Um tema recorrente entre muitos amigos acadêmicos trata-se do reducionismo de muitas teses de Mestrado e Doutorado, que se propõem a explicar o mundo através de uma ótica monotemática. Além disso, um ponto de discussão frequente diz respeito de como as monografias devem se alinhar a linhas de pesquisas limitantes, que não abrem espaço para que o tema possa ser tratado de forma ampla e abrangente. Ao que parece, não só nas terras tupiniquins esse vício acadêmico ocorre, mas também nos Estados Unidos, de acordo com o livro “Produção de Presença”, recentemente publicado pelo alemão Hans Ulrich Gumbrecht. Na obra, esse professor da Stanford (EUA) defende que deveria haver um retorno à substância, perdida devido ao tédio contemporâneo, fruto de excessos de discussões teóricas. Como solução para esse mal estar, Gumbrecht propõe a reforma do “pensamento” contemporâneo, de forma a destronar a tradição de que a interpretação é a prática nuclear das Humanidades. Embora apresentado no lastro de uma concepção medieval, esse neossubstancialismo difere na medida em que a representação não se prende a uma ordem retórica e poética, mas sim em uma experiência estética contemporânea que oscila entre efeitos de “presença” e de “sentido”. Gumbrecht se defende de ter arquitetado um “panfleto contra” a interpretação e o sentido em geral, e coloca o seu livro estrategicamente como contribuição marginal à denúncia de que “a dimensão cartesiana não cobre toda a complexidade de nossa existência.” (Caderno Prosa e Verso, 19 de fevereiro de 2011)
“Ao dizer que qualquer contato humano com as coisas do mundo contém um componente de sentido e um componente de presença, e que a situação da experiência estética é específica, na medida em que nos permite viver esses dois componentes em sua tensão, não pretendo sugerir que o peso relativo dos dois componentes é sempre igual. [...] A dimensão de sentido será sempre predominante quando lemos um texto [...]. Inversamente, acredito que a dimensão da presença predominará sempre que ouvirmos música [...]. Mas penso que a experiência estética – pelo menos em nossa cultura – sempre nos confrontará com a tensão, ou a oscilação, entre presença e sentido.”
Produção de presença: o que o sentido não consegue transmitir
Hans Ulrich Gumbrecht – Tradução Ana Isabel Soares
Contraponto/ PUC Rio
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