segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

"Lisbonne", Sophia de Mello Breyner Andresen

O poema "Lisbonne", de Sophia de Mello Breyner Andresen, grafado num banco do Castelo de São Jorge, em Lisboa.
Aqui, a versão completa, em português.

LISBOA

Digo: "Lisboa"
Quando atravesso - vinda do sul - o rio
E a cidade a que chego abre-se como se do seu próprio nome nascesse
Abre-se e ergue-se em sua extensão nocturna
Em seu longo luzir de azul e rio
Em seu corpo amontoado de colinas -
Vejo-a melhor porque a digo
Tudo se mostra melhor porque digo
Tudo mostra melhor o seu estar e a sua carência
Porque digo
Lisboa com seu nome de ser e de não-ser
Com seus meandros de espanto insónia e lata
E seu secreto rebrilhar de coisa de teatro
Seu conivente sorrir de intriga e máscara
Enquanto o largo mar a Ocidente se dilata
Lisboa oscilando como uma grande barca
Lisboa cruelmente construída ao longo da sua própria ausência
Digo o nome da cidade
- Digo para ver

2 comentários:

Ailton Augusto disse...

Cíntia,

muito bacana!!! Pesquisando mais sobre a Sophia, encontrei um poema lindo sobre a Revolução dos Cravos:

25 de Abril

Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo

Cíntia Marcellos disse...

Oi Aílton, valeu pela dica. Estou adorando passear pela obra de Sophia; a produção dela é muito interessante e tem coisas belíssimas!