Autor dos livros “Diálogos Possíveis” (2008) e “Deus sabe de tudo e não é dedo duro e outras histórias” (2010), Juliano Nery afirma que seu principal objetivo é escrever de forma leve e fácil para que as pessoas mais simples possam entendê-lo. Influenciado pela sua formação jornalística, o escritor se vale da crônica para atingir esse objetivo e, para tanto, seu olhar crítico e sua sensibilidade aguçada são armas eficazes para dar vazão a essa inquietude por escrever. Sem se restringir a fronteiras linguísticas, estão entre seus projetos futuros o lançamento de um romance, um livro de poesias e um livro infantil. Durante um bate-papo bem humorado, o blog Palimpsestos conheceu um pouco mais da vida e da trajetória desse mineiro de São Lourenço.
Palimpsestos: Você se apresenta como “um rapaz latinoamericano, sem dinheiro no bolso”, citando os versos de uma canção de Belchior. Porque você usa essa frase e o que ele tem a ver com a sua literatura, seu trabalho e a sua escrita?
Juliano: Sou fã do Belchior, ele tem muito do que eu almejo como artista, porque eu também enveredo por outras áreas, componho algumas letras de música em parceria com músicos de Juiz de Fora e recentemente atuei no curta-metragem Cachorro Morto, que ganhou o prêmio Incentivo na competitiva regional do Festival Primeiro Plano. O filme é inspirado no conto “Vida e morte na enfermaria dos indigentes”, de Charles Bukowski. Acho que devemos estar mais próximos das pessoas com a arte, eu procuro escrever para quem não é escritor, quero atingir as pessoas que estão no balcão do supermercado, a tia velha da família, é essa minha maior expectativa e acho que em uma medida pequena, tenho conseguido atingir esses objetivos. Acho que o Belchior tem muito disso, as letras dele são muito populares, mas não deixam de ser profundas, ele consegue escrever com simplicidade. Com relação à frase “sou apenas um rapaz latinoamericano, sem dinheiro no bolso”, ela é muito factível para mim. Sou um cara que veio de São Lourenço no sul de Minas, não tenho parentes importantes e acho que isso me contempla perfeitamente, por isso me apropriei da frase, porque faz bastante sentido para mim.
Palimpsestos: Como consegue atingir esse objetivo de fazer com que as pessoas comuns se identifiquem com seu trabalho? Você acha que isso se deve à forma da sua narrativa, aos temas que utiliza ou situações e personagens que cria?
Juliano: Se você tomar como exemplo meu primeiro livro, “Diálogos possíveis”, a construção da linguagem dele é um pouco diferente. Baseado um pouco nessa questão das redes sociais, sites de relacionamento virtual, escrevi-o com uma linguagem bem minimalista, bem simples. Ele é um pouco diferente do que você encontra dentro da Literatura, no entanto, isso não quer dizer que seja um obstáculo, pelo contrário, se torna até uma coisa mais fácil da pessoa ler. É comum as pessoas chegarem para mim e dizer que leram meu livro em duas noites. O segundo livro, “Deus sabe de tudo e não é dedo duro”, é de crônicas que foram feitas para sair no jornal, então penso sempre no meu pai, que é um contumaz leitor de jornal. Comecei escrevendo no Caderno Dois do jornal de Ipatinga, o Vale do Aço e agora estou escrevendo em um portal de Juiz de Fora. A minha idéia é que seja sempre um texto leve, fácil da pessoa ler e que também contemple esse sentimento de mundo comum às pessoas. Por exemplo, seu eu falar da situação dos ônibus, eu quero que a pessoa leia e se projete no texto, senão acho que não faz sentido. Por exemplo, a pessoa tem que se identificar quando coloco no texto que o cobrador pede para dar “um passinho atrás”, ela tem que se sentir contemplada com essas frases, que não são coisas minhas, estão por aí, mas cabe a mim como escritor compilar isso. Acho que é isso que transforma o texto em algo interessante, que faz sentido para a maioria.
Palimpsestos: Qual a influência do jornalismo na sua obra, já que se percebe que você capta a realidade e transforma-a em ficção?
Juliano: Na verdade, acho que estou na esquina entre jornalismo e literatura. Eu quis ser escritor antes de ser jornalista, só que não existe uma formação específica para escritor e o curso de jornalismo foi uma tentativa de aperfeiçoar a escrita. Posso te dizer que o jornalismo não aperfeiçoa a sensibilidade, mas ele consegue contemplar essa parte do código linguístico, de escrever com objetividade, de conseguir moldar isso de forma que seja mais palatável para o leitor. Acho que isso é uma vantagem que o jornalismo me deu. A sensibilidade, acho que já vinha por uma questão de vocação, de vontade, de dom, não sei como chamar isso, mas já era uma coisa que me inquietava antes de fazer o curso de jornalismo.
Palimpsestos: Então você se afasta desses escritores mais prolixos, mais densos como a brasileira Clarice Lispector e de cânones como Joyce e Proust?
Juliano: Eu estou lendo agora a Ilíada, de Homero e é um livro pesado e, com certeza, admiro muito quem consegue fazer isso, mas não é meu caso. Acho que é uma questão de estilo mesmo, não sou muito descritivo, gosto de partir logo para os finalmente, de bater na ferida mesmo. Se fosse um músico, seria de punk rock: três acordes e nem por isso a música deixaria de ser legal. Não precisa ter muito acorde para uma música ser legal, não precisa ter muita página em um livro para ser legal. Acho que as coisas podem dar conta do recado, mas logicamente que para outras coisas, por exemplo, para um Saramago fazer um Evangelho Segundo Jesus Cristo foram necessárias muitas páginas, foi necessária uma densidade maior e isso é muito válido. Tomara que existam outros mil escritores que saibam fazer bem isso, mas não é meu caso, não tenho pretensão de ser assim. Eu acho que minimamente me atende e à minha crítica o que escrevo, mas você não vai encontrar essa densidade e prolixidade, até porque acho que não é uma característica do nosso tempo. As relações hoje em dia são fragmentadas e nossa identidade também. Então o meu leitor não é o mesmo da década de 50, 60, a minha forma de fazer o livro é diferente. Por exemplo, o Homero não escrevia no computador, era tudo manuscrito, não havia internet, Google, etc. Isso influencia até o locus onde eu vivo, as pessoas com as quais me relaciono hoje, é pelo MSN, pelos sites de relacionamento, redes sociais. Produzir um livro hoje em dia é muito mais fácil que na década de 50, é barato e tem milhões de opções de papel, não é complicado fazer isso, mas ao mesmo tempo, você está em uma identidade pulverizada, então como você vai se sobressair no meio de tanta gente? Acho que é através da produção mesmo.
Palimpsestos: Quais são os escritores que mais influenciam sua obra, sua escrita e com os quais você se identifica?
Juliano: Gosto muito do Saramago, do Homero, do Rubem Fonseca, que é especialista no estilo conto e romance policial. Gosto muito do Charles Bukowski e acho que tem até uns traços dele na minha literatura. Gosto do Raduan Nassar e acredito que meu primeiro livro tem traços que eu vejo como similaridade. Gosto do livro Copo de Cólera, admiro também Drummond, os Veríssimos (Érico, Luis Fernando), Cortázar, Borges. Acompanho tudo, leio tudo que cai na minha mão e na verdade estou em busca de um estilo próprio, que é essa coisa rápida, de fácil leitura. Essa é minha ideia, não quero complicar muito isso.
Palimpsestos: Fale um pouco do seu primeiro livro, “Diálogos Possíveis”. Esse título foi inspirado em alguma coisa?
Juliano: Esse livro a princípio tinha a pretensão de ser uma peça teatral, pois são quatro diálogos, não tem cena nenhuma, tudo que acontece sai da boca de dois personagens. Os personagens não têm gênero, idade e não estão situados espaço-temporalmente, geograficamente e nem historicamente. Eles estão soltos, podem ser quatro histórias de um mesmo casal, como podem ser quatro histórias diferentes de outros casais que podem ser homem-mulher, homem-homem, mulher-mulher, isso não está definido. Na verdade, é um exercício mais linguístico e o tema de fundo são as relações afetivas com relação à solidão. O nome Diálogos possíveis tem a ver somente com o que é possível se discutir em um relacionamento. Há sempre duas pessoas discutindo, mas elas nunca vão chegar na ferida, ficam apenas rodeando. Fala sobre solidão a dois, de como às vezes é impossível ultrapassar essa curva do rio.
Palimpsestos: O segundo livro “Deus sabe tudo, mas não é dedo duro e outras histórias” é um livro de crônicas. Fale um pouco sobre ele?
Juliano: Esse livro é uma compilação das minhas crônicas que saíram no jornal Vale do Aço. Sou mito mais cronista do que tudo. Enveredo-me por outras coisas, mas a crônica para mim é um vício. Toda sexta-feira tenho que entregar minha crônica no portal e ela vai ter que sair de qualquer jeito, então tenho que criar algo porque o jornal não pode sair com buraco , o site não pode ficar sem a coluna...
Palimpsestos: Como é essa pressão para escrever, você sempre tem inspiração?
Juliano: Isso é ótimo, eu me eduquei. Presto atenção em tudo, dessa conversa nossa pode sair um texto para a coluna. O que me preocupou essa semana, que vai virar crônica foi o atendimento na cidade. Tive uns três ou quatro dissabores com atendimento em vários lugares diferentes: na farmácia, no consultório médico, na lanchonete, no restaurante. Como no portal escrevo na editoria de cidade, tenho que me amparar com algum tipo de dado e há dois meses saiu uma pesquisa dizendo que o juizforano não se reconhece, por exemplo, ele acha que o juizforano é mal educado, mas quando é perguntado se ele é, diz que não. Então vou falar do problema do atendimento na cidade, característica pela prestação de serviços, com essa falta de reconhecimento do juizforano. Por exemplo, o título provisório do texto, que ainda nem escrevi é “Em que posso ajudar?”.
Palimpsestos: Fala um pouco da sua trajetória, sua vinda para Juiz de Fora e como você concilia a escrita com seu trabalho atualmente?
Juliano: A vinda para cá foi um divisor de águas. Sou de família simples em São Lourenço, filho de motorista com professora primária. Em 1998, com 17 anos passei por uma crise existencial e me perguntava o que ia fazer da minha vida. Na época eu já escrevia, mas não sabia que escrevia... Eu já tinha essa sensibilidade, mas não levava isso à frente, nunca pensei nisso. Envolvido nessas crises existenciais características da juventude, comecei a virar um “rato” de biblioteca em São Lourenço. Então vi que o curso de Jornalismo era o que queria fazer. Mas vim para cá só em 2002, depois da terceira tentativa no vestibular, em paralelo a isso, descobri em 1999 que queria ser escritor e tinha que dar vazão a essa crise. Então comecei a escrever, escrever, escrever... Escrevia de tudo, romances, histórias... Logicamente isso tudo foi queimado na fogueira (risos), mas é necessário. Acho que nem tudo que se faz é para publicar, isso é uma liberdade que o artista tem que ter. Já viu quando esses famosos morrem e aí acham o baú do cara e divulgam tudo? Isso devia ser proibido! (risos) Se o cara não publicou, ele tem que ter esse direito. Falando do meu trabalho, essa coisa que a gente tem que ganhar dinheiro para sobreviver e cumprir o duro dever, isso a gente sabe que não tem liberdade. Seja liberdade editorial dentro dos veículos de imprensa, seja dentro da empresa que você trabalha com comunicação empresarial. Ali você tem que cumprir um papel, como lecionar, ser assessor de imprensa, de relacionamentos com partes interessadas que é o meu caso atualmente. Tenho que cumprir esses papéis, então ali não cabe críticas, tenho que cumprir meu dever, sob pena de não cumprir bem ou tiver críticas muito severas eu tenho que sair dali. Só que eu preciso ganhar dinheiro, preciso trabalhar e não tenho como abdicar disso. Tenho que pagar as contas, as contas do meu filho de seis anos, então sou eu comigo mesmo. Minha vida na verdade é esse misto, diametralmente oposto: “é tudo ao mesmo tempo agora”. É até uma expressão de uma música dos Titãs que resume bem o que sou, tenho que trabalhar, escrever livros, cuidar de menino, sair com as namoradas, jogar futebol, malhar, tenho que fazer tudo. Levo minha vida como se fosse uma boiada, sou o pastor e quando algum gado vai para trás, por exemplo, o gado “acadêmico”, dou uma reiada nele para ir para frente (risos).
Palimpsestos: Você falou que tem que escrever, como se fosse uma necessidade imperativa. Fale um pouco disso?
Juliano: É uma necessidade minha. Não é algo formal, mas é o entendimento de uma missão, não algo divino, mas uma coisa que entendi durante essa crise da “lira dos 20 anos” que tenho que escrever para ficar bem comigo mesmo. Eu preciso despejar como o trânsito de Juiz de Fora está uma porcaria, e eu tenho minha meia dúzia de leitores. (risos). Eu tenho necessidade de que isso seja levado a cabo, a única regra que eu coloquei para mim é que eu não vou pagar para isso, não vou tirar do meu bolso para escrever. Tenho que arrumar uma forma, por exemplo, o primeiro livro foi pela lei de incentivo, o segundo eu consegui patrocínio com os beneméritos da literatura, mas os ‘mecenas’ não quiseram aparecer para não “sujar” minha capa (mais risos).
Palimpsestos: Então você não escreve só crônicas, mas se envereda pelos romances também?
Juliano: Eu não costumo colocar fronteiras, meu novo projeto literário, por exemplo, é um livro de poesias que critica a poesia. O romance já é coisa do passado para mim, escrevi o ano passado e só deve sair em 2011, pela Lei Murilo Mendes. O projeto que está me ocupando agora é esse livro de poesias, que estou escrevendo agora e se for publicado, deve ser daqui uns dois anos. Tem um nome provisório, mas ainda não posso divulgar, mas o significado é que estou cansado desses pseudo-poetas, então as rimas vão ser bem pobres, vai ser feito em papel jornal, capa mole, brochura, tiragem limitada com 300 exemplares. Vai ser feito em uma noitada e vou lançar, vai ser uma coisa bem suja, uma piada suja! Esse projeto é muito caro para mim, estou muito satisfeito em fazer, sei que ninguém vai financiar isso, mas a grana obtida com a venda desses livros já paga o projeto, que está ficando auto-sustentável. Estou fazendo também um livro infantil, que não deixa de ser uma homenagem ao meu filho. Mas ainda está no comecinho e não posso contar muita coisa ainda.
Palimpsestos: Como seu blog ajuda você a divulgar seu trabalho e se tornar conhecido para um público maior, que não só o daqui de Juiz de Fora?
Juliano: Acho que temos várias pontas na cadeia, uma é escrever livro, outra é fazer texto para site, outra é fazer texto para jornal, escrever no blog. Para o lançamento do próximo livro deve sair meu site que vai ter o blog nele. Principalmente quando você não tem espaço para divulgar suas coisas o blog é fundamental, acho uma ferramenta sensacional que te permite escrever o que você quiser. Iniciativas como o Palimpsestos, são um baita sucesso e conseguem interligar várias pessoas, com uma interface supersimples. No caso da literatura, eu tenho umas barreiras porque vocês escrevem sobre literatura e eu faço literatura dentro do blog. É um pouco mais complicado em termos de número de acesso, em termos de mão de obra, por exemplo, eu tenho material para colocar no blog, mas eu tenho que tomar cuidado para não concorrer com o texto que publiquei na semana no portal.
Gostaria de deixar algum recado para o pessoal do Palimpsestos:
A iniciativa é muito legal, existe um nicho para quem gosta de literatura, é menor mas não deixa de existir. Pode não ser o hegemônico, mas está aí para quem quiser. Estamos presos por vontade e que vocês possam dar continuidade a essa vontade. Acho uma das grandes iniciativas em termos de blog!
Blog do autor: http://julianonery.blogspot.com/
7 comentários:
Juliano,
Gostei muito da entrevista. Fiquei particularmente curioso com o livro de "anti-poesia", se é que podemos chamar assim.
Dizer que "rimas pobres" é uma maneira de criticar os "falsos poetas" é, no meu entender, trazer para o centro da discussão valores dos parnasianos, dos modernistas, tensões que deveriam estar superadas.
Mas isso é assunto para outra entrevista.
Abraços!
Oi,Juliano,
gostei de sua entrevista e de seu intento de alcançar as pessoas mais simples através de seus textos, embora, como vc mesmo disse, pra expor certas obras, seja necessária determinada densidade.Contudo, penso que "o como" se faz seja o diferencial pra qualquer coisa. Por exemplo, existem clássicos acessíveis e modernos herméticos e/ou entediantes... Além disso, não se pode ingorar também o contexto de cada obra e autor. Agora, o que me chamou a atenção, aproveitando a fala do Ailton, é: O que vc chama de pseudo-poetas, hoje, em meio a tanto que se escreve como poesia? Há também pseudo-escritores ou pseudo-contistas, não? O que vc chama, enfim, de texto literário? Talvez fique pra outra entrevista...
Abs,
Paulo Tostes.
Caros, Ailton e Paulo,
muito obrigado pelo prestígio com a entrevista. Fico muito contente!
Em relação à "polêmica" envolvendo a poesia e o "pseudismo", informo que minha leitura parte apenas de um leve incômodo, com definições e pessoas que se levam muito a sério... E vejo muita gente se levando a sério por aí... Independentemente de escolas literárias e discussões profundas, o meu novo projeto, vai ser uma grande farra. Coisa de amador, despretensioso e com um fogo amigo. Afinal, todo mundo é poeta.
Concordo com o Paulo, que existe pseudismo por toda parte. Do romance ao conto e passando pela crônica. Quem sabe não sou mais um pseudão...
Não me levo a sério!
Saudações!
A entrevista está muito boa porque as perguntas são superinteligentes e a proposta do Juliano enquanto escritor é maravilhosa. E o que se pode ponderar dessas pessoas que escrevem é que elas se arremessam a uma dimensão de soberba e emburrecem à beça com isso. Muito bom o bate-papo.
Juliano,
Valeu pelas respostas ao Ailton e Paulo, pode saber que sou mais uma na sua meia dúzia de leitores... Adoro seu jeito despretensioso, faz bem para alma! Abraços!
Oi Juliano,
Em primeiro lugar queria dizer que achei muito legal ter sua entrevista e resposta aqui no nosso blog e, lendo o que falava, fiquei com uma curiosidade.
Considerando o que disse lá na quarta pergunta sobre a atual fragmentação das relações e das identidades, pergunto como é possível construir um texto que atinja a um público amplo, a um leitor comum, sem criar ao mesmo tempo um texto igualmente fragmentado?
Fico pensando em escritores, como o próprio Borges, que você citou, e outros que diziam que escreveriam ainda que não houvesse ninguém que os lesse e o quanto a proposta de escrever para um público específico não acaba por circunscrever a literatura àquele público ou datar a literatura, sabe?! Não é uma provocação, mas é que constuma me rondar uma idéia de que há algo nesse sentimento do mundo, ou num Zeitgeist, para mudar um pouco a idéia, que escapa à leitura cotidiana e voltada para o cotidiano e só se alcança mirando outro tempo ou outras formas de ver as coisas. Imagino que quando um escritor alcança isso temos aqueles casos em que o que foi escrito permanece atual, perene.
Fiquei curiosa em saber o que pensa sobre isso, tendo em vista sua formação e esses compromissos com textos que têm data certa para estarem prontos, já que isso parece ser um dos grandes desafios daqueles que não podem viver só dos direitos autorais, né.
Parabéns pelos trabalhos e boa sorte nos novos projetos!!
Abraço,
Agradeço as Carolinas pelos comentários elogiosos e respondo ao questionamento da Cintia, ou pelo menos tentarei:
Realmente, a noção de totalidade e a fragmentação da identidade são entes que se contradizem na produção cultural. Em termos mercadológicos, a tentativa é atingir uma segmentação.
No entanto, quando escrevo, não penso diretamente num público-alvo, com faixa etária, renda per capita definida, crença ou preferência. Tento fazer um lance sincero, buscando com que as pessoas, sejam elas quem forem, possam se projetar no que escrevo. E se eu conseguir que meia dúzia de pessoas se identifiquem (sete pessoas, agora, com a Carolina rs), já me dou por satisfeito.
Da mesma forma que existem escolhas nesta identidade fragmentada que podem nos afastar, existe muito de pertença, do que é nato ao ser humano. Tento atingir esse senso comum.
Daí, a ter sucesso nesta empreita, vai muito coisa...
Saudações e mto obrigado!!
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