"Marco Aurélio nasceu em 121 A.D., filho de Ânio Vero e Domícia Lucila. A família, de raízes espanholas, dera ilustres magistrados a Roma. Educado em casa, por um preceptor, estudou Homero, Hesíodo e os trágicos; aprendeu a música e a dança; recebeu lições de pintura de Diogneto, adepto do estoicismo, e de retórica do erudito Frontão, a quem se ligou por uma afeição respeitosa e duradoura. Aos quinze anos, celebrou noivado com a filha de Cômodo; o casamento, porém não se realizou. Em fevereiro de 138, o imperador Trajano adotou Antonino como filho; a esposa deste, Faustina, era tia de Marco Aurélio, que, ao completar 18 anos, foi nomeado questor e, sendo órfão de pai, foi adotado por Antonino. Trajano faleceu pouco depois e Antonino Pio ascendeu ao trono. No ano seguinte, Marco Aurélio Vero foi eleito cônsul; aos 24 anos desposou Faustina, filha de Antonino, passando, aos poucos, a assumir as responsabilidades do governo, que o sogro lhe ia transferindo. Morrendo Antonino em 161, sucedeu-o no trono, aos 40 anos, com o nome de Marco Aurélio Antonino; adotou, por sua vez, a Lúcio Vero, a quem deu a mão de sua filha Ânia Lucila. Morto o genro, associou ao governo, em 177, seu próprio filho Cômodo, vindo a falecer três anos depois.
Seu reinado não foi tranquilo; perturbaram-no os bárbaros fronteiriços, os partas invadindo a Armênia, os germanos a Récia, o Nórico, a Panônia e chegando até Aquiléia. Enquanto isso, grassava peste na Itália. Seguem-se penosas campanhas para pacificação das fronteiras, contra os marcomanos, os quados, os sármatas, os iáziges. Entrementes, em 175, o legado da Síria, Avídio Cássio, apoiado por Antioquia e Alexandria, proclamou-se imperador, pretextando a morte de Marco Aurélio. Suas próprias legiões o destruíram ao certificar-se do logro. Para demonstrar que não guardava ressentimentos contra quem dera apoio ao impostor, Marco Aurélio empreendeu uma viagem ao Oriente, onde lhe faleceu a esposa; em seguida, visitou a Grécia. Teve, depois, de reprimir novo surto de expansão do cristianismo, em 177, e teve distúrbios na Germânia. No acampamento à margem do Savo, na Panônia, contraiu o tifo e morreu.
A despeito de tantas dificuldades, desenvolvera atividade benéfica na administração, amparara os pobres e protegera os intelectuais.
Carecia, evidentemente, de lazeres para a literatura; cultivava, contudo, o hábito pitagórico do exame de consciência diário e o de meditar constantemente os dogmas do catecismo de Epicteto. O fruto dessas reflexões, bem como o registro de fatos e princípios para ulterior meditação, constituem o seu livro, composto em Grego com o título
Tá eis Heautón,
As Notas de Uso Próprio, que os tradutores preferem substituir por
Pensamentos,
Máximas,
Reflexões,
Meditações,
Solilóquios etc., todos nomes que servem, mas nenhum que satisfaça plenamente."
BRUNA, Jaime. Introdução. In: MARCO AURÉLIO.
Meditações. Introdução, tradução e notas de Jaime Bruna. São Paulo: Cultrix, 1989.
* Crédito da imagem:
http://ucrj.com.br/2011/03/marco-aurelio-o-imperador-filosofo/, acesso em 09/12/2011