No dia 1º de novembro de 1755, Lisboa foi atingida por um forte tremor de terra resultando na destruição quase completa da cidade. O sismo atingiu ainda grande parte do litoral do Algarve e há relatos de que ele foi sentido em outras partes da Europa, como França, Holanda e Grã Bretanha. Foi um dos terremotos mais danosos História, com mais de dez mil mortes estimadas, e os geólogos modernos supõem que o sismo de 1755 atingiu a magnitude 9 na Escala Richter.
A Literatura, como instrumento privilegiado para representação da realidade, não tardou a apropriar-se do acontecimento. Quatro anos depois do ocorrido, no Cândido (que discutimos este mês), Voltaire inclui uma descrição em cores fortes do fenômeno. Como era de se imaginar, o escritor francês pretendia com ela confrontar as teorias de Leibniz. Afinal, como um mundo que se "rebela" e destrói os construtos humanos pode ser o melhor possível? Vejamos a descrição que ele faz:
"Mal entravam na cidade, chorando a morte do benfeitor, quando sentem o solo tremer sob os seus pés; o mar, furioso, galga o porto e despedaça os navios que ali me acham ancorados. Turbilhões de chama e cinza cobrem as ruas e praças públicas; as casas desabam; abatem-se os tetos sobre os alicerces que se abalam; trinta mil habitantes são esmagados sob as ruínas. Assobiando e praguejando, dizia consigo o marinheiro: — Muito há que aproveitar aqui. — Qual poderá ser a razão suficiente deste fenômeno? — indagava Pangloss."
Em 1769 era a vez do brasileiro José Basílio da Gama se utilizar do terremoto em seu poema narrativo "O Uraguai". No canto Terceiro da obra, por intermédio de encantações, a bela Lindóia vê o espetáculo da reconstrução de Lisboa pelo Marquês de Pombal, após o terremoto. Explica-se: o poema era dedicado ao administrador português, a quem o autor devia alguns favores. Pombal é então retratado como um herói enviado dos céus e a sua atividade é tão digna de louvor que poderia até mesmo consolar a índia que sofria, a quilômetros dali, do outro lado do Atlântico:
A Literatura, como instrumento privilegiado para representação da realidade, não tardou a apropriar-se do acontecimento. Quatro anos depois do ocorrido, no Cândido (que discutimos este mês), Voltaire inclui uma descrição em cores fortes do fenômeno. Como era de se imaginar, o escritor francês pretendia com ela confrontar as teorias de Leibniz. Afinal, como um mundo que se "rebela" e destrói os construtos humanos pode ser o melhor possível? Vejamos a descrição que ele faz:
"Mal entravam na cidade, chorando a morte do benfeitor, quando sentem o solo tremer sob os seus pés; o mar, furioso, galga o porto e despedaça os navios que ali me acham ancorados. Turbilhões de chama e cinza cobrem as ruas e praças públicas; as casas desabam; abatem-se os tetos sobre os alicerces que se abalam; trinta mil habitantes são esmagados sob as ruínas. Assobiando e praguejando, dizia consigo o marinheiro: — Muito há que aproveitar aqui. — Qual poderá ser a razão suficiente deste fenômeno? — indagava Pangloss."
Em 1769 era a vez do brasileiro José Basílio da Gama se utilizar do terremoto em seu poema narrativo "O Uraguai". No canto Terceiro da obra, por intermédio de encantações, a bela Lindóia vê o espetáculo da reconstrução de Lisboa pelo Marquês de Pombal, após o terremoto. Explica-se: o poema era dedicado ao administrador português, a quem o autor devia alguns favores. Pombal é então retratado como um herói enviado dos céus e a sua atividade é tão digna de louvor que poderia até mesmo consolar a índia que sofria, a quilômetros dali, do outro lado do Atlântico:
"Não de outra sorte à tímida Lindóia
Aquelas águas fielmente pintam
O rio, a praia o vale e os montes onde
Tinha sido Lisboa; e viu Lisboa
Entre despedaçados edifícios,
Com o solto cabelo descomposto,
Tropeçando em ruínas encostar-se.
Desamparada dos habitadores
A Rainha do Tejo, e solitária,
No meio de sepulcros procurava
Com seus olhos socorro; e com seus olhos
Só descobria de um e de outro lado
Pendentes muros e inclinadas torres.
Vê mais o Luso Atlante, que forceja
Por sustentar o peso desmedido
Nos roxos ombros. Mas do céu sereno
Em branca nuvem Próvida Donzela
Rapidamente desce e lhe apresenta,
De sua mão, Espírito Constante,
Gênio de Alcides, que de negros monstros
Despeja o mundo e enxuga o pranto à pátria."
Como se vê, contra os fatos pode até não haver argumentos. Mas que há distintos olhares e tratamentos, isso há.
Nenhum comentário:
Postar um comentário