"Nessa espécie de romance de cavalaria às avessas, Italo Calvino põe em marcha toda a sua habilidade construtiva e capacidade alegórica, mas também a sua verve humorística, para contar as aventuras e desventuras de Agilulfo Emo Bertrandino dos Guildiverni e dos Altri de Corbentraz e Sura, o cavaleiro inexistente da corte de Carlos Magno. Circundado por uma galeria de personagens que compõem um verdadeiro exército brancaleônico, Agilulfo serve com fé a causa da Cristandade. De permeio, tem de lidar com uma querela em torno de sua nobre reputação, espelhada na armadura trazida sempre imaculadamente alva, embora paradoxalmente vazia. Como nos demais romances da trilogia Nossos antepassados, Calvino mergulha nos tempos heróicos da cavalaria medieval, vistos neste livro em chave burlesca, utilizando como narrador uma freira confinada no convento, cuja penitência é justamente escrever a história desse cavaleiro 'sui generis'. "
sábado, 1 de maio de 2010
"O cavaleiro inexistente" de Ítalo Calvino
O livro lançado originalmente em 1959 de Ítalo Calvino (1923-1985) que temos como "obra do mês" no seu "O cavaleiro inexistente" (1993, Cia das Letras, Trad. Nilson Moulin, 136 págs., R$ 34,00) é parte do conjunto de sua obra que no Brasil, foi editada pela Cia das Letras e, recentemente, ganhou novo tratamento gráfico (particularmente prefiro o anterior). A tradução feita por Moulin é competente e garante a maestria de Calvino nesta que é mais mais uma de sua lavra com a marca e verve irônica, plena de humor num contexto geralmente inóspito que o é a Idade Média, evocando personagens históricos e situações características do imaginário medieval, todos aqui tratados claro, com um anacronismo hilário, mas não menos inteligente. E ainda que seja a obra um romance literário, portanto, dispensado os rigores da historiografia, não deixa de ser válido e interessante ao lê-la, pensarmos também avant la lèttre, neste que é dos mais fascinantes períodos da História que por seu imaginário, continua a povoar nosso pensamento e interesses, caso do próprio Calvino.
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