A obra eleita para este mês de março é O Livro do Riso e do Esquecimento, de Milan Kundera. Atualmente as obras do autor são editadas no Brasil pela Companhia das Letras, em seu selo Companhia de Bolso. Conforme se pode ler na sinopse da obra em questão, trata-se do primeiro livro escrito pelo autor em seu exílio francês, iniciado após a invasão soviética à então Tchecoslováquia em 1968. Em termos de estrutura, pode-se falar em uma colagem de instantâneos, de relatos que flagram momentos da vida das personagens para, basicamente, ilustrar uma outra vida que ali se conta: a do próprio autor.
Debaixo de sua fragmentação e descompromisso (aparentes), o texto esconde questões intrigantes. Por exemplo: as lembranças pessoais são, de fato, somente nossas ou são um construto social no qual a interação com os outros tem papel preponderante? O esquecimento decorre da perda/falha da memória ou é apenas a materialização de um processo de apagamento ao qual se foi submetido?
E para além disso: é um livro que nos chama a atenção para o fato de que a memória não é apenas um registro linear e organizado de dados pregressos: há uma dimensão criativa no processo de lembrar-se. E é essa dimensão que o autor parece explorar com competência.
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