segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Retrospectiva 2012

Com o encerramento das atividades do Palimpsestos - quanto grupo de leituras exclusivamente - em 2012, as últimas obras lidas em encontros, todos no primeiro semestre deste ano foram:

  1. "Noite na Taverna", de Álvares de Azevedo e "Srta. Bisturi", de Baudelaire – 16/06/2012
  2. "O homem da multidão", de Edgar A. Poe e "O jantar", de Clarice Lispector - 19/05/2012
  3. "Belfagor, o arquidiabo", de Machiavel - 21/04/2012
  4. "A morte em Veneza", de Thomas Mann - 17/03/2012
  5. "O velho e o mar", de Ernest Hemingway - 18/02/2012
  6. "Silogismos da amargura", de Emil Cioran - 21/01/2012
O grupo de leituras foi administrado em seu último ano de atividades por Aílton Augusto e Fabrício Moraes.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

"Belfagor, o Arquidiabo", de Nicolau Maquiavel

Belfagor, o Arquidiabo é o tipo de texto que o senso comum não atribuiria a Nicolau Maquiavel, conhecido quase que exclusivamente por seu O príncipe [de 1513], amado, odiado e comentado por políticos, administradores e demais pessoas que se enfrentam com o manejo do poder em alguma instância.

Não quer isto dizer que contos como o que foi escolhido pelo grupo para leitura agora em abril/2012 não tenham em alguma medida um matiz político, seja pela defesa da liberdade, seja pela crítica à corrupção dos costumes, com a evidente ostentação, por parte da nobreza, de posses que não existem de fato. Outro ponto a destacar é o modo pelo qual o conto demonstra, em certa medida, a visão da sociedade medieval sobre a mulher.

Apesar dessas considerações, acredito que é possível desfrutar da leitura deste conto sem maiores compromissos ideológicos, deixando-se levar pela prosa envolvente de Maquiavel, que nos conta as desventuras de Belfagor, um diabo que é mandado à terra para, como humano, verificar o que é o matrimônio. 

O personagem recebeu essa missão um tanto quanto ingrata após constatarem, no Inferno, que a maioria dos habitantes dali eram homens que, em vida, foram casados. Assumindo a persona de Dom Rodrigo de Castela, o arquidiabo chega a Florença, onde desposa a jovem Honesta. Após o casamento, ela transforma sua vida em uma sucessão de tormentos. Para escapar à esposa e a alguns credores, Rodrigo conta com a ajuda do camponês Giovanni Matteo, a quem promete recompensas mas brinda armadilhas e confusões que se resolvem de modo jocoso ao final da história, que omito para não estragar a surpresa dos leitores.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Nicolau Maquiavel (1469-1527)


Nicolau Maquiavel nasceu e morreu na cidade de Florença, numa época em que a Itália estava longe de existir como o país que conhecemos hoje. Entre a data de seu nascimento (1469) e a de sua morte (1527) o universo cultural europeu sofreu importantes transformações, das quais podemos citar como exemplos as conquistas ultramarinas de Espanha e Portugal, que expandiram as fronteiras do Velho Continente e, ainda, as conquistas renascentistas no campo da arte, arquitetura e humanidades em geral. Estas últimas podiam ser observadas justamente na "Itália" que viu Maquiavel nascer. 

Em consonância com seu local de nascimento e com o momento histórico, o futuro escritor recebeu uma esmerada formação clássica, chegando a escrever em latim já aos doze anos de idade. Em 1498, ele assume a segunda chancelaria de Florença, cargo que ocupará até 1512, quando a dinastia dos Médici é conduzida ao poder. 

Maquiavel esteve, daí por diante, sempre às voltas com com os mecanismos políticos, seja como participante das negociações enquanto esteve no posto de chanceler, seja como "comentarista", nas obras que escreveu posteriormente e que foram majoritariamente dedicadas à política. Em sua atividade pública, ele teve a oportunidade de conhecer vários dirigentes políticos, como Luís XII de França, o Papa Júlio II, o Imperador Maximiliano I, e César Bórgia.

A partir de 1513, quando foi destituído de suas funções públicas e exilado por suspeita de envolvimento numa conspiração contra o governo, passará a dedicar-se à literatura, empregando-se de modo esporádico em algumas empresas diplomáticas isoladas. Data dessa época a composição do seu tratado mais famoso - O príncipe. Embora tenha sido publicado postumamente (1531), o seu conteúdo já era conhecido pois o autor havia recitado partes d'O Princípe nas reuniões intelectuais dos Ortii Oricellari (Jardins de Rucellai), local onde se reunia a Academia Florentina.

A influência do pensamento de Maquiavel extrapolou em muito o campo puramente político. Prova disso é o adjetivo "maquiavélico", presente tanto no discurso erudito, no debate político, quanto na fala do dia-a-dia. É evidente que essa recorrência de uso não indica que todos tenham lido e concordado com os postulados deste autor renascentista, mas não deixa de registrar o quanto ele "penetrou" em nossa cultura.

Outras obras de Maquiavel foram a comédia La Mandragola (A Mandrágora), publicada com êxito em 1524, os tratados Arte della guerra (A Arte da Guerra), de 1519-1520, Discorsi sopra la prime deca di Tito Livio (Discursos sobra a primeira década de Tito Lívio), publicado postumamente em 1531 e as comédias Clizia (escrita por volta de 1524) e Andria e o conto Belfagor, escolhido pelo grupo para ser lido neste mês de abril/2012.

sábado, 3 de março de 2012

"A Morte em Veneza", de Thomas Mann

Consoante à obra A Morte em Veneza, Thomas Mann decide fazer uma viagem à Itália com a esposa e o irmão, em março de 1911 e se instalam em Brioni, uma ilha na costa da Ístria. Todavia, o ambiente demasiado formal no hotel repleto de aristocratas não agrada aos viajantes e, assim, a 26 de Maio, decidem deslocar-se para o Lido perto de Veneza e se hospedam no Hôtel des Bains. E é aí que, de acordo com as palavras do próprio autor "uma série de circunstâncias curiosas e impressões aliadas à busca subsconsciente de algo novo que originasse uma ideia produtiva, conduziram ao desenvolvimento da história de A Morte em Veneza". A princípio, T. Mann imaginou uma história mais convencional e baseada no amor do velho Goethe pela jovem de 17 anos Ulrike von Levetzow, evoluindo depois para um enredo mais ousado, conforme os valores vigentes na época. Ao que consta, cada pormenor do livro traduziu fatos reais, desde os encontros no barco, até aos rumores da cólera. E o mais importante: Tadzio teve um modelo original, o conde Wladyslav Moes que, anos mais tarde confirmaria a exatidão com que Mann descrevera a sua mãe, irmãs e o amigo que regularmente o acompanhavam, recordando ainda que ambos estiveram conscientes de um homem que os observava atentamente. E foi Katia, a esposa de Mann, quem disse que o marido tinha se sentido bastante intrigado durante a estada em Veneza com um rapaz polaco de cerca de dez anos de idade. O modelo físico da outra personagem central da obra, Aschenbach, teria sido o compositor Gustav Mahler, de cuja morte haviam tomado conhecimento em Brioni e por quem Mann nutria sincera admiração.
Sobre a obra, duas questões cruciais se destacam: trata-se A Morte em Veneza de uma canção dionísiaca ou de uma fábula ética? E, em que plano é permitido pensar o amor de Aschenbach por Tadzio?
A primeira questão se relaciona com o fato de esta ser ou não uma obra neoclássica; o elemento apolíneo é detectável, no entanto, quando Aschenbach produz um ensaio na praia usando Tadzio como musa inspiradora, nota-se uma contradição, pois uma ocasião decadente dá origem a um manifesto neoclássico. Considerando-se ainda a permanente oscilação entre o apolíneo e o dionísiaco, pode-se reforçar a ideia de que o neoclassicismo da obra é apenas parcial. No que concerne à segunda questão, atentando num trecho do Fedro de Platão: "A paixão é a nossa sublimação e o nosso desejo será sempre o amor – é esta a nossa vontade e a nossa vergonha", conclui-se que o amor é visto como algo que se deseja mas que dificilmente se atinge e o artista não pode ser digno enquanto seguir o caminho errado, permanecendo um aventureiro dos sentimentos. Thomas Mann afirmou: "nós escritores não podemos ultrapassar o Eu, apenas o podemos desperdiçar em vergonha", ou seja, a vergonha de Aschenbach será a entrega incondicional aos sentidos e, consequentemente, ao não alcance da verdadeira essência do amor. O fim da obra coincide com a morte de Aschenbach que "segue o jovem até ao mistério prometedor", expressão enigmática de uma possível perfeição, ainda por vir...

sexta-feira, 2 de março de 2012

Thomas Mann (1875-1955)


Nascido em 1875, Thomas Mann foi o segundo filho do casal Johann Heinrich Mann e Julia da Silva Bruhns. Sua mãe, como talvez se note pelo nome, era brasileira de ascendência germânica e havia se mudado para a Alemanha com sete anos de idade. 

Seu pai era industrial e senador de certa nomeada e veio a falecer quando o futuro escritor estava com 15 anos de idade. Por essa época sua mãe se desloca para Munique, ao sul do país, onde fixa residência com os filhos mais novos. Ao terminar seus estudos, Thomas Mann começa a trabalhar no escritório de uma firma de seguros desta cidade, passando em seguida para a carreira de jornalista. Como preparação para exercer esta profissão, ele inicia uma série de leituras sobre história, economia, história da arte e literatura, além de frequentar algumas aulas na universidade e no colégio politécnico. Em seguida, viaja para a Itália, onde vive aproximadamente um ano junto de seu irmão Heinrich, mais velho que ele quatro anos.

Sua primeira obra, a coleção de histórias curtas Der kleine Herr Friedemann, veio à luz em 1898. Três anos mais tarde, ele publica a novela Buddenbrooks, que obteve bastante êxito junto aos leitores alemães e que será citada pela Academia Sueca como um dos motivos pelos quais se atribuiu o Prêmio Nobel ao autor.

Casa-se em 1905 com a filha de Alfred Pringsheim, professor da cátedra de Matemática na Universidade de Munique. Ela descendia, por parte de mãe, do afamado jornalista berlinense Ernst e Dohm Hedwig, cuja esposa havia desempenhado um papel importante no processo de emancipação da mulher. O matrimônio lhe deu seis filhos.

Uma de suas mais conhecidas novelas, Der Tod in Venedig [A morte em Veneza, que será lida pelo Palimpsestos neste mês de março] foi publicada em 1913. Junto de Tonio Kroger, publicada originalmente em volume de 1903, essa novela é considerada como exemplar da arte de Thomas Mann neste gênero.

Tendo interrompido seu trabalho em função da Primeira Guerra Mundial, só mais à frente irá dedicar-se à composição daquela que é tida como sua obra máxima: Der Zauberberg [A montanha mágica], publicada em 1924 em dois volumes. Foi laureado com o Prêmio Nobel em 1929.

Em 1933, Thomas Mann muda-se para a Suíça, exilando-se em função da ascensão dos nazistas ao poder, visto que estes promoveram uma forte campanha contra ele. A expatriação formal ocorre em 1936 e já no ano seguinte a Universidade de Bonn priva o escritor do título de doutor honoris causa que lhe havia sido dado, o qual só foi restituído em 1946. Em função desses problemas e da Segunda Guerra Mundial, que eclode em 1939, o escritor passa a viver nos Estados Unidos, de onde se muda em 1953, passando a viver em Zurique (Suiça), local em que vem a falecer dois anos depois.

O autor recebeu ainda outros prêmios literários, como o Goethe Prizes of Weimar (da Alemanha Oriental) e o Prêmio Frankfurt (Alemanha Ocidental), ambos conferidos em 1949. De sua extensa bibliografia, outros títulos que merecem menção são:  Mario und der Zauberer: Ein tragisches Reiseerlebnis (1930), Lotte in Weimar (1939), Joseph und seine Brüder (1933-43) [uma versão de uma história do Antigo Testamento] e Doktor Faustus: Das Leben des deutschen Tonsetzers Adrian Leverkühn, erzählt von einem Freunde (1947)

sábado, 4 de fevereiro de 2012

"O velho e o mar", de Ernest Hemingway

O velho e o mar é uma obra da maturidade de Hemingway, na qual são retomados muitos temas já caros ao escritor. Publicada em 1952, causou tal frisson que rendeu ao seu autor o Pulitzer de 1953 e o Prêmio Nobel de 1954. Os membros da Academia Sueca, responsável pela entrega deste último, assim justificaram a escolha de Hemingway: "por sua maestria na arte de narrar, mais recentemente demonstrada em O velho e o mar, e pela influência que o autor exerceu no estilo contemporâneo". 

No que se refere ao estilo, não podemos deixar de considerar a contribuição de Hemingway à depuração formal da prosa. Tendo exercido por muitos anos a profissão de jornalista, o escritor preferia as frases curtas e diretas, sem muitos complementos ou interpolações. Ao mesmo tempo, tentava potencializar a força das imagens que criava com tão poucas palavras.

Quanto aos temas caros ao escritor e que são retomados nesta novela, estão as grandes aventuras, a superação do ser humano frente à natureza e a defesa de valores morais como a coragem e a honra. Isso talvez fique mais claro quando expusermos um pequeno resumo da obra.

A novela conta a história de Santiago, um velho pescador que está enfrentando um período de má sorte que concretamente se traduz em mais de 80 dias sem pescar nenhum peixe. Este senhor passa a ser evitado pelos outros pescadores, que inclusive começam a duvidar da sua capacidade de ainda exercer a profissão. O único que ainda acredita em Santiago é um jovem que trabalhava com ele como aprendiz, mas que foi obrigado pela família a juntar-se à equipe de outro barco.

É então que Santiago empreende uma ousada viagem até alto-mar para conseguir pegar alguns peixes em sua rede e provar que ainda é capaz. É ali que, longe de todos, enfrenta um enorme desafio que põe à prova suas habilidades e sua força. O velho pescador topa com um marlim gigante, que só pôde ser capturado ao cabo de três dias de esforços, parca alimentação e vários ferimentos nas mãos. 

Porém, Santiago tem de enfrentar outros desafios no caminho de volta à sua aldeia. Tubarões perseguem sua pequena embarcação para comer o peixe que ele havia pescado. As águas salgadas assistem a novo embate, no qual o pescador se vale de todas as ferramentas que possui ou consegue improvisar. Vencido, vê os tubarões levarem toda a carne do peixe, deixando apenas uma enorme carcaça atrelada ao barquinho. 

Em todo caso, esta carcaça é suficiente para mostrar aos outros pescadores o tamanho da coragem de Santiago, que é encontrado desacordado na praia. Levado para casa pelo seu antigo auxiliar, o velho não chega a ver os comentários que fazem a respeito da sua façanha, grande ao ponto de colocá-lo novamente em posição de merecer o respeito de seus pares.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Ernest Hemingway (1899-1961)


Abro o jornal [1] e me vejo na obrigação de postar sobre outro cinquentenário de falecimento, desta vez o do escritor norte-americano Ernest Hemingway, comemorado hoje. Ao contrário de Céline, porém, a quem me referi em postagem feita ontem, Hemingway não se inclui entre os escritores malditos, sendo mesmo considerado um "modelo de escritor moral" [2]. 

Tendo viajado por Europa e África atrás de aventuras, o escritor estadunidense foi testemunha ocular das duas Guerras Mundiais e da Guerra Civil Espanhola. As atrocidades desta última motivaram a publicação do prestigiado romance Por quem os sinos dobram (de 1940) que chegou a ser adaptado para o cinema e tem sido interpretado como o relato de um escritor comprometido/engajado.

O autor foi um dos grandes escritores dos Estados Unidos, com uma obra prolífica, sobretudo contos, que lhe rendeu prêmios de grande valor, destacando-se o Pulitzer de 1953 - pela novela O velho e o mar - e o Prêmio Nobel recebido em 1954. A popularidade de Hemingway pode ser medida, por exemplo, pela comemoração chamada "Hemingway Days", uma série de eventos que ocorre no final do mês de julho - a partir do dia 21, data de nascimento do escritor.

Aqui no país, a obra de Hemingway é editada pela Bertrand Brasil, selo do grupo editorial Record, que mantém em seu catálogo, entre outros, os seguintes títulos: Do outro lado do rio, entre as árvores (336p., R$ 43,00); O sol também se levanta (272p., R$ 39,00) e Adeus às armas (352p., R$ 43,00). 

Referências:

[1] Victor, Fabio. (2011, 2 de julho). Caçada a Hemingway. Folha de São Paulo. Ilustrada, p. E6. 

[2] Fernandez, Alfonso. (2011, 1 de julho). Há meio século morria o escritor Ernest Hemingway.  O Estado de São Paulo [versão eletrônica]. Disponível em: http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,ha-meio-seculo-morria-o-escritor-ernest-hemingway,739405,0.htm

Observação: Postagem feita, originalmente, em 02/07/2011

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

"Silogismos da amargura", de Emil Cioran

Publicado originalmente em 1952, Silogismos da amargura é hoje um dos títulos mais traduzidos de Emil Cioran, ao contrário do que se poderia esperar diante da reação fria que suscitou inicialmente. 

Trata-se de obra que se debruça sobre diversos temas: a linguagem., o tempo, o Ocidente, a religião e a história, entre outros. Apesar do título, não se pode dizer que Cioran tenha escrito silogismos "puros" ou categóricos, visto que falta a boa parte das frases enfeixadas no volume aquela precisão de raciocínio que se espera deste tipo de argumento lógico. Algumas dessas frases, por exemplo, chegam a flertar com a poesia: "Entediar-se é mascar tempo" ou "Todas as águas são cor de afogamento".

Para finalizar, vale destacar o que diz o próprio autor sobre a obra em carta enviada ao tradutor brasileiro [1]: "Estes Silogismos, publicados em 1952, passaram durante muito tempo despercebidos. Desde que apareceram em edição de bolso, seduziram os jovens. Só uma geração desiludida poderia se entusiasmar por uma visão tão negativa da história. Só da história? Da existência em geral. É preciso ter a coragem de reconhecer que a vida não resiste a uma interrogação séria e que é difícil, e mesmo impossível, atribuir um sentido ao que visivelmente não comporta um".

[1] CIORAN, E. Carta ao tradutor, In: CIORAN, E. Silogismos da amargura. Tradução de José Thomaz Brum. Rio de Janeiro: Rocco, 2011

Emil Cioran (1911-1995)


A seguir apresentamos um resumo biográfico sobre o  pensador romeno Emil Cioran, autor da obra do mês. O texto foi retirado do site oficial do filósofo - http://www.cioran.eu/ (site multilíngue)

"O romeno Emil Cioran nasceu no pequeno vilarejo de Rasinari, situado na região da Transilvânia, em 8 de abril de 1911. Segundo filho de um casal de religiosos (seu pai era um cura Ortodoxo e sua mãe, líder da comunidade de religiosas locais), teve uma infância feliz e pacata pelos bosques e campos da região, ao qual, na sua maturidade iria se referir como sendo o "paraíso", e o qual foi forçado a abandonar, logo cedo, para iniciar os estudos em um Liceu na cidade próxima de Sibiu-Hermannstadt. Anos depois, transfere-se para Bucareste, onde ingressa na Faculdade para estudar Filosofia e Letras.

Sua juventude foi marcada basicamente por dois fatos, que repercutiram profundamente em sua vida e obra posteriores. Por um lado, a intensa crise de insônia que o consumiu durante anos a fio, quase chegando a levá-lo ao suicídio - e da qual resultou sua primeira obra, escrita ainda em romeno, Pe Culmile Disperarii ("Nos Cumes do Desespero"). Por outro, seu envolvimento com a Guarda de Ferro, movimento político de extrema direita que defendia a libertação da Romênia e possuía caráter fortemente anti-semita, pelo qual Cioran veio posteriormente a se arrepender de ter-se deixado seduzir.

Em 1937, decide mudar-se para Paris com a intenção inicial de desenvolver uma tese sobre Bergson (que nunca terminou), e acaba por instalar-se lá definitivamente. Após seis livros escritos em romeno e publicados em seu país de origem, Cioran adota então o francês como língua oficial: o Précis de Decomposition ("Breviário de Decomposição"), publicado em 1949 pela Gallimard e marco inaugural de sua conversão lingüística, rende-lhe, dois anos depois, o prêmio Rivarol (tendo no júri nomes ilustres como André Gide e André Maurois), o primeiro e último que aceitou.

Considerado por alguns o maior prosador da língua francesa desde Paul Valéry, e chamado pela crítica, entre outras coisas, de 'pensador crepuscular', 'arauto do pessimismo', 'cínico fervente', 'cavaleiro do mau-humor', Cioran se dedicou a falar sobre os temas que o preocuparam e atormentaram ao longo da vida: a solidão, o tédio, a morte, o sofrimento, o ceticismo e a fé, Deus e o problema do mal. Caminhando nas fronteiras entre a filosofia, a religião, a literatura e a história, deixou uma contundente obra que está em fina sintonia com o itinerário de sua vida, marcada pelo trágico e o irônico, o incompleto e o fragmentário, o paradoxal e o absurdo. Alguns de seus títulos são: Syllogismes de L´amertume ("Silogismos da Amargura"), L´inconvénient D´Être Né ("O Inconveniente de Ter Nascido"), La Chute Dans Le Temps ("A Queda no Tempo"), La Tentation D´Exister ("A Tentação de Existir"), Histoire et Utopie ("História e Utopia") e Ecartèlement ("Despedaçamento"). Cioran faleceu em Paris, no dia 20 de junho de 1995, acometido de Alzheimer."

Além do pequeno resumo acima, recomendamos ainda uma série de cinco pequenos vídeos que estão no Youtube e que formam parte de um documentário dedicado a Cioran, cujos links apresentamos a seguir: