sexta-feira, 5 de março de 2010

"Estranhos sinais de Saturno" de Roberto Piva

A poesia é matéria de difícil classificação ou mesmo, identificação, e isto como nos diz Roberto Piva que na antiguidade, quando os poetas foram "expulsos" por Platão de sua "República" se tornaram (como a própria poesia) "marginais". Contudo, a experiência poética é central na vida das pessoas, mesmo para aqueles que iletrados (embora poetas analfabetos existam e dos bons) e, insensíveis, nunca são e estão sempre impermeáveis às múltiplas expressões que estéticas e éticas, fazem brotar na própria sensibilidade, os versos e imagens da poesia.
A de Roberto Piva certamente suscita este arrebatamento, um desconcerto sinfônico, sincrético e esotérico de complexa arquitetura que dos versos, evoca e implica tudo, traz transtorno e gera perturbações nos encontros inusitados entre o sublime e o burlesco, o absurdo que num jogo e trama une o nada e o impossível com quase oxímoros, sempre em surpreendentes combinações numa miríade de sentidos e relações. De sua lavra, expressa a vasta a radiante cultural deste professor paulista de filosofia e ciências sociais de vida frugal e intensa, pleno conhecedor das literaturas, das tradições e do xamanismo que lhe imanta o verbo aqui sentido na leitura toda própria, pessoal, de parte de seus poemas num cd que acompanha este "Estranhos sinais de Saturno" (2008, Globo, 224 págs., R$ 39,00). É o terceiro (e final) volume da obra reunida pelo Prof° Alcir Pécora em mais que boa hora, embora certa impressão de que seja pouco tanto quanto "tarde demais", pois Piva é poeta margem demais para a marginalidade do centro literário, onde as cifras expulsam as palavras, embora a poesia, vá continuar sempre inestimável à ponto de dispensar espaços e temporalidades. Uma vez que o sua próprio é no inefável, no invisível, nesta perene condição da necessária vida impossível de ser dita ou, final e completamente, explicada.
Sinopse:
"'Estranhos sinais de Saturno', do poeta paulistano Roberto Piva, é o terceiro volume de suas obras completas, organizadas e apresentadas pelo professor da Unicamp Alcir Pécora. Dividido em quatro seções, contém a poesia de Piva produzida do início dos anos 1980 até hoje - traz, assim, o relançamento integral de Ciclones, de 1997; o lançamento do livro inédito que dá título ao volume; um terceiro grupo de 'manifestos' e, por fim, um CD contendo poemas lidos pelo seu autor."

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