dois componentes é sempre igual. [...] A dimensão de sentido será sempre predominante quando lemos um texto [...]. Inversamente, acredito que a dimensão da presença predominará sempre que ouvirmos música [...]. Mas penso que a experiência estética – pelo menos em nossa cultura – sempre nos confrontará com a tensão, ou a oscilação, entre presença e sentido.”
Produção de presença: o que o sentido não consegue transmitir
Hans Ulrich Gumbrecht – Tradução Ana Isabel Soares
Contraponto/ PUC Rio

"Dostoiéviski: 1871 a 1881 - O manto do profeta"

No último volume da série biografia, a mais completa sobre o autor russo, Joseph Frank, em "Dostoiéviski: 1871 a 1881 - O manto do profeta", (2008, EDUSP, 952 págs, R$ 140,00), encerra seu inestimável trabalho histórico biográfico, indispensável a todos interessados no autor de "Crime e castigo" entre outros obras que se tornaram clássicos, tanto da literatura russa, quanto a literatura universal.
Sinopse:
"Este é o quinto volume da biografia de Dostoiévski escrita por Joseph Frank, que analisa seus últimos dez anos de vida e seus escritos finais, entre eles 'Os demônios', 'O adolescente', 'Diário de um escritor' e 'Irmãos Karamázov'. Insatisfeito com as interpretações da obra do grande escritor russo, especialmente as abordagens psicológicas ou filosófico-teológicas, Frank se propôs a estudar a biografia do escritor ao mesmo tempo em que escrevia uma história condensada da cultura russa do século XIX, cujo centro era ocupado por Dostoiévski. Neste volume, a ênfase está na relação pouco estudada entre os romances dos anos 1870 e as doutrinas do Populismo russo. O livro compreende o período após o retorno do escritor à Rússia, seu trabalho como redator de Grajdánin ('O cidadão'), o reconhecimento da crítica, ainda que não unânime, e o grande respeito dos leitores, externado nas homenagens por ocasião de sua morte em 1871."

"História da literatura hispano-americana" de Bella Jozef

Em "História da literatura hispano-americana" de Bella Josef (2005, edUFRJ, 4ª edição revista e ampliada, 420 págs, R$ 42,00) um excelente recurso bibliográfico para enriquecer e aprofundar o contexto da obra de Adolfo Bioy Casares (1914-1999) e o seu "A invenção de Morel" (1940). Obra que leremos no próximo sábado, 19 de março. Um amplo panorama da literatura hispano-americana, contendo os principais autores de todos os países e suas obras, com breves biografias e informações mais relevantes quanto ao estilo, época, sociedade e cultura em áreas e aspectos multidisciplinares.
Sinopse:
"História da literatura hispano-americana, em edição revista e ampliada, oferece uma visão do percurso das letras na América Latina desde suas origens até a pós-modernidade e permite pensar os textos analisados a partir de um lugar livre de idéias preconcebidas, conjugando os saberes que alimentam a reflexão sobre o texto literário.
Com sua bem dosada erudição, é obra dirigida a estudiosos da história das idéias, sociólogos, antropólogos e amplo público leitor. Considerado um clássico desde seu aparecimento, o livro surpreende pela capacidade da autora de indagar e debater idéias e posições teóricas, submetidas a um exame crítico acurado e a um olhar interpretativo preciso e audaz. Constitui contribuição de inestimável valor para o estudo da cultura latino-americana e uma nova ferramenta para sua reformulação crítica."

domingo, 6 de março de 2011

XII Congresso Internacional da Abralic

Já se encontra no site da ABRALIC o informativo sobre o XII Congresso Internacional da Associação Brasileira de Literaturas Comparadas, bem como as informações em torno de seu tema principal, estrutura das atividades, cronograma e valores para inscrição e demais normas para participação. O encontro será de 18 a 22 de julho de 2011 - Curitiba, PR.
Mais informações: www.abralic.org

sexta-feira, 4 de março de 2011

"Dostoiéviski: 1865 a 1871 - Os anos milagrosos"

No 4° volume da biografia de Joseph Frank dedicada ao autor russo, "Dostoiéviski: 1865 a 1871 - Os anos milagrosos" (2003, EDUSP, 664 págs, R$ 130,00), é retratado o período de produção de alguma de suas mais célebres obras, em particular "Crime e Castigo" que o Palimpsestos lerá no próximo mês de abril. Certamente um dos títulos para um excelente aprofundamento no contexto que envolve sua redação e elementos de composição.
Sinopse:

"Neste quarto e penúltimo volume da biografia de Dostoiévski, Joseph Frank ilumina alguns dos mais brilhantes momentos da carreira do romancista russo entre 1865 e 1871, quando publicou as obras-primas 'Crime e Castigo' e 'Os Demônios'. A obra tem como pano de fundo as agitações filosóficas e sociais da Rússia da segunda metade do século XIX. "

quarta-feira, 2 de março de 2011

Adolfo Bioy Casares (1914-1999)



Adolfo Bioy Casares, autor da obra do mês de março - "A invenção de Morel" (1940), - estreou na literatura quando tinha 22 anos, embora depois tenha renegado seus primeiros escritos. Nascido em Buenos Aires (cidade que marcará toda a sua obra), no dia 15 de setembro de 1914, ele veio a falecer na mesma cidade no dia 8 de março de 1999. O autor conquistou a admiração de leitores como Cortázar (que chegou a dizer que gostaria de ser Bioy), Octávio Paz e Otto Maria Carpeaux, além ter ficado conhecido pela parceria com Jorge Luís Borges na década de  1930, quando ajudaram a introduzir as vanguardas na Argentina, junto das irmãs Victoria e Silvina Ocampo, sendo que esta última veio a ser esposa de Bioy Casares. Juntamente com Borges, organizou coletâneas dos melhores contos policiais do mundo, apresentando autores até então desconhecidos, como Akutagawa, por exemplo.

A obra do mês foi traduzida para diversas línguas e inspirou o filme "O ano passado em Marienbad", de Alan Resnais.

Bioy recebeu diversos prêmios, como a Légion d'Honneur da França (1981) e o Prêmio Cervantes (1991). No Brasil, a editora CosacNaify ainda publicou do autor a coletânea de contos "Histórias Fantásticas", o romance "Sonho dos Heróis" e mais recentemente o romance fantástico "Diário da Guerra do Porco".
Para saber mais sobre a obra "A invenção de Morel", clique no link: Adolfo Bioy Casares

terça-feira, 1 de março de 2011

A literatura vista por Zink e Cuenca

 
Acontece amanhã, na Casa Fernando Pessoa, em Lisboa, um debate entre os escritores João Paulo Cuenca (Brasil) e Rui Zink (Portugal), acerca da produção literária atual dos dois países.
João Paulo Cuenca (1978) é carioca e escreveu os romances "Corpo presente" (Planeta, 2003), “O dia Mastroianni” (Caminho, 2008) e “O único final feliz para uma história de amor é um acidente” (Caminho, 2011). Nos últimos anos, tem também colaborado com crônicas semanais para jornais como Tribuna da Imprensa, Jornal do Brasil e O Globo.
Rui Zink (1961) nasceu em Lisboa e é docente no departamento de Estudos Portugueses da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Autor prolífico, seus livros já foram traduzidos para várias línguas e o seu romance “O Destino Turístico” premiado. Em 2009, Zink ocupou a cadeira Hélio e Amélia Pedroso/FLAD na Universidade de Massachussetts Dartmouth.

"9ª edição do Prêmio Portugal Telecom de Literatura 2011"

Estão abertas as incrições para a 9ª edição do Prêmio Portugal Telecom de Literatura, de 1° a 27 deste mês. A premiação contempla obras de autores de língua portuguesa que tenham sido publicados no Brasil entre 1° de janeiro a 31 de dezembro de 2010.
Acesse:

"Stanford Encyclopedia of Philosophy"


Para quem ainda não conhece, trata-se de uma enciclopédia filosófica online razoável, na qual respeitáveis estudiosos escrevem sobre temas de seus domínios de conhecimento. É possível encontrar artigos sobre assuntos específicos e abrangentes, os quais em geral são bem construídos e confiáveis. É escrita em língua inglesa.

http://plato.stanford.edu/