Na foto acima e direita: os personagens de Bernardo de Güi e William de Bakersville na adaptação da obra de Umberto Eco "O nome da rosa".
quinta-feira, 15 de outubro de 2009
Livro: entre o dogma e a liberdade
Decerto a relação entre a liberdade que permeia e perpassa a leitura dos livros e os leitores com a religião (seja esta qual for), é das mais tradicionalmente tensas e igualmente exploradas pela literatura e história. Nestas abordagens nem sempre imperam a concórdia e bom entendimento entre as verdades estabelecidas confirmadas pelos hermeneutas, apesar dos esforços dos apologistas e exegetas em todos os tempos. Contudo se paira o dogma que vige entre o inquestionável da palavra nas "Sagradas Escrituras" rechaçando toda e qualquer interpretação que lhe questione ou difira como há também, a presença dele nos cânones de toda e qualquer literatura que por fim, gera inusitada situação de semelhança de ortodoxia entre crentes e leitores.
De todo modo a afirmação de Montaigne "desconfio do homem que só lê e conhece um livro" continua a valer para ambos os casos onde só persiste a univocidade de uma leitura e/ou livro único, coisa típica de leitores limitados ou leituras tendenciosas...
Afinal não será que a leitura de um "As mil e uma noites" não contribui para uma melhor compreensão de um Al Corão? Que dizer então das muitas obras que se inspiram nos profetas do Antigo Testamento ou dos Apóstolos e mesmo da pessoa de Cristo nos Evangelhos? Acaso que será da tradição judaica sem o acervo que compõe a Torá e sua relação as tantas outras obras como o Talmude e o Zohar?
Além disto, acaso, o index librorvm proibitorvm imposto pela igreja medieval mais baniu ou estimulou a leitura das "obras proibidas"?
Talvez nada seja mais "sagrado" junto das Escrituras do que a liberdade dos leitores para, em qualquer livro, redescobrirem que Deus pode, como diz a sabedoria popular, "escrever certo por linhas tortas", como também em todos os gêneros, estilos, culturas, épocas, formas, meios, temas, áreas e possibilidades.
E que por fim não há dogma que justifique e liberdade que não confirme a divindade da palavra, assim como ser a própria literatura, esta também, uma forma de religião da qual a própria religião talvez, não sobreviva.
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